Carregam quase tudo à cabeça. Às vezes apenas uma catana, outras a trouxa inteira. Numa ginástica invejável exibem talento para carregar, horas a fio, os seus pertences, como se não fosse nada. Às vezes a carga até perde protagonismo, comparando com os filhos que levam ao colo ou pela mão. Começam desde novos, contribuindo com o que o pescoço infantil permitir, mas sentindo-se orgulhosos e colaborativos nos afazeres familiares. Deixo algumas imagens:
26 de agosto de 2010
À cabeça
16 de agosto de 2010
Corte arriscado
O colega estava assustado igualmente, mas não deu o braço a torcer. Tive a clara sensação de que a experiência com cabelos de brancos é escassa. Temi pelo meu cabelo, mas havia sempre duas saídas possíveis: uma a correr pela porta fora, a outra a andar dali com cabelo à escovinha. O 2º barbeiro fez uma autêntica visita ao meu coro cabeludo. Olhou de um lado, olhou de outro…e suspirou. Começou a por as mãos na “massa” e ia-me arrancando o escalpe. “Ouça”, disse-lhe eu, “se calhar é melhor molhar o cabelo”. Aproveitou a dica, mais para ganhar tempo e coragem do que para molhar propriamente. Temi o pior. Começou a cortar e senti as suas mãos a tremerem enquanto tentava puxar-me o cabelo para atacar com a tesoura. Cortou, cortou e, como tinha uma cadeira do meu lado direito a dificultar-lhe a passagem, entusiasmou-se a cortar…do lado esquerdo. Tive que lhe dizer: “já chega desse lado, o cabelo tem que ficar igual de ambos os lados!”. Pois, tem razão, respondeu… Já não temia. Secretamente tinha um plano de fuga: “máquina 1”. Mas nem foi preciso. Está um pouco torto, com pontas grandes e outras curtas, mas para o sofrimento que foi, da parte dele, está um trabalho razoável.
7 de agosto de 2010
Corais
No passado fim-de-semana fui com uns amigos explorar as maravilhas sub aquáticas que tenho na “minha praia”. Máscara e tubo emprestados, porque, verdade seja dita, nunca fui muito de mergulhos do género. Pequena caminhada, aproveitando a maré baixa e aí fomos, rabo espetado e olhos atentos.
Deixo-vos algumas imagens (fotografias a cargo de Stella e João):
1 de agosto de 2010
Circuito policial...
Numa indeterminada cidade de África regresso a casa à noite, conduzindo um carro novo em folha, sem documentos. Apenas com licença de circulação que, nos primeiros tempos é suficiente, mas pode dar facilmente azo a implicações. Opto por uma rua pacata para evitar loucuras de condutores que entornam o copo no volante, ou depositam a masculinidade em todos os cavalos que o carro tem. Ao fundo vejo uma lanterna no meio da estrada a mandar parar, um carro da polícia e logo ganho motivos para me arrepender pela escolha do itinerário!
- Boa noite, está frio, hã? – diz o polícia.
- Boa noite senhor agente. É verdade, mas é muito importante estarem a fazer este controlo na estrada – pensando contra mim, mas sendo sincero.
- Pois, mas estamos sem café, sabe?
Percebi de imediato a bela metáfora. E devo confessar que foi a abordagem mais rápida que algum polícia me fez com o intuito de pedir um ”valor”. Deixo a conversa fluir para ter a certeza de que ouvi bem. Não tenho a iniciativa de lhe mostrar os documentos. Aguardo que ele mos peça.
- Então e vai para casa?
- Vou sim senhor agente…
- Vai ter com a sua namorada?
- Mas isto é um posto de controlo social? Não tenho namorada, senhor agente.
- Como não?
- É assim…
- Mas tens que ter, é muito importante. Alguém para nos esperar à noite em casa, para falarmos no segredo dos lençóis.
- Pois! Mas quando é que ele me vai pedir os documentos? Mas sabe, parece que o meu destino agora não anda virado para aí…
- AAhhh…pois, fica só com as miudinhas, não é?...também é bom, mas precisas duma fixa, além das meninas que arranjas fora de casa. Uma fixa dá orgulho à nossa família, sabes?
- Boa, agora temos uma discussão de gestão do mercado feminino. Será que me vai impingir a sua filha, moça casadoira, em vez de me pedir os documentos?
- Como é então em relação ao nosso café? – voltando assim à bem conseguida metáfora
Não gosto de o fazer, mas dei-lhe uma nota, para beber o seu tão desejado café e não ter que expor a minha intimidade ali, naquela rua pacata.
No dia seguinte fiz uma inversão de marcha e, logo que retomo a nova direcção, sou mandado parar, naquilo a que chamaria de ratoeira. Parece que estavam à espera.
- Boa noite.
- Boa noite, senhor agente.
- Você anda bem, hã?
- Ando sim. Está a ver que até tenho cinto? Eu e o passageiro. – respondo eu, ainda mergulhado na ingenuidade.
- Então e aquele sinal, não viu?
Viro a cabeça e, no meio de árvores e cartazes de publicidade vejo o tão indesejado: proibido fazer inversão de marcha. Ei-lo ali, bem visível, e ao alcance de todos. PORRA, penso, agora tem razão.
- Senhor agente, não tinha visto! – curto e conciso, pois nestas alturas é o que sei fazer.
- Pois é, estava lá o sinal. E sabe que a multa é de 1000 meticais? (por volta de 23 euros)
- Não sabia, mas parece-me que só me resta pagar, não é?
- Será? – responde o polícia com um sorriso matreiro
- Mas estes polícias agora são peritos em metáforas e charadas? Que se passa?- penso eu
- Podemos resolver doutra forma.
- Bem, este só é especialista em charadas, porque de metáfora não tem nada! Mas…espera…estes tipos nem polícias de trânsito são. Passe a multa então, senhor agente. Acho que é o mais justo. – para ver como se descalça um polícia de segurança pública a passar multas de trânsito.
- Mas quer ir à esquadra?
- Se tiver que ser vou, senhor agente. Cometi uma infracção, devo pagar por ela. – eu na minha batalha de cidadão cumpridor, com o secreto conhecimento de que não poderia ser multado naquela situação.
Ali estava uma interessante charada: eu tinha infringido a lei, mas AQUELE polícia não me podia multar. Ele começou a ficar nervoso e a dar voltas ao carro.
- Bom, então e se resolvêssemos já aqui? – diz o polícia descalçando assim, de forma óbvia, a pressão.
O que se seguiu foi um capítulo que vou omitir neste texto. Basicamente regateei a “atenção” a dar ao polícia e segui caminho. Mais uma vez digo: não gosto de o fazer, mas às vezes facilita tanto! A história completa fica para contar à lareira, num futuro…
Umas horas depois, estaciono o carro noutra parte da cidade e, ao sair para a rua, vejo um aparato demasiado agitado em meu redor. Saltam dois polícias duma pick-up, em jeito de rusga, um deles com uma metralhadora a tiracolo. Será para mim?, penso eu ainda alheio ao que se estava a passar.
- ENTRE NO CARRO, MOSTRE OS DOCUMENTOS DA VIATURA E CARTA DE CONDUÇÃO. – diz um deles muito claro e mas vigoroso.
- Olha, é mesmo para mim. Mas o que se passa? Terei uma placa no carro a dizer: “agentes de autoridade, não tenho documentos, por favor mandem-me parar, chateiem-me e levem algum”?
- Não vou entrar dentro do carro. – digo eu já farto daquela novela toda. Novela de ficção, claro. Cabe na cabeça de alguém pedir aquilo?
- Facilite a situação. ENTRE NO CARRO, MOSTRE OS DOCUMENTOS DA VIATURA E CARTA DE CONDUÇÃO. – insistindo eles naquela ideia.
- Que será que me vão fazer? Obrigar a andar uns metros até pisar um risco contínuo e multar-me? Ou vão já encher-me de balas? NÃO entro senhor agente. Estou fora do carro. Se quiser mostro-lhe o meu passaporte.
Nisto há um outro carro que faz inversão de marcha num local proibido e de repente todo aquele aparato ganha nova direcção. Todos os polícias, carro de patrulha e metralhadoras apontam agora a um novo alvo e vão-se embora, sem sequer ver o meu passaporte, QUE ESTÁ LEGAL, BOLAS!
Quando fui ter com uns amigos, logo de seguida, pedi que me ajudassem: estarei a delirar? Não, André, é assim mesmo, já devias estar habituado – respondem. Pois, bem sei, mas acho que foi uma overdose de insanidade em tão pouco tempo, não estava preparado…