Em Moçambique a língua oficial é o português. É ensinada nas escolas e todos os documentos, jornais e televisão a usam. À parte disso existem variadíssimos dialectos pelo país inteiro. São ensinados maioritariamente no seio familiar, pela fala, porque a escrita, muitas vezes, fica esquecida. Digo isto porque eu próprio estou a aprender algumas palavras de Macua (dialecto do norte) e as pessoas têm dificuldade em me dizer como se escreve. Vou lá pela sonoridade. Mas os dialectos persistem, como parte da identidade nacional e distinguido as várias origens, dentro deste enorme país. Persistem e insistem em ocupar o vocábulo aqui usado. Outros exemplos são: machamba (pequena horta); cocuana (pessoas mais velha); machibombo (autocarro).
A esta distância, durante todos estes anos, é normal que o português comece a perder alguma força. Não é esquecida, nem são esquecidas algumas referências a Portugal, mas a língua parece começar a perder força, ou a ganhar transformações. A presença forte da desenvolvida África do Sul introduz, e muito, a necessidade de comunicar em Inglês. O natural nacionalismo e orgulho de cada Moçambicano não deixa morrer os dialectos. E é esta mistura que está, a meu ver, a mudar a linguagem no país. Eu arriscaria a dizer que em breve surgirá um dialecto próprio, bebendo inspiração nesta confusão linguística e histórica! Não se riam…lembram-se do “bué”? Eu era quase proibido de o dizer, porque não era linguagem nenhuma. E agora…vem no dicionário português!
Ora vejamos:
O título deste post é “maningue nice” que, qualquer moçambicano ou pessoa que cá esteja há uns dias sabe o que significa: “muito bom”. Mas “maningue nice” não tem nada de português. Vai beber inspiração a dois locais distintos: o maningue deriva de um dos dialectos do centro do país que usa esta palavra para dizer “muito” e o nice vem, naturalmente, do Inglês.
E é o Inglês que tem tido mais força na mudança de linguagem. Não sei se invadindo ou se sendo facilmente adoptado, mas os termos Ingleses têm sido usados duma forma peculiar salpicando as frases com base portuguesa.
Facilmente ouvem-se frases como:
· - Numa well a curtir a life;
· - To busy no meu office;
· - Logo dá-me um call para o meu phone;
· - Carro com sun roof e bancos em leather.
Mas até aqui estamos no campo dos estrangeirismos, é certo que num campo lamacento de abusos de estrangeirismos, mas…quem não os usa? Agora, há quem os use, há quem deles abuse e ainda quem os transforme. Há frases em que, depois de as ouvirmos, temos que parar para traduzir mentalmente, reorganizar a frase e depois responder. Por isso, o nascimento do dialecto que eu antevejo é a transformação desses termos com base na gramática portuguesa. Que origina algo engraçado, como podem ver na amostra de “dicionário” que se segue:
Exemplos
Ø DJOBAR: trabalhar (adaptando o verbo Job à construção de um verbo)
Ø Vamos playar ali: vamos jogar ali
Ø Faita : luta
Ø TEM BRÓ, BRADA: amigo
Ø BIGUE : musculoso
Como vêem, já há uma espécie de tradução, o que implica que já se assume a existência uma língua! Agora digamos, nesta linguagem: “o teu amigo está muito musculado e luta bem”: O teu brada tá maningue bigue e faita well.
Leiam em voz alta, digam-no a alguém que estiver ao vosso lado…não tem já contornos próprios de dialecto?