21 de agosto de 2022

Reflexão Urbana

Hoje trago uma reflexão.

Eu ainda não tenho decisão sobre o assunto e a minha opinião tem flutuado ao longo do tempo.

Um dos primeiros impactos que temos na Coreia do Sul são os grandes edifícios de habitação. Geralmente com mais de 20 andares e vários apartamentos por andar, chega-se facilmente a 100 ou 200 casas por edifício. O aspecto, visto de fora, é uma colmeia geométrica que facilmente se classifica com uma única palavra: HORRÍVEL.





 As mudanças de casa nestes edifícios, para não privar os vizinhos de usar os elevadores, nem fazer longas caminhadas pelas escadas com móveis às costas, fazem-se por elevadores exteriores. A grua gigante leva mobílias, elecctrodomésticos e caixotes lá para cima, entrando tudo pela janela.


 A geometria repetitiva mantêm-se na hora de gerir o correio das casas, quase que exigindo ter um mapa para encontrar cartas.



 O aspecto geral, no entanto, é de uma floresta urbana, cinzenta, fria e com movimento permanente nas estradas.



 Mas mudemos de perspectiva. Vamos tirar o foco dos edifícios e entender que:

  1. Os Coreanos são 60 milhões, num espaço equivalente ao de Portugal. Ou seja, para imaginar isto, em cada rua, autocarro ou café, multiplique o número de pessoas que vê por 6;

  2. Os Coreanos gostam das coisas organizadas e tentam manter o padrão de modernidade em alta;

  3. Os invernos são frios, com temperaturas de -10ºC a manterem-se durante vários dias e os sistemas de aquecimento em grande escala ficam mais baratos de manter.


Com o andar do tempo percebe-se que este tipo de urbanização tem uma boa lógica e é esta lógica que tem esculpido a minha opinião.

 O que é urbano é denso, mas organizado, satisfazendo a necessidade de milhares de pessoas. Fora da área urbana, mantêm-se espaços verdes, igualmente organizados, para proporcionar espaços de lazer, pulmões de ar e habitat de vários seres vivos.

Vejamos então como reinterpretar o inicialmente horrível:

Mancha urbana rodeada de verde.



Geometria urbana, onde já se pode ver a integração de vários elementos, como construções, vias largas e parques de lazer. Entendo que a geometria é discutivel. Pessoalmente tendo a gostar mais de cidades com fluxo mais orgânico, mas concentremo-nos no conteúdo.



Organização eximia, fazendo lembrar os manuais de boas práticas da urbanização. Circulação, passeios largos, ciclovias, sinalização.

Não me lembro de ver engarrafamentos...



 

Zona comercial condensada...e de que maneira. Os edifícios comerciais são geralmente mais baixos, mas oferecem uma tal diversidade de serviços que faz parecer que quando atravessamos a fachada, entramos numa nova cidade. Por exemplo, fiquei surpreendido com o número de clínicas num só bairro. Cheguei a ver um dentista em cada quarteirão. Clínicas comparticipadas pelo estado, de qualidade e atendimento rápido.


 À noite, as zonas comerciais transformam-se num festival de neons.  



Agora vamos aos pormenores.

Para mim, o “horrível” das janelas dissipa-se quando em cada bloco de apartamentos, existe um parque infantil em condições.




 Os edifícios não desaparecem do horizonte (seria difícil escondê-los), mas será que as crianças reparam neles quando brincam em mini cidades de divertimento?



 Em quase todas as passadeiras, nos meses de intenso calor (Julho e Agosto), existem sombras que abrem e fecham automaticamente em função das condições climatéricas.



Nos passeios e parques, o pormenor de aspersores de água ajuda a combater o calor implacável que se faz sentir em Julho e Agosto.



 Para os mais velhos estão espalhados locais de descanso, com pormenores tradicionais e elementos naturais.



 Sendo o espaço horizontal precioso, há que explorar a componente vertical para ter espaços de lazer, como campos de futebol. E se reparar bem por trás dos edifícios, lá estão as montanhas, cheias de vegetação.



Foto que podia servir de exemplar a um manual de como planear cidades: habitação, escritórios, circulação, elementos naturais e serviços.



Nas traseiras de alguns dos enormes blocos de apartamentos pode-se ver a moldura natural do início das montanhas. Vegetação que, constata-se no Outono, é de diferentes tipos e momentos de maturação, enriquecendo a matéria orgânica e evitando a homogeneidade que os fogos tanto gostam.




De maneira que, a curtas distâncias da floresta urbana, encontram-se verdadeiras pérolas de floresta verde, com recantos para comer, brincar ou passear ao longo de todo o ano.