Nas redondezas estavam 2 guardas que vigiam as casas. Estavam aparentemente por ali, mas cheirou-me que estavam à espera de mim para me lançar a ajuda, leia-se facilitação de contacto para desenvolvimento hipotético de negócio. Assim foi. Com um deles no carro, a cheirar a um suor acumulado, dei por mim a conduzir dentro de um musseque pouco iluminado, sob orientações gestuais do meu “agente”. Um serpentear por canas de vedação, pequenas machambas, lixo, árvores, crianças a correr, chegámos à casa do electricista. O meu “agente” vai ver do electricista, mas entra no carro e diz:
- Ele não está aqui…está com a outra mulher…
Arregalei os olhos em silêncio, tentei virar-me para o meu “agente”, sem que ele se apercebesse do meu espanto, mas só o consegui ver pelo canto do olho. Tinha algo para dizer, mas nada me ocorreu para além dum óbvio “AH”. Então nada me saiu da boca, meio aberta pelo espanto, mas ele antecipou-se:
- É que ele tem duas, nunca sei onde está!
- E não fica complicado ter 2 mulheres? – disse eu, pensando que às vezes apenas uma já não é fácil.
- Nada! O que dás a uma tens que dar à outra…
- AH, elas sabem uma da outra? – perguntei eu, na minha inocência europeia monogâmica.
- Claro. Tem é que se saber lidar com a situação. Se se dá bons tecidos/comida a uma tens que dar também à outra, senão vão começar a refilar muito.
- E filhos? Tem das duas? – sabendo de antemão a resposta.
- Pois, se fazes filhos a uma tens que ir logo fazer à outra…senão vais ter problemas sérios!
- E elas têm direito a ter mais do que um marido? – insistindo eu nas modernices europeias de igualdade de direitos
- Nada. Não pode!
- OK. Percebido…parece-me lógico! - e riu-me com a naturalidade de tal situação.
A electricidade, que no fundo foi o motivo para ter e introduzir esta conversa na Tertúlia, já está arranjada…