28 de março de 2022

Chez mamã Sandra

Com o convite veio também a preocupação de as crianças não gostarem da comida. Nestas idades têm o filtro muito afinado e rejeitam por vezes sem diplomacia. Mas verdade seja dita, conseguem-me surpreender, umas vezes pela negativa, mas outras vezes pela positiva.


Íamos a casa da mamã Sandra jantar e o menu era desconhecido. Pelo sim, pelo não, resolvi dar-lhes jantar antes de irmos, para evitar a indelicadeza de recusar comida em casa da anfitriã.

Quando lá chegamos, a primeira tarefa foi abastecer o porco, que é o primeiro a comer (ou devo dizer triturar?) as sobras que vão saindo da cozinha. Nem deu hipótese ao Leo para uma festinha.



O local aberto, a mesa foi posta ao ar livre e naturalmente circulam patos e galinhas a tentar apanhar sobras pelas redondezas. Uma fauna pouco habitual no nosso 3º andar em Maputo, que gerou alguma estranheza e desconforto na Bia e no Leo. A mamã Sandra tratou logo de lhes ensinar a técnica essencial para terem paz: “deem pontapés aos patos e às galinhas que se aproximem”. Os miúdos ficaram agradecidos com a dica e defendiam-se sempre que abordados pelos bicos curiosos dos animais.





O arroz e o peixe frito foram feitos na cozinha exterior, no fogo, como é característico de muitas casas na zona rural em Moçambique. 


Quando a comida chegou, temi o pior. O peixe vinha bastante frito (longe de estar queimado, mas com cor escura e sem olhos). Além da Bia e do Leo poderem rejeitar a comida, poderiam fazer comentários de repudia que me iriam deixar desconfortável. 

Mas, em dia de me surpreenderem, quiseram provar a comida, primeiro passo de gigante, que me deixou sem fala e muito satisfeito.

O resultado da prova foi a imediata aprovação, de ambos! Comiam o peixe com as mãos para ser mais fácil separar as espinhas, com uma voracidade que costuma estar reservada a ementas especiais. A mamã Sandra instalou um sorriso no seu rosto que transmitia a satisfação de ver a sua comida apreciada…

Repetiam de forma automática assim que os seus pratos ficavam vazios. Eu já não sabia o que dizer, estava sem explicação para tal reacção, mas ajudava-os, removendo espinhas, servindo colheres de arroz. Tivesse eu quatro braços e acho que ainda assim não acompanharia o ritmo deles. Deixei de me servir pois comecei a ver a travessa a ficar vazia e o apetite deles não abrandava.

Em resumo, devoraram o 2º jantar do dia. Eu espantado, a mamã Sandra radiante.


Depois, com energia renovada, ou necessidade de digerir a barriga tão cheia, foi ver o Leo a correr atrás das galinhas e patos, cuja fuga era a sua única opção de conquistar a paz…