18 de fevereiro de 2012

Postais do Vietnam


O Vietnam é um país a voltar, sem dúvida. Prolongar a estadia e explorar mais os seus recantos rurais e culturais. 




Chegámos a Ho-Chi-Min city de autocarro e a primeira observação são as milhares de motas que circulam como abelhas atarefadas nas rotinas da colmeia. Esta cidade, a 2ª do Vietnam, tem 8 milhões de habitantes e tenho a sensação que metade anda de mota! A primeira travessia de uma rua deixou-nos assustados. Como seria possível atravessar um rio contínuo de motas, com largura de 4 metros? Só com jogo de cintura e alguma ousadia conseguimos, mas pareceu-nos uma missão heróica. Não poderá ser assim tão difícil!



E não é. Na primeira noite fui guiado pelo Andreas (amigo de Pemba, agora a viver em Ho-Chi-Min) na sua mota. O caos frenético desvendou-se. Há regras para navegar no trânsito e para atravessá-lo. 




Ponto assente: nenhuma mota vai parar, seja para dar prioridade a outra, seja para deixar o peão atravessar. O segredo está em que ninguém deve parar...tudo anda, tudo se interliga. Ficou claro e o mistério das travessias evaporou-se. 





As motas são tantas que há vários parques espalhados pela cidade, com vários andares! Chega-se ao parque, entrega-se a mota e recebe-se um código. A mota desaparece para ser arrumada e à volta, com o código, recupera-se a mota.





Uma cidade onde o moderno invade o antigo, como cabelo branco afasta a juventude. Edifícios espelhados, centros comerciais, lojas de topo...cenário que não seria de esperar num país que se diz comunista! Mas a tradição já não deve ser o que era...




O que ainda é o que era e sempre será é a delícia da comida de rua. Preparada directamente nos famosos suportes que parecem uma balança andante, paga com dinheiro que é manuseado com as mesmas mãos que a confeccionam e servida ali mesmo, junto dos escapes adormecidos. Uma delícia, pensarão vocês! Sem dúvida, confirmamos nós...






Mais uma passagem de ano com contagem imperceptível, agora em vietnamita! Mas a matemática é universal e não engana...ao zero, estamos no novo ano, altura de se festejar. E mais um motivo para festejar de...?...de mota, claro!





Enfiam-se todos nas suas motas e vão-se empurrando, quentinhos com os escapes dos vizinhos. Atravessámos esta rua, acreditem ou não, com a maior das facilidades, munidos do segredo...




No dia seguinte foi altura para ir visitar o delta do rio Mekong, onde os barcos têm olhos para evitar colisões, onde se vive praticamente em cima de água e a produção prioritária é o arroz.








Mercado flutuante, onde compra e venda se faz ao sabor da corrente.









Vivência de um quotidiano, à beira rio plantado.




Iguarias locais: carne de cobra e uma espécie de tartaruga.









Chegada a fase de aprendizagem, vimos a produção de folha de arroz. A calda é feita de arroz, coco e mais uns segredinhos... As cascas do arroz servem para fazer fogo. 







As folhas a secarem ao sol.





Folha de arroz a ser retalhada em noodles.





Das cascas de arroz fazem também uma espécie de pipocas...






...e aguardente, claro!







Um passeio de barco a remos pelo rio e umas remadelas, para perceber que não é nada fácil...





Nos assuntos gastronómicos, uma palavra: phó, a famosa sopa de noodles do vietnam. Hidratante, saudável, sabor à escolha, nutritiva...BOM!





5 de fevereiro de 2012

Postais de Angkor



Os templos de Angkor são um daqueles sítios cheios de turistas, frenéticos por tirar fotos e que nos dificultam fotografias sem levarmos para casa um parente emprestado! Palco de casamentos, baptizados, cerimónias religiosas e até filmes, é um local constantemente cheio de gente. Pessoas que correm para aqui verem o nascer do sol e que se arrastam para sair depois do pôr do sol. Tem uma cidade que serve de apoio turístico (Siem Riep) com hotéis enormes, uns a seguir aos outros e um aeroporto onde aterram voos internacionais. 






Os templos de Angkor são tudo isso, mas são um ESPANTO! Ou não estaríamos a falar de uma das mais impressionantes obras alguma vez feita pelo ser humano, património mundial da UNESCO desde 1992.



Agora imaginem o espanto de Henri Mahout quando, em meados do século XIX, encontrou, no meio da selva, esta pérola! Diz a lenda que ele descobriu por acaso. Mas cá para mim já lhe cheirava a alguma coisa. Ninguém anda à catanada na mata cerrada por razão nenhuma...


Ao afastar dos ramos  descobriu, imaculada durante séculos, a herança do império Khmer. Há muitas coisas que me impressionam nestes templos, uma delas é a antiguidade e complexidade da construção. As construções começaram no século IX. E no século IX, senhoras e senhores, Portugal estava longe de ser gente. No século IX a península Ibérica era palco de porrada entre cristãos e muçulmanos.


Pormenor de uma das 256 faces esculpidas com sorriso.


Pedra sobre pedra, sem cimento nem cola. Engenharia pura, admirada ainda hoje. Se não experimentem amontoar peças de dominó de maneira a formar um arco e, em cima, colocar mais peças. Agora multipliquem o peso dessas peças para dar centenas de quilos por cada pedra. Tudo isto sem arriscar a queda das pedras. Caso contrário revelam-se uma ameaça fulminante para dezenas de trabalhadores cá em baixo, de corda nas mãos e pescoço cansado.



Não só a estrutura é impressionante, como também os pormenores. Pedra esculpida para deixar escrita a História. Pedra esculpida que quase ganha vida, com sorrisos centenários. Seiscentos anod de uma delicada e meticulosa paciência que só os Asiáticos são capazes.




Infelizmente nalguns templos, o tempo tem vencido a pedra e vários são os sinais. 


Em alguns casos mantém-se uma batalha para aguentar e estrutura.


Noutros casos uma placa com duas singelas palavras dizem-nos tudo!


Outros casos, provando, sempre, que a mãe natureza é dona e rainha, são as raízes centenárias que aguentam a estrutura...



A caça ao dólar, fomentada pela quantidade de turistas, é permanente e, nalguns casos, obscena. Dizem-se coisas como: “Come and see Christmas Buda” por estarmos em período natalício! 



Ou chamam-nos para, com uns pauzinhos de incenso, fazermos promessas e pedirmos desejos. Cerimónia que termina, claro está, orientada pelo suposto monge, numa linguagem quase apenas gestual e uma única palavra: “dolá”!




Resta alguma espiritualidade infiltrada nas pedras para que a Yumi se sentisse inspirada a umas posições de Yoga.


Nos assuntos estomacais trazemos um barbecue saudável. A base da confecção é um instrumento que não consigo descrever bem, apenas compará-lo com um sombrero mexicano achatado.



Primeiro coloca-se uma calda de galinha, vegetais e noodles. Deixa-se ir cozendo. Entretanto grelha-se a carne, que pode variar de lula a crocodilo. Todas as carnes vão deixando cair gordura e sabor na sopa. A carne acompanha-se com vegetais e no final come-se a sopa, cujo sabor teve a contribuição de todos os ingrediente durante a primeira fase da refeição. Tudo regado com vinho tinto...maravilha!


Para relaxar, massagens! Eu diria que há indústrias de massagens de vários tipos. A mais requisitada é aos pés. Depois de se andarem quilómetros no templo, é importante recuperar a base da caminhada. Por 2 dólares temos direito a uma hora de massagem e rejuvenescimento dos pés...



Ou, experiência inédita para ambos, uma "candle massage". Colocam um papel enrolado muito fino pelo ouvido dentro, bem fundo. Na outra extremidade acendem fogo. Começamos a ouvir, de forma muito viva, o crepitar do papel, como um rastilho de bomba a aproximar-se. Tentamos relaxar enquanto vão massajando a cabeça.

No final mostram-nos o grande motivo desta massagem. Com o calor, a cera tende a sair do ouvido e ficar guardada no papel. Quantidades de cera que ninguém acredita ser possível guardar num só ouvido...


Saímos leves, um pouco tontos com tanto ruído, mas limpinhos!