24 de agosto de 2009

Férias em trabalho ou vice-versa

Vim para Moçambique, é sabido, com duas funções: profissional e lazer. No campo profissional tinha, e tenho, o intuito de fugir do pântano português: trabalhos mal pagos e por tempo indeterminado, mas sempre curto. Como se isto não fosse suficiente há, na minha opinião, uma filosofia de desânimo, em que pouca gente acredita no país e se entrega. Para culminar, e não lhe chamo “cereja no topo do bolo” porque não tem nada de positivo, é a capacidade que o Português, em geral, tem em mal dizer e nada fazer…

Pronto, desabafei!!

Assim, e tentando fazer-me à vida, com a paixão por África envolvida, aqui estou, em Moçambique! Tenho tido algumas conversas, que não se podem chamar entrevistas. Trata-se de sementes, de contactos que, espero, dêem frutos em breve. Além das conversas, tenho vestido o papel de “Hélder” e andado a bater nalgumas portas, a deixar o meu CV. Nesta parte não tenho tido muito sucesso. Talvez por falta de jeito para “espalhar a palavra”, mas também porque as empresas aqui não estão a contractar facilmente, também!!!

Mas nem tudo são espinhos…também há as rosas! E neste país, onde se pode ir à praia praticamente todo o ano, também há que tirar partido do sol, do oceano Índico e do que ele nos põe no prato.

No dia a seguir à chegada houve passeio ao Bilene. Praia a cerca de 2 horas de tempo (expressão comum por estas bandas). Não sei de que poderiam ser as horas senão de tempo, mas vou lá eu combater um hábito popular…

Praia com duas vertentes: lagoa interior, para quem não gosta de ondulação e tubarões; mar aberto, para quem gosta da agitação marítima e nada depressa quando avista uma barbatana de tubarão.

Ao longo destes dias tenho estado por Maputo…e redondezas. Existe uma praia muito próxima, que é a Costa do sol, mas de qualidade duvidosa. Boa apenas para passeios à beira mar. A foto de baixo mostra a praia da Costa do Sol, com a cidade de Maputo ao fundo.

Por isso também é frequente a ida a piscinas, de clubes ou hotéis. Objectivo: “lagartar” ao sol…Relembro que esta é a época fria! É a época em que os locais não costumam ir à praia. Análogamente é aquela altura em que os portugueses vêem, horrorizados, os "bifes" a mergulhar no mar gelado, maravilhados apenas por verem sol. É nestes momentos que compreendo os "bifes"...

No segundo fim-de-semana, a praia escolhida dista de 45 minutos de tempo de Maputo. É a praia da Macaneta que só é acessível através de batelão e a bordo de um 4x4. Um batelão que é movido com um belo motor Mercedes e que leva...até 6 jipes...com muita ginástica e muita fé!

No caminho da praia fomos presenteados com vários símios, em ambiente natural. Uma amostra espontânea de um mini safari…

Quanto ao estômago, que também há que cuidar dele, tem sido bem tratado. Fruta, Laurentinas, chamussas, peixe e camarão. Tudo a preço acessível, fazem os ingredientes para uma alimentação saudável, pelo menos ao paladar. A alimentação de peixinho tem sido tão intensa que, outro dia, tive necessidade de comer carne, nada normal em mim!!

A próxima semana, a contar a partir de amanhã, será preenchida com uma bela viagem, estrada fora. Prevêem-se mil e muitos quilómetros, praia e mato. O destino é Chimoio, no centro de Moçambique….

20 de agosto de 2009

Pelas ruas da cidade

Como já tive oportunidade de dizer: há um mapa das ruas de Maputo. E não só! Há um mapa de ruas dos centros mais importantes de Moçambique e um mapa, a nível nacional, de estradas. Eu sei que sou suspeito mas, além de me alegrar muito a existência de tantos e variados mapas, Moçambique coloca-se assim num país bastante agradável de visitar. Não é que fique mais agradável de visitar por ter mapas. O país é agradável em si, mas o facto de ter mapas agrada e orienta mais quem o visita.

As ruas e avenidas do centro da cidade são muito geométricas, o que ajuda até os mais despistados, desde que tenham o mínimo de orientação para não achar os quarteirões todos iguais. Um dos truques da orientação, é sabido, são as referências. E neste campo reside o teste para o 2º nível de orientação. É que a cidade tem duas frentes de mar, dividindo-se quase em duas. Uma das frentes, virada ao mar, a outra virada para o canal.

Ao longo de ambas as frentes há uma marginal, que percorre a cidade de uma ponta à outra. Marginal que, infelizmente, tenho que dizer, está esquecida. Uma zona tão grande, virada ao mar tão agradável, dá pena que não seja arranjada e reabilitada. Mas…sou apenas um observador, com uma mera opinião…

O centro da cidade é, por sua vez, preenchido por inúmeras avenidas de cruzamentos geométricos. Algumas avenidas, quais aortas do trânsito, fazem a grande distribuição dos veículos. Depois, num rendilhado de outras avenidas, dissipa-se a circulação fazendo com que, quase nunca, se congestione. Para quem não sabe, em Moçambique conduz-se à esquerda, com volante à direita. Há que passar algumas adaptações: querer fazer piscas e ligar o limpa pára-brisas; fazer máximos e accionar o esguicho; querer meter a 1ª mudança e arrancar em 5ª; sentarmo-nos ao volante e irmos buscar o cinto...ao banco do lado; ter tendência para ir para a “faixa certa” e andar muitas vezes em contra-mão; entrar na rotunda no sentido dos ponteiros do relógio…e mesmo assim, dar prioridade à direita! Este factor é universal…

Depois há os nomes das avenidas. Não só vincadas por personalidades africanas, locais ou datas de referências, também há a politica. Aqui não são esquecidos incontornáveis nomes da escola comunista internacional.

17 de agosto de 2009

Ida ao museu

Fui ao museu. O museu de história natural, em Maputo. Um edifício vistoso, bem conservado, numa ponta da cidade. A entrada custa 50 meticais (cerca de 1,3€) e dá direito a uma viagem pela natureza nacional. E, devo dizer, é uma bela surpresa.
Com um símbolo de dimensões consideráveis, dois dentes de marfim e duas cabeças, a entrada é imponente. O museu divide-se em várias partes, incluindo fauna, flora e secção étnica.

Na sala principal somos recebidos por dezenas de animais. Vários episódios da fauna característica Moçambicana, contados por animais embalsamados ou simulados. Viajamos por uma selva, que compacta um conjunto de animais, impossíveis de reunir na realidade. Búfalos, hipopótamos, girafas, tatus, papa-formigas, kudus, rinoceronte, etc…

Temos, por exemplo, a clássica caçada de leoas a um búfalo. Não sendo tão fácil como se possa pensar, representa-se uma das leoas ferida, provocada por uma reacção brusca do búfalo.

Podemos olhar, bem de perto, algumas feras temíveis. Em baixo vemos um cão selvagem, ou “mabeco”. Tem aparência frágil e daria até vontade de fazer umas festinhas, não fosse a sua implacável forma de actuar. Trabalham em matilha e, quando cercam a presa, começam a devorá-la viva! Não se preocupam em matar a presa…isso acontecerá naturalmente, esvaindo-se em sangue, agonizada de dor.


Faz parte do museu, também, uma colecção de embriões de elefantes. É anunciada como sendo a única do mundo! Tentando caracterizar a evolução dos fetos, são apresentadas algumas das fases, sendo 8 delas verdadeiras: embriões conservados em álcool. As restantes…pura simulação.

Com um período de gestação de cerca de 22 meses, estas crias nascem com um peso que começa logo nos 3 dígitos, com cerca de 100 quilos. O período longo de gestação justifica-se, aprendi no museu, por duas razões: em primeiro porque é um animal enorme, e há muito que construir (óbvio); em segundo porque se trata de um herbívoro e, quando nasce, já tem que estar apto a caminhar com os progenitores, atrás de comida.

Depois, no piso superior, somos convidados a viajar por animais mais pequenos, mas nem por isso menos importantes! A incontornável secção dos repteis que nos leva a olhá-los de longe, de esguelha e sempre desconfiados. É que, mesmo dentro de frascos…estes assasinos impõem respeito. Nunca se sabe se algum vai recomeçar a rastejar e atacar-nos.

Conchas, corais, aves e uma enorme colecção de insectos. Arrumados em mesas iluminadas, sente-se o tempo de cativeiro mas, ainda assim, num estado de conservação consideravelmente positivo.
Por fim, um mapa de Moçambique, que é quase 9 vezes o tamanho de Portugal. Nele estão localizados os principais animais de grande porte. No geral vê-se uma maior concentração no centro do país, onde se encontra o famoso Parque Nacional da Gorongosa. Parque sobre o qual, provavelmente, terão reportagem, antes do final do mês, aqui mesmo na Tertúlia. Estejam atentos…

13 de agosto de 2009

Preservativos antípodas

Em todos os mercados comerciais, o nome que se dá aos produtos é essencial... Todos concordamos que o nome, o grafismo, publicidade associada, etc...fazem o produto. E ele ficará na nossa memória mais ou menos tempo, proporcionalmente à sua força de marketing.

Com os preservativos não há excepção, não teria que haver! E...não sei se algum de vocês já reflectiu sobre o nome dos preservativos, mas eu já! Para começar, introduzo-vos aquele que é, até agora, e na minha opinião, o pior nome de preservativos: FAMILY! Péssimo! Pois uma das coisas que se evita, com o uso dum preservativo, é precisamente a family, ou pelo menos a parte da descendência.

Pelo contrário, apresento-vos aquele que, a meu ver, é um excelente nome: Jeito! Produzido na Malásia, mas uma imagem de marca de Moçambique, acho que tem um nome que fica, que se adequa e cativa. Além de todas as ambiguidades que se podem fazer com o nome! É preciso Jeito, sem dúvida! As variantes de jeito são: aromatizado, clássico e manobra. Genial: Jeito de manobra! Imagino o casal, no calor do romance em que um pergunta ao outro: “tens jeito”?

Juntamente com os preservativos vem um panfleto informativo, tão precioso nesta terra, onde a SIDA se propaga a velocidade alucinante…

A informação do folheto é universal. Eu destacaria só o primeiro ponto: “Conversar com a parceira”. Muito positivo…

A verdade meus caros, é que tudo pode estar sob control e a dita durex, poderá haver harmony no casal, mas sem jeito nada feito!!


11 de agosto de 2009

Maputo: Primeiras impressões


Ao fim de 3 dias em Maputo já há impressões, as primeiras, claro, mas há! Serão impressões superficiais, mas sempre baseadas nas observações pessoais...nas voltas que tenho dado.

Em primeiro lugar, vejo uma cidade rendida ao mar, virada a nascente. Somos bafejados, não com o pôr-do-sol ou lua, mas com o nascer dos nossos principais elementos celestes, vindos do mar. À primeira vista, confesso, e estando habituado a estar virado a oeste, é estranho.

A cor dominante de Maputo é o verde. Polvilhada de árvores, a cidade conta com mais de 2600 acácias. A maior parte das ruas e avenidas têm árvores e gozam da sua sombra. Pormenor importante na época de calor! Quanto ao trânsito...é uma maravilha! Se compararmos o trânsito de Luanda com o de Maputo, numa mesma escala...teria que dizer que em Maputo não há trânsito. Sendo, contudo, uma avaliação impossível, diria que o trânsito aqui é muito soft.

Um factor que me tem vindo a surpreender é o turismo! Pois é! Então já se vêem pessoas na rua, de mapa na mão, a bela da máquina fotográfica e aquele ar perdido, tão característico nos turistas. Existe um comboio de passeio em que, por 30 dólares, dá uma volta à cidade, passando por pontos chave.
Em termos de religiões, encontra-se aqui uma grande variedade! Fugindo da regra geral do cristianismo, a religião em Moçambique é muito ampla, dividindo-se em:

- religiões tribais 47,8%;

- cristianismo 38,9%;

- islamismo 13%.

Assim, não admira que, ao percorrer as ruas de Maputo sejamos surpreendidos com várias Igrejas e Mesquitas, convivendo pacificamente. Muitas e vistosas mesquitas. Muitas e peculiares igrejas…



Por fim, o fenómeno “Carocha”. Sim, o Carocha, ou fusca, como é ternamente conhecido. Infelizmente não tenho fotos para suportar a referência. É que movido por uma filosofia que ainda não percebi, já vi mais Carochas bem estimados aqui, em 3 dias, do que em Portugal, em anos! Não sei o que se passará…mas que gostam de estimar Carochas…é uma grande verdade!

9 de agosto de 2009

Paixão antiga...

Conheci-a no ano de 2000, num encontro casual, em Maputo. Era Agosto, eu estava de férias, ela é de cá. De formas robustas, não passou despercebida, não passa a ninguém. As tonalidades amarelas conferiam-lhe a energia necessária para, não só chamar à atenção, como deixar em aberto uma relação promissora. Eu estava relutante. Só sabia o seu nome. Não a conhecia, não tinha referências nenhumas, não sabia no que ia dar!! Foi por isso um passo, talvez em falso, talvez em progressão…mas foi, certamente, um risco. Demos o primeiro beijo e a química revelou-se. Fiquei encantado e ela parecia corresponder. Era fresca, tinha mesmo que ser, e isso agradou-me muito. Hoje, passados 9 anos, vim reencontrá-la, em formas redondas, a mesma energia na cor, a mesma frescura, o maravilhoso sabor…

LAURENTINA, uma cerveja nacional Moçambicana…

4 de agosto de 2009

Despedindo-me de Beja


No último ano e uns meses trabalhei em Beja, leccionando no Politécnico da cidade. Nos últimos 4 meses, por condicionantes de horário, vivi em permanência em terras alentejanas. Deslocação que, à partida me parecia penosa, veio a revelar-se uma experiência positivia...


Para contar mais esta página do meu percurso, ficam várias histórias das terras dos compadres:

Passeios pelo Guadiana, dentro e fora dele.

Em trabalho, acompanhando os alunos, conheci a Topografia subterrânea, feita nas Minas de Neves Corvo. Local onde consegui estar, numa aparente calma, a mais de 500 metros de profundidade.


Visitei a maior central fotovoltaica da Europa, na Amareleja:

Uma prova de que o país não tem sido tão esquecido no interior quanto dizem. O que tem acontecido é uma deslocação da população. Portugueses para as cidades e estrangeiro, enquanto os espanhóis se vão aconchegando no Alentejo! Estranho, não...?

Conheci uma nova modalidade desportiva, com um grupo de malta "5 estrelas", de Beja: Kayak pólo. Amantes do desporto e da boémia, espírito positivo e força de vontade... Belas lições retirei dos treinos...


Na escola aprendi e ensinei bastante. Gostei muito da experiência de leccionar... Infelizmente acabou...

Vim-me embora, debaixo dum calor abrasador, caminhando pela sombra, em silêncio. Na estação: "um bilhete para Lisboa, por favor...". Virou-se uma página, fica pronta outra...por escrever...