30 de maio de 2020

Velório cocktail



A tua morte foi difícil de digerir. Porque foi repentina e prematura, embora no teu caso fosse sempre prematura. Fiquei com a sensação de que ainda havia muito para falarmos e partilharmos.

Inicialmente, o teu velório foi o cumprir de um mal necessário, mas como último adeus, eu estava lá de corpo e alma. A capela encheu-se de gente, com pessoas que vinham de vários lugares e várias épocas da tua vida que fizeram questão de se despedir.

Eu circulava dentro e fora da capela conforme a disposição me deixava. A dada altura, quando entrei na capela, fiquei estupefacto com o ambiente que se tinha gerado. Imensas pessoas e um ambiente de (quase) festa: gargalhadas, memórias, reencontros. Achei muito estranho, desenquadrado. Por momentos pensei ficar até ofendido, pois aquilo era um velório, não um cocktail de uma qualquer inauguração.

Depois olhei para o teu corpo estendido no caixão no meio da sala. Percebi que o tinhas deixado há muito tempo e que o espírito que ali se vivia era o espirito com guiaste a tua vida: boa disposição, pessoas, vivências. Aí dei por mim a pensar que faltavam ali alguns petiscos e bebidas, como gostavas de receber as pessoas. Eras mais uma vez o anfitrião e de lá, de onde nos estivesses a ver, estarias certamente a apreciar. Aquela era a homenagem certa para o homem certo. Que mais se poderia fazer para assinalar a data? As pessoas estavam de facto a celebrar a tua vida.

Sei que apesar de teres partido fisicamente, viverás em cada lembrança ou inspiração.

É assim que me tens acompanhado nestes quase 2 anos e irás continuar, pois estás tão presente em tantos momentos da minha vida que me é difícil recordar-te pontualmente. Às vezes apetece-me falar contigo, e falo, pois sei que sempre foste um bom ouvinte.

Kanimambo e estamos juntos…