18 de abril de 2019

Cápsula de viagem


Porquê viajar sem levar a alma na bagagem? Com as emoções presas no ponto de partida, na zona de conforto, muitas vezes o que viaja é apenas a máquina fotográfica e uma mão cheia de comparações. Chovem críticas sobre a forma como é e o que se faz. Muitas vezes num apontar de dedos ou numa gargalhada gratuita sobre qualquer coisa que choque com o hábito enraizado.

É preciso viajar por inteiro. Ser parte dos “outros” por um período de tempo que seja, com a saúde e segurança como bandeiras, pelo menos nos aspectos mais radicais. Que segurança e saúde estarão garantidas na zona de conforto? É bom provar a comida alheia, mesmo que não se goste. É enriquecedor dançar a música para a qual o corpo não esteja calibrado. É desafiante sentir temperaturas para as quais não há roupa no armário lá de casa.

É tão bom auscultar outros mundos, numa tradução de costumes, que vai além da simples correspondência das palavras do dicionário entre duas línguas diferentes. São muitas vezes explicações de costumes que desconhecíamos e que nos vão abrindo o conhecimento.

Onde viajará o barco com a âncora lançada? Quanto muito andará às voltas, ao sabor da maré! Fechados num círculo de referências únicas, que sabemos sobre o que há lá fora? Que susto deve ser quando a porta se abrir e, com a corrente de ar, fizer tombar as verdades absolutas.

Hoje em dia muito se pode viajar na net, explorando outras vizinhanças, mas existem limitantes incontornáveis: os cheiros, a vibração, o clima. E sem isso, a viagem fica seguramente incompleta. Quanto mais se viaja menores devem ser as certezas. Deixemo-nos ir em viagens pelo mundo, dentro do país, na nossa cidade, no caminho casa-trabalho-casa. Todas as viagens permitem-nos absorver muito! O saber ainda não paga imposto, por isso há que aproveitar e aprender o que pode melhorar em nós, bebendo de diversos cálices.

O surpreendente pode acontecer quando, sorridentes, à pergunta sobre de onde somos, tivermos que consultar o passaporte para dar uma resposta formal…

1 de abril de 2019

Onde se dorme

Quantas vezes acordo com a sensação de que fico a dever horas à cama? Ao abrir os olhos, apercebendo-me que já são horas de levantar, a margem de ronha diminui assustadoramente. E como eu gosto de ronha! Gosto mais de ronha do que dormir propriamente, pois posso saboreá-la. Sinto que, no tempo e no espaço, aquele é o momento onde me sinto melhor, completo. Tenho a certeza que não estaria melhor em nenhum outro lugar do mundo. Espreguiço-me para acordar o corpo que nesta altura ainda ronca.

Quando lavo a cara faço diversos planos para que naquela noite me vá deitar mais cedo e dormir mais. Esses planos raramente se implementam e o sono vai acumulando. Os sintomas dessa dívida de sono fazem-se sentir ao longo do dia, com a surpreendente visita dum bocejo, às vezes em momentos inoportunos, a lentidão de reacção e, em casos maiores, a sonolência que por vezes aparece na parte anterior do cérebro. Obrigo-me a reforçar o café e a desejar imenso a minha almofada.

Porquê ficar a dever horas à cama e não regularizar a dita dívida às prestações, com pequenas sestas? Por alguma razão é uma palavra com tantas variantes e com importância secular em várias culturas. Seja a sesta, seja a power nap, a siesta dos espanhóis, o sonegar (um compromisso de descansar de olhos fechados, mas ainda alerta), o cochilo ou o passar pelas brasas…a ideia é única: descanso a meio do dia aumenta a vitalidade no período da tarde. Os médicos recomendam…

Ora vejam exemplos desta estratégia tão sábia, que dei por mim a fotografar, com alguma inveja, confesso. Esta malta certamente não deve horas à cama. Terá a sua situação fiscal de sono regularizada...que bom! Quem precisa dum colchão ou almofada?


 Conforto com “almofadinha” e mãos entre as pernas.


 Sesta e alongamentos da coluna.


 Nem a cadeira partida o demove duma soneca.


 Se não houver espaço para deitar, cochila-se sentado…em equilíbrio...


 À vontade! Dormitório cheio de espaço…


 Enquanto não há clientes para o táxi, passa-se pelas brasas.


 AAahhhh...que bela “caminha”…



Power nap nos transportes. Quem nunca fez?