31 de julho de 2007

Luanda 2


Largo da Mutamba, muito perto da minha casa. Local onde se encontra o ministério das finanças (edifício à esquerda), um dos edificios da SONANGOL e o governo provincial de Luanda. Além das alterações óbvias, chamava a vossa atenção para a pintura dos autocarros (em cima) e dos candongueiros (em baixo). Passados mais de 30 anos...é igual, azul e branco!



Avenida dos combatentes, onde dormi a primeira semana em Luanda. Avenida repleta de prédios, de ambos os lados. Marquises fechadas, ares condicionados e parabólicas...muitas parabólicas, são as maiores diferenças. Ah...e claro, o parque automóvel, que em Luanda cresce a um ritmo alucinante, entupindo as ruas e tornando o trânsito num caos! E quando digo caos, quero mesmo dizer C-A-O-S!!

30 de julho de 2007

Luanda 1

Já há algum tempo que queria mostrar-vos um pouco de Luanda...imagens da cidade! Não sabia muito bem como, mas uma ida à papelaria LELLO deu o mote. Encontrei um conjunto precioso de postais com imagens de uma Luanda antiga, do tempo colonial. Com um cheiro muito presente a humidade, estas pérolas estiveram guardadas este tempo todo?

Não querendo fazer um discurso saudosista (até porque não tenho idade para isso), a cidade de Luanda do tempo colonial era uma senhora cidade! Bem planeada, espaçosa e imponente. A arquitectura variava entre palácios e experiências muito "à frente" para a época...

Nos próximos posts da tertúlia vou mostrar-vos o antes e depois de alguns destes postais. Tentei capturar a partir da mesma prespectiva, mas como devem imaginar é complicado!!

A famosa marginal! Outrora cobrindo toda a largura da cidade, esta é uma estrada que percorre toda a baixa da cidade. Outrora com duas faixas para cada lado, hoje em dia é mais dinâmica...se houver mais transito num determinado sentido adapta-se a marginal e passa a haver 4 faixas para um lado e 1 no sentido oposto.


A entrada na "ilha" de Luanda, que na realidade é uma peninsula, mas é sempre chamada de ilha... Por aqui encontramos o caminho para bares muito requintados com a respectiva área recreativa/ludica de concessão, como quem diz....praia! Também se faz este caminho a horas noctivagas, em busca de uns petiscos para jantar ou discotecas junto à praia! Enfim, quase que se pode dizer que "ilha" de Luanda = lazer!

27 de julho de 2007

Tese às costas

Mestrado. Portugal. Tese. Angola.

Pois é...na altura de escrita da tese...vim para Angola. Por momentos pensei que a tese ficaria em risco, mas foram momentos muito curtos, uma questão de segundos. Depois repensei e disse para com os meus botões: "não, isto vai ser feito sim...TEM que ser feito!". Peguei nos ficheirinhos todos, arrumei dentro duma caixa tecnológica chamada disco externo e para cá vim!

Estava consciente de algumas dificuldades que iria ter, mas não de TODAS...e principalmente: falta de luz e calor! É nos tempos que ficam entre o fim de trabalho e o deitar, ou entre o final da semana e a 2a feira seguinte, ou de vez em quando no local de trabalho quando não há NADA (mesmo, mesmo NADA) em mãos, que me ocupo da tese!

Fui algumas vezes expulso de casa pelo calor! Não havendo luz, não AC e por isso o bafo não deixa pensar como deve ser! Não havendo luz, a bateria tem limite e até BIP, BIP com falta de carga...trabalha-se. Trabalhei algumas vezes no Clube Náutico. É um local que dá para tudo, reuniões boémias ou retiros de trabalho. Tem uma preveligiada vista sobre a cidade que, de longe parece...parece....outra coisa...mais bonita, mais imponente!!

Quando não há luz e o calor deixa, fica-se por casa. De lanterna e luz da vela para ver o teclado...

Resultado: bem ou mal, mais de metade da tese foi produzida em território Angolano! Não havendo causa efeito neste facto, desenvolvo agora uma sensação de amor/ódio com a tese, mas acho que deve ser normal, não? Quem já passou por isso, que opine... Num momento acho que o trabalho está uma merda e de um momento para o outro acho que está muito bom!! Assim seguirei até Setembro, altura da entrega!!

26 de julho de 2007

Petiscos

Quem não gosta de petiscos?...eu gosto!

Há muito a ideia de que África é um óptimo local para mariscadas e petiscos do género, mas África é MUITO grande! Se se referirem a Moçambique, concordo...bom marisco e barato. Se se referirem a Angola...já discordo!!

Aqui há marisco, mas não é nada de cortar a respiração, nada a que se faça uma vénea!! Além de que o preço não é simpático, como aliás nada em Luanda! Mesmo assim, de vez em quando vou a um restaurante na ilha de Luanda petiscar uma mariscada com uns amigos também amantes desta prática. E então, não sei bem porquê, comecei a gostar de chocos com tinta! Prato que nunca gostei em Portugal, aqui sabe-me muito bem...

Não sei se terá alguma coisa a ver com a qualidade do petróleo aqui...mas se tiver, só beneficia o choco!!

Outra coisa que aprendi cá foi a satisfação ao cliente! Por exemplo, se um prato de camarões revela um ingrediente não pedido, regateia-se o preço...e quiçá, exige-se a dose gratuita! Foi o que aconteceu com um pratinho de camarões que tinha a surpresa, deixada para o fim...a presença de uma barata!! Não senti um gosto especial dado pelo ingrediente orgânico e ainda bem que foi no final. Assim, pode-se degostar toda a dose sem pensar no bichinho.... Resultado: dose gratuita! Claro, não poderiamos mandar para trás!

Uma última coisa que comecei a gostar aqui em Angola.... "apaixonei-me" por Gin tónico! Bebida que em Portugal achava horrível, aqui cai muito bem!! É fresca, não é doce, tem gás, tem alcool e a água tónica é especial! Há uma receita de água tónica aqui para as zonas de África que contém quinino. Este é o quimico que trata a malária! Obviamente que na bebida são doses reduzidas, mas pode-se sempre dizer que "tenho que ir beber um GIN, faz parte da minha terapia antimalárica"....cai muito melhor!!

24 de julho de 2007

Multicaixa

Hoje sugiro um jogo: descubra as diferenças entre:

O Multibanco, largamente conhecido pela maioria! Caixas para ir buscar dinheiro que aceitam cartões de quase todos os tipos! Não digo de toda a forma e feitio porque todos os cartões têm que se sujeitar à regra do número de ouro!



O Multicaixa, caixa de levantar dinheiro em Angola. Maior parte só aceita cartões "da casa", ou seja, cartões de contas angolanas. Embora já comece a haver agora caixas que aceitem VISA e VISA Electron!!

22 de julho de 2007

Dá que pensar...

Continuo a dar formações aqui em Luanda. Formações num software específico para fazer e analisar mapas, o ArcGIS. Para quem não está habituado a estas "cartografices", eu faço uma breve e simples introdução. Desenham-se, sobre imagens aéreas, os elementos de que são feitos os mapas: estradas, casas, jardins, etc…o que quisermos!! Estes são chamados os elementos gráficos. A cada elemento gráfico pode-se associar informação, kilos dela! Uma tabela associada a cada elemento gráfico pode conter informação sobre tudo: o nome dos jardim, o número de andares por prédio, o estado das estradas, etc…
Fiz-me entender? Obviamente o software faz outras coisas, mas neste contexto, esta explicação servirá...
Estávamos precisamente num exercício de desenhar estradas e atribuir o respectivo ano de construção. Como costumo fazer, nestas alturas dou total liberdade aos alunos de colocarem as datas que quiserem. “Inventem à vontade e ponham datas ao calhas”, disse eu. É apenas um exercício, assim não estão à espera que eu dite e acho que os motiva mais. Longe estaria eu de pensar no que iria dar. Começo a olhar para as datas num computador e…eram especiais!! “Coincidência”, pensei eu. Olho para outro computador e, mais ou menos as mesmas datas! Quando pesquisei os quatro computadores da sala, a conclusão estava tirada. Todos, mas TODOS eles, indicaram datas que rondavam os anos de 1966, 1989 e 2006. Anos de respectiva ocupação Portuguesa, Russa e esta nova vaga internacional!! Relembro que as datas se referiam ao ano de construção das estradas… Será que este país avança aos soluços? Será que precisam de constante impulso? Será que é um país de ciclos? Constroem-se castelos na areia e espera-se que se desmoronem para reconstruí-los? Perguntas para as quais não tenho respostas...mas gostaria de ouvir a vossa opinião!!

20 de julho de 2007

Pólo aquático

Ao fim de vários desportos que pratiquei, encontrei-me no pólo aquático! Fiz Ténis, Karaté, Remo, Rugby, Natação, Futebol, mas o pólo conquistou-me de vez! É um desporto perfeito, a meu ver, claro! Tem natação, é um desporto colectivo, tem bola e permite...digamos...uma descarga de energia muito boa!

Pois aquando da minha vinda para Luanda tive pena de deixar o pólo, claro que tive, mas a vida anda à roda e é feita de opções! Questionei-me se, por ventura haveria a possibilidade de praticar pólo por aqui. Sabia que havia duas boas piscinas e isso é condição suficiente...

Ainda por cima alguém me disse que sim, que se praticava...nas piscinas de Alvalade!!

Fiquei radiante, não só pela possibilidade de praticar pólo, como pelo facto das piscinas terem este belo nome: A-L-V-A-L-A-D-E!! No passado fim-de-semana fui até lá a fim de me informar dos horários, preços, etc...

O cenário desmoronou-se rapidamente e reergueu-se do avesso!! Passo a explicar...

Cheguei lá e já não tinham pólo aquático! Há 3 anos! Fiquei a saber que o professor era um curioso da coisa e que incentivava a malta a praticar. Esse professor deixou o pólo, a malta desapareceu e o horário de pólo acabou, MAS........se eu quisesse, podia falar com a administração, negociávamos um horário e passaria eu a dar aulas!! De candidato a aluno, passei a potencial professor!! É assim Angola, é assim África...tudo pode acontecer!!

18 de julho de 2007

A vírgula...

Ainda outro dia, num blog vizinho deste, o das macacas, discutia-se a relevância da vírgula. Sim, a vírgula, esse sinal de pontuação que nos deixa respirar ao longo de uma frase. Este post pretende realçar a importância da vírgula na conversação...e principalmente entre Angolanos e Portugueses.

Ao fim de 2 dias sem luz em casa, inquiri o administrador do condomínio do prédio, para saber se a avaria iria ser arranjada. "A avaria é arranjada hoje? À noite já terei luz?" Perguntas objectivas e com urgência, porque os brancos aqui têm sempre pressa (comparando com a calma Angolana!). Ele respondeu-me: "Não, vai ter!". É mesmo nesta frase que incide o problema da vírgula...O facto de ter vírgula ou não ter, faz toda a diferença, concordam?

Estas questões surgem na comunicação escrita, porque na comunicação oral não se costuma perguntar se a frase que foi dita tem vírgula ou não. Já viram o esquisito que ficava? "Companheiro, a frase que disse agora tem vírgula ou não?", "Olhe, essa vírgula que usou na frase não devia vir antes da palavra X?", "Ponha vírgulas nessa frase, por favor, senão fico sem fôlego para o ouvir!!"

Por isso senti-me constrangido em perguntar ao senhor se, naquela pequena frase, havia vírgula ou não! Ouvi-a com vírgula, porque me dava mais jeito e cujo significado indicava-me que a avaria seria arranjada e à noite teria luz. Fui trabalhar descansado!

Quando cheguei a casa apercebi-me que a frase que o administrador do condomínio tinha dito não levava vírgula. Ele tinha-me dito: "Não vai ter", em vez de "Não, vai ter". Toda a diferença!! E continuou a não haver vírgula nos dois dias seguintes. Só depois é que veio a luz...


Não é suposto ser uma história com moral, mas rápidamente podemos extrair duas ideias:

- Ouvimos sempre aquilo que queremos;

- A vírgula é um sinal de pontuação muito importante!!

16 de julho de 2007

Ritmo

É conhecido o ritmo que os pretos têm para a dança... Digo pretos sem pudor nenhum, porque embirro com o "negro", "pessoa de cor", "pessoa de raça negra"!! Há os brancos sem serem de facto dessa cor, há os pretos sem serem também dessa cor. Os amarelos, os vermelhos...se todas as raças têm que ter uma cor, então porquê tentar contornar e ser desnecessariamente diplomático? Até porque a bom rigor os brancos seriam identificados com tonalidades de castanho claro e os pretos com tonalidades de castanho escuro!! Estão a ver a confusão, não?

Ainda não conheci nem vi nenhum preto ou preta que dançasse mal...costuma dizer-se que lhes está no sangue! Assim que se ouve uma música ou um som, é vê-los a mexer ao ritmo. As discotecas aqui são uma verdadeira concentração de dançarinas e dançarinos. Até no bar dessas discotecas, às vezes, temos que esperar que o barman termine a dança que lhe está a dar um notório prazer.

Tenho vindo a reparar nos últimos tempos que é frequente alguns ajuntamentos de miúdos para dançarem. São rodas que se formam, às vezes sem nenhum rádio presente. Pode até ser que uma música longínqua na cidade os faça mexer. Mas a música que dançam está-lhes na cabeça, no coração, na espontaneidade…

É muito engraçado vê-los ali, miúdos entre os 8 e os 20 anos a fazerem uma roda de dança, digamos uma battle na linguagem “técnica”. Provocações tipicas, novos movimentos, risada geral, admiração de alguns... Todos dançam, todos participam. Roupas coloridas e pés descalços. Não deixo de parar e ficar a olhar…e quem sabe, um dia, entrar e fazer o meu move. Mas não, estes são genuínos, são puros e embora eu goste, a dança não é a minha melhor qualidade!!

13 de julho de 2007

Raio X

Penso que estamos todos familiarizados com o raio X, certo? Sabemos por alto que tem a ver com a física, que é uma onda electromagnética, desvenda os mistérios dos nossos ossos, etc...

Mas este raio X de que falo hoje é o dos aeroportos, aquela barreira chata onde somos examinados ao pormenor para avaliar tudo o que levamos! Uma falta de privacidade individual para o bem do geral...

Vão aumentando a lista de objectos proibidos, descalçamos sapatos, tiramos sinto, expomos as moedas que temos nos bolsos, etc...

Por esta razão fiquei um pouco surpreendido com o episódio vivido no aeroporto de Luanda quando viajei para Lisboa! O senso comum diz-nos, olhando para a imagem abaixo, qual o elemento proibido, certo? É uma espécie de jogo: qual é o objecto errado?

Resposta correcta: canivete.......exactamente!! Por isso o meu espanto quando, ao passar no raio x, o senhor agente técnico controlador de supervisão me diz: "você tem pilhas na mala". Neguei, sem pensar muito no que tinha dentro da mala! Ele insistiu que eu tinha pilhas na mala....pensei um pouco e sim, de facto tinha pilhas. Mandou-me abrir a mala! Tinha oito pilhas na mala, dois conjuntos de quatro pilhas recarregáveis. Tirei da mala apenas quatro e pensei: "porra, agora vão ficar com as pilhas aqui...vou tentar dar apenas quatro e ficar com as outras". O senhor agente técnico controlador de supervisão disse-me que as pilhas não podem ir soltas. Se as pilhas são da máquina fotográfica, têm que estar lá colocadas. Quê? Espanto meu! Não acreditando muito bem no que estava a ouvir, coloquei as pilhas na máquina. Amavelmente o senhor agente técnico controlador de supervisão deu-me indicação para prosseguir...
Só depois de passar o raio x é que me lembrei que distraidamente/estupidamente tinha um canivete na mochila! Na Europa, se calhar, mandavam-me limpar o canivete, ou pediriam para ver se estava afiado, ou.....ficariam com ele!! Aqui o problema foi as pilhas...fora do seu devido lugar!

Deixo à imaginação de cada um o perigo que poderão representar quatro pilhas fora da máquina...

11 de julho de 2007

1º regresso...

Acabadas as férias, há que regressar ao trabalho e aos compromissos! Voltei hoje para Luanda. Vôo nocturno. Já fui mais fã de vôos nocturnos do que sou hoje. Como mal consigo dormir, é uma noite sempre mal passada! O mesmo não dirá o passageiro do meu lado que, com uma venda nos olhos, ferrou a viagem toda, só acordando para comer.....esperto!!
No aeroporto já se sente o país, a população...e começam logo a pedir que escorregue uma notita. Porque sim, porque não, porque lhes está no sangue. Escapo-me do primeiro e venho cá para fora à espera de boleia. Aproxima-se um, dois, três gajos, alternandamente a dizer que são dos serviços de alfândega (pois, claro!). Dizem que tenho que voltar lá dentro e revistar as malas. Digo-lhes: "mas vocês nem farda têm!!"
Penso: "estes gajos fazem o trabalho de alfândega cá fora?"
A esta altura era claro que não passavam de uns espertinhos a tentar sacar uma notita (mais uns!!).
NÃO, digo eu. To cá fora, as malas passaram, não volto lá dentro. Mas eles dizem que tem que ser. NÃO. Que o ordenado é pouco. NÃO. Uma ajuda só....uns euritos que tenham sobrado. NÃO. Confesso-vos que eles se tornaram tão chatos, que me venceram pelo cansaço! Escorregou finalmente uma notita, mas com a intenção de lhes comprar o silêncio...e resultou...desamparam a loja! Que 10 euros tão bem empregues!!
Cheguei a casa, pousei as malas e PUF....foi-se a luz! Que bela recepção...principalmente depois de saber que durante a minha ausência a luz faltou uma única vez!!
Dúvidas houvesse, cheguei a Luanda. Nada fácil o dia de hoje, depois de um regresso de umas reconfortantes e positivas férias!

4 de julho de 2007

Querem lá acreditar??

Ontem à noite vi uma barata no meu quarto!!! Coisa que nunca vi em mais de cinco anos que cá moro! Obviamente levantou-me a suspeita de ser uma barata "emigrante". Sendo assim, infiltrou-se nas minhas malas?...percorreu toda a distância Angola - Portugal? Não apresentou papéis na Alfândega? Esteve mais de uma semana por aqui incógnita? Se assim é, não posso deixar de admirá-la por isso...inquestionável a resistência destes bichos!
É claro que posso admirá-las, mas apenas num plano de compreensão da natureza e de uma vida sobrevivente.... Não é uma admiração de querer adoptá-la, de lhe dar comer, de lhe fazer uma casinha de madeira para ela, de lhe dar as boas noites....NÃO!! Aliás, o destino desta barata "emigrante" foi igual a tantas outras que ficaram no seu país...sapatada em cima e, PUF!