30 de abril de 2011

A machamba


Há pouco mais de 3 meses, coloquei aqui o manual, com respectivas ilustrações, sobre a construção de uma caixa de madeira. Na altura chamei-lhe caixa mágica, conferi-lhe poderes notáveis de transformação da matéria orgânica, fartei-me de colocar lixo vegetal e tapei. Alguns de vocês comentaram elogiando a pequena obra de grande engenharia, outros questionaram-me sobre cheiros e bichos que pudessem ser atraídos. Outros, talvez no silêncio da admiração, sem comentários, apenas devem ter pensado: “mas para que raio se deram ao trabalho aquelas duas almas de fazer um caixote do lixo de madeira? Não haverá baldes do lixo em Moçambique?”. Hoje a resposta: para iniciar o fabuloso ciclo da vida vegetal: uma machamba! A palavra machamba tem origem incerta! Numa leve pesquisa que fiz, obtive 3 diferentes versões. Assim, não tenho alicerces para explicar de onde vem. Posso apenas adiantar que é uma palavra muito comum em Moçambique e refere-se a uma horta.

Colocando lixo vegetal naquela caixa (e apenas vegetal) até pode cheirar mal, claro…imaginem fruta podre em cima da mesa da cozinha! Mas o cheiro não se estende para além dum raio curto em redor da caixa, desde que esteja em local arejado. A bicharada é sempre atraída e deve sê-lo! Eles são afinal os agentes que entram em acção e processam tudo. Passa-se por um período de decomposição vegetal e dá-se lugar ao fenómeno natural que dá pelo nome de composto. Sai pelas portas debaixo que tivemos cuidado de planear e o detalhe em construir. Tem cor escura e, surpresa, não cheira mal. Este por sua vez enriquece plantas e plantações.


Um diário da Machamba:

A primeira vez que partilhei a ideia de fazer uma machamba ao senhor José, guarda/jardineiro/conselheiro/amigo, as orelhas dele subiram, a testa esticou, o sorriso abriu e os olhos brilharam. Não foi preciso dizer nada. Percebi que tinha ali um entusiasta cúmplice da ideia. Fiz questão que fosse ele mesmo, filho da terra, a colocar a primeira semente.

21.01.2011

Depois foi a minha vez e da Yumi colocar as restantes! A nosso belo prazer e murmurar as preces que cada um bem entender, na língua que quisesse. A intenção era unânime: ver crescer as plantas...e se possível provar os frutos. As sementes foram: melancia, abóbora, melão, manjericão, piri-piri, quiabos. Colocámos também duas papaieiras e uma goiabeira (plantada pelo ZéTó e Leonor, na sua visita a terras tropicais). Plantámos no início da época das chuvas. Não chovia há meses...e simbolicamente chuviscou depois de pormos as sementes...



Papaieira



25.01.2011

A excitação de ver as primeiras folhinhas a aparecer...logo 4 dias depois das sementes!


03.02.2011

O "ouro" vegetal a sair da caixa, produzido em menos de um mês, devido a vários factores: clima e abundância de bicharada...

Alimentar as plantas com o "poção vegetal" da caixa mágica.




11.02.2011


28.02.2011


Primeiro frutos à vista. Neste caso, uma melancia...

12.03.2011


27.03.2011


A machamba passa a ficar intransitável, devido ao volume de verde!


07.04.2011

Uma melancia quase pronta!

Abóboras a crescer, sobressaindo do meio de centenas de folhas.

Quiabos

A velocidade a que a papaieira cresce é alucinante. Tenho a impressão que se estiver 10 minutos estaticamente a observá-la posso ver novas folhas a abrir e o caule a esticar...



A prova do primeiro fruto...uma melancia...


Ainda um pouco verde, mas que importa? É da nossa produção...as fotos mostram o entusiamo!

A segunda melancia sim...cores e sabores comme il faut!

Deste vulcão de produção vegetal já:

- comemos 2 melancias:

- fizemos Pesto com o manjericão;

- fizemos sushi com folhas de manjericão;

- cozinhamos esparregado com folha de abóbora;

- cozinhei abóbora recheada...


5 de abril de 2011

Rabo africano


Foto: Yumi Choi

Eu sei que o tema é sensível e que qualquer abordagem precipitada pode resvalar para uma zona perversa. Eu próprio senti isso quando pesquisava imagens na net. Fui muitas vezes parar a cenários que não procurava, embora os referidos também abordassem a temática, embora de uma perspectiva diferente, esclareça-se! Eu gostaria de falar do assunto de uma forma nobre (tanto quanto se puder) e manter o texto num patamar sóbrio. É porque há rabos africanos que são verdadeiras instituições. E mais uma vez, reforço, não me refiro aos glúteos de uma perspectiva sexual. Refiro-me às suas dimensões e ao seu peso (para além do físico) na sociedade. Não sei se são um fenómeno genético ou não (nem me interessa) mas sem duvida são um fenómeno real! Geralmente estão acoplados aos corpos das “mamãs”, esse ícone Africano, por quem tenho toda a admiração e respeito, muitas vezes atiradas injustamente para a sombra familiar, numa sociedade muito gerida por homens.

Rabos gigantes…

…que se resguardam debaixo dos panos das saias, como uma mochila nas costas das nádegas;

…que nos fazem afastar das filas, antes de vermos a dona do dito ou ouvirmos o “com licença”;

…que bamboleiam, às vezes meio tapados com mini-saia, de forma descomplexada, pela marginal da praia;

…que alberga as crianças a uma retemperadora sesta, nas formosas coxas;

…que faz sobra aos mais pequenotes que procuram abrigo nas saias de capolana;

…que ficam a vibrar uns segundos depois dos últimos passos, quando a dona pára;

…que dançam de forma mágica, fazendo esquecer a sua dimensão. Dançam independentemente do corpo com uma leveza que desafia as leis da física;

São uma herança…uma identidade!

Faça-se o dia Africano do rabo grande e preste-se-lhe a devida homenagem…


Ilustração: Yumi Choi