12 de março de 2008

Turismo...pois!

Saíram recentemente duas notícias, que me chamaram a atenção e que partilho com vocês…as notícias e a atenção. A primeira refere que o número de turistas em Angola é de 250 a 300 mil por ano. À primeira vista é uma cifra fantástica mas, parando para pensar um pouco, assolam-me algumas dúvidas. Este número coloca Angola a um nível de turismo equiparado com as, agora mais populares, republicas da Estónia ou Letónia (segundo estudo EUROSTAT). Facto que custa um pouco a crer…por…razões óbvias!


Na continuação da noticia, a ambição deste número de turistas é “numa primeira fase, de 500 mil turistas”. Só não dizem o timing desta primeira fase! Toda a gente em Portugal, neste momento, conhece directa ou indirectamente, alguém que trabalha em Angola, certo? Mas conhecem alguém que cá venha com o estrito propósito de fazer turismo? Pensem bem…nem que seja um rapaz que ajudava na oficina do marido daquela senhora que era mãe duma rapariga, namorada de um gajo com quem jogaram à bola uma vez há não sei quanto tempo! Pensem bem…

Ou será que este número te a ver com os requisitos fronteiriços que Angola impõe? Toda a gente precisa de visto para entrar em Angola. Os vistos de trabalho são difíceis, caros e nem sempre as empresas querem fazer de imediato esse investimento. Resultado: numa primeira fase de estadia, a maioria das pessoas entra com visto de turista. Bem treinados, à chegada à alfândega, quando inquiridos sobre o motivo da viagem, a resposta é mecânica: turismo!

Na segunda noticia falam dos residentes estrangeiros, em Angola. “Mais de 70 mil estrangeiros vivem legalmente em Angola, dos quais 35 mil com visto de trabalho, 20 mil residentes, 15 mil refugiados ou exilados.” E deixem-me que faça o reparo, ninguém mora cá “em turismo”. Este número de estrangeiros choca com o adiantado pela TVI numa reportagem onde atirava o valor de 200.000 portugueses em Angola. Para esta conta não tenho fórmula…70.000 estrangeiros, dos quais 200.000 são portugueses!? Será um sistema de integrais complexos e variáveis imaginárias?

Na mesma notícia, muito detalhada em números, constam os números de vistos concedidos no “primeiro trimestre deste ano”. Entendo como “este ano” o ano passado, visto que, apesar da notícia ter saído este ano, o respectivo primeiro trimestre ainda não terminou! São reportados 24054 vistos ordinários (de turismo) e 7312 de trabalho.

Estas contas são mais fáceis, se dividirmos 250 mil turistas (fazendo o cálculo por baixo) por 4 (números de trimestres num ano), obtemos o valor de 62500 vistos de turismo por cada fase de três meses. Este valor exige um fluxo de vistos de turismo 2 vezes e meia superior ao que é reportado pela segunda noticia.


Há então uma grande confusão no turismo em Angola, talvez confirmada pelo ministro do interior, que acha que “o quadro jurídico-legal vigente em Angola é demasiado restritivo e limita a emigração de força de trabalho especializada e dos investidores”. E que Angola precisa de trabalho especializado é um dado adquirido! Não digo que Angola não tenha atracções turísticas de realce. Tem locais de grande beleza e as pessoas, principalmente fora de Luanda, são de sorriso fácil e muito acolhedoras. No entanto, até lá, terão que ser criadas condições apropriadas. O preço da viagem é elevado, as estradas não estão nas melhores condições…condições que tardam em chegar a julgar pela condução louca dos Angolanos que não ajudam nada, mesmo numa pista de asfalto. Os hotéis estão “à pinha”, havendo mesmo quartos alugados por empresas…ao ano. Empresas de turismo, cálculo!! Até chegar a um patamar de destino de férias, Angola tem que trabalhar muito, é certo. E hoje em dia trabalha-se muito no progresso deste país mas, na minha opinião, nem sempre no bom sentido.


É mesmo o próprio ministro do interior que coloca a questão na mesa, dizendo que “Angola é destino de migração porque ao seu território convergem africanos, latino-americanos, asiáticos e alguns europeus em busca de vida que lhes proporcione o enriquecimento fácil”. Pois é senhor ministro, concordo! Tenho vindo a aperceber-me que Angola está a ser devorada, à dentada, por interesses pouco construtivos. Tem vindo a progredir, é certo, mas parece-me que “estão a construir a casa pelo telhado”.

3 comentários:

Joana disse...

Que bela análise e estudo jornalístico!

Os números são um pouco confusos, mas os próprios dados iniciais já estão muito baralhados.

Será que vai ser possível preparar o país como um possível destino turístico algum dia? Ou vai ser uma Quarteira anos 80 no seu melhor?

macaca grava-por-cima disse...

Bem, confesso que em termos de turismo tenho outras prioridades na minha lista de destinos.
A ir a Angola agora só se fosse para te fazer uma visita ;-)

De qualquer forma, e pelo teu relato, parece-se prematuro ver Angola como um destino turístico, até porque a concorrência no continente africano é feroz: Cabo Verde, África do Sul, Moçambique, Senegal...

André disse...

...São Tomé, Namibia, Botswana!

Os Angolanos que estejam alerta, porque a concorrência é grande!