22 de abril de 2013

Morreu de doença...


Noutro dia perguntaram-me se eu achava que em Moçambique se passava fome. Apressei-me a dizer que não. Ando por esses distritos e vejo, não só abundância, como venda de alimento. A um nível artesanal, para subsistência, mas não falta. Os campos costumam estar cheios, cabritos e galinhas por todo o lado. Depois perguntaram-me se eu achava que a população rural estava bem nutrida. Aí, sem hesitar muito, concordei que não. A alimentação não é diversificada, vegetais e fruta não são o forte! A xima enche o estomago, desliga os sensores da fome, mas não alimenta.

As redes mosquiteiras, oferecidas por tantas associações na luta contra a malária, muitas vezes têm outros fins. São instrumentos muito usados para a pesca. Pesca de arrastão e sem mínima hipótese para 90% dos organismos marinhos. Isto traz não uma, mas duas desvantagens: 1) os mares são literalmente varridos; 2) nas camas continuam a dormir à mercê de mosquitos. E eu que me lembro tão bem do dia em que comprei uma rede mosquiteira para casa...sono tranquilo e seguro!

Cerca de 11% da população sexualmente ativa está infetada com SIDA, que atira Moçambique para o quinto lugar de tão negra lista!

Tudo junto isto dá uns milhares de pessoas com o organismo fraco e vulnerável. Face a algumas infeções, o corpo treme que nem varas verdes e muitas vezes a luta trava-se pela sobrevivência, mais do que pela cura. Como atirar uma pedrita, por pequena que seja, a uma estrutura de cristal fina e frágil e dizer, sem espanto: “ups, partiu-se!”. É um pouco assim que, por vezes, temos notícia da morte de alguém: “Deus levou”, dizem, com uma fatalidade difícil de acompanhar, mostrando que o valor da vida tem outra interpretação por estas bandas.

Na assistência médica dão Paracetamol, muito. Mas fui descobrir que tem riscos.... Não estaremos afinal perante um medicamento que se pode tornar um machado, dando o golpe final em corpos sem grande defesa?

Morre-se de dor de cabeça, de mau estar nas costas, de náuseas, etc...sem nunca se saber o diagnóstico verdadeiro. Por isso compreendo cada vez mais o espírito de viver cada dia...o amanhã ainda é longe...