11 de janeiro de 2023

Espaço para todos

 Eu consigo passar horas sem fim a observar a vida selvagem ao vivo. Ainda hoje não sei explicar porquê. Numa visita a qualquer reserva eu sou o “chato” do grupo que observa as pistas, os pequenos animais, os cocós, os trilhos (vazios), a vegetação.

Uma vez em pleno Kruger estacionei o carro aleatoriamente e desliguei o motor, à espera do que pudesse vir a acontecer. A paisagem era savana seca, extensa, sem qualquer sinal de seres vivos. A Yumi, naturalmente, olhou para mim de lado e perguntou: “A sério? Aqui? Porquê?”. O engraçado é que a resposta apareceu de imediato, emergindo do meio do capim, uma chita a perseguir uma gazela, em cena “National Geographic”. Não tive nem tempo de responder à Yumi, nem de fotografar. Confiei a recordação na minha memória.

Para mim, a vida selvagem é o puro exemplo de vida, de existência, com inúmeras analogias à vida humana. Só que nós complicamos muito.

 Desta vez o passeio foi na reserva especial de Maputo.


 Ao chegar ao terreno do visitado sentimos bem a sensação de visitante, com olhares a estranharem cápsulas metálicas fumegantes com animais de cheiros estranhos no interior.



 O elefante, uma atracção especial da reserva, é o tipo de animal que só quer paz e comer. Tolera visitantes até abanar as orelhas ou raspar o chão com uma das patas dianteiras. Aí sabemos que estamos a perturbar alguma coisa. Melhor sair.


 Especial atenção se há crias por perto. Um elefante destes em fúria vira um carro…



 A pacífica girafa é desengonsada, elegante, com padrão de pele único, pescoço desproporcional e lingua feia. Ao atravessar a estrada faz várias paragens a olhar para nós, anunciando a sua passagem (ou precavendo-se de alguma fuga necessária). Uma linguagem silenciosa, mas suficiente.



 O nome de “boi-cavalo” carcateriza bem este animal, misto entre boi, com seus cornos e cavalo, com a destreza no trote. Quer paz, mas se muito incomodado vira besta, besta selvagem (do nome em Inglês, wild-beast).



 Os “cavalos de pijama” são absolutamente pacíficos...até a irritação alheia exigir um coice. São, por natureza presas, mas com técnica apurada de confundir os predadores. Se as zebras se juntarem, o potencial atacante fica baralhado com a mancha do padrão preto e branco e não distingue facilmente uma presa solitária para atacar. Inteligência de grupo...



 O pachurrento, mas traiçoeiro hipopótamo. Tem fama de ser o animal mais perigoso de África, o pacífico herbívoro. Uma boa prática é manter-nos fora do caminho deste gordinho fofinho de centenas de quilos.





 De surpresa apanham-se alguns animais que entre o receio e a curiosidade ficam estáticos a olhar para nós, de câmara em punho. Se ficarmos algum (demasiado) tempo, invariavelmente esta bicharada dispersa para as suas vidas.



 Uma lição de física e sobrevivência aparece quando vemos este pássaros amarelos. Fazem os seus ninhos no topo de longas e finas ervas, fazendo-nos desconfiar da estabilidade e durabilidade das suas casas. Mas olhando para o solo de onde nascem essas ervas, vemos pântano, certamente povoado por diversos predadores de pássaros. Aí compreendemos a escolha do local para fazer o ninho e deliciamo-nos com o chilrear da azáfama diária.  


 No acampamento, já fora das cápsulas metálicas que nos levaram até ali, é a vez de ver os animais mais pequenos. Alguns deles nunca dantes vistos. Outros desejando nunca mais ver...



 Osgas camufladas




 Sapos psicadélicos. Alguns deles encontramos e depedimo-nos deles na mesma posição, indeferentes a nós, a caçar mosquitos.



 Quando a Yumi disse “está aqui um carangueijo preto”, eu desconfiei. Nunca, na TV ou em leituras, vi um caragueijo preto. Ao tentar pensar o que poderia ser tal espécie só me ocorreu uma: escorpião! O que se veio rapidamente a verificar...uma escorpião do tamanho duma mão que só tinha visto na televisão. Com aquelas pinças entendi a semelhança ao carangueijo, mas aquela cauda, aquela cauda...inconfundível...


 São vários os bichinhos que desconheço. E quando assim é, sigo a máxima “não sabes o que é, não mexe”, mesmo tentando não mexer nos que conheço, para não perturbar o eco-equilíbrio. Este era uma espécie de barata corpolenta ou camarão com pernas…



 Como estamos no verão, é altura de todos os bichos sairem da hibernação. Incluindo este exemplar que, confesso, representa o meu kryptonite. Lindas, elegantes, silenciosas...por vezes dolorosas e eventualmente mortíferas. Esta verdinha caiu dum tronco quando estávamos perto. Penso que a minha reacção com cobras é a minha salvação. Fiquei absolutamente congelado, a mexer apenas os olhos para ver onde a cobra ia depois de tocar no chão. Tão assustada como nós, zarpou na direcção oposta num zigue-zague sensual e brilhante.



Indo para a praia...o que pode acontecer?



Pode o mar estar repleto de alforrecas “garrafas-azuis” ou “caravela portuguesa” (curioso nome este, hã?). Ondulando ao ritmo da maré, navegam pacificamente nas suas vidas. Acho-as lindas, com cores fortes, corpo transparente e tentáculos...bem cuidado com os tentáculos. Praticamente transparentes quando estão dentro de água, apenas sentimos a passagem duma “faca” quando nos toca. A irritação pode, no entanto, sair facilmente com chichi, limão ou vinagre. Escolha a da sua preferência ou conveniência.



Como a maré estava favorável para as alforrecas (noutras marés e noutros ventos elas desaparecem) deliciamo-nos com a piscina...



...e da piscina podemos apreciar os golfinhos saltitões, cujo dorso brincalhão se distingue do dorso estável e ziguezagueante do tubarão.



 A escola foi boa para os miúdos. Há uns dias o Leo viu uma Maria Café de pernas laranja. Parou, apontou o dedo e perguntou “esta é venenosa papá?”. Não era, mas fiquei muito feliz pelo nível de alerta e relatividade que desenvolveu...


 A semelhança com a vida humana deixo-a à vossa análise.

 

2 comentários:

Isa disse...

Fotos incríveis, André.
Bjos a todos

Sara disse...

Só agora vi estas fotos magníficas….a bem dizer que dispenso os lacraus….🤣
Beijo primokas