25 de novembro de 2017

Postais de Kyoto


À chegada…gente, gente e gente!


Organização nipónica. Linhas destintas para organizar quem, numa mesma paragem, vai apanhar autocarros diferentes. 


Os quilómetros que se andam com o lixo nas mãos, sem ter onde o colocar. Apesar disso as ruas quase passam o teste do algodão, de tão limpas que se apresentam.


Templos…


…e mais templos…


Petisquinho de polvo.


Visão de mercado. Pauzinhos de todas as formas e tamanhos, com possibilidade de cravar o nome. Boa ideia para fazer com garfos e facas personalizados.


Bicicletas para todos os gostos. Dos executivos às supermães. Faça chuva ou faça sol.


Jardins absolutamente encantados.


As gueixas já não são o que eram. Estão categorizadas mais como um elemento turístico do que outra coisa. Há as verdadeiras e há as de aluguer. As várias turistas que alugam um fato de gueixa por um dia de passeio espalham a beleza e a cor das vestimentas pela cidade…


A foto à foto. Em certos pontos turísticos a multidão é tanta e tão assanhada, que quase roubam a atenção ao protagonista.


Atenção cirúrgica na preparação da comida que é servida. Tudo conta: o prato, as cores, a disposição, os cheiros, a luz na sala. Meticuloso…


5 de novembro de 2017

Guia da refeição Coreana

Ao olhar para uma mesa de refeição Coreana o espanto é enorme! Pouca semelhança tem com a disposição da refeição ocidental e damos por nós a pensar: “como se come isto tudo?”, ou “por onde se começa?”.


Este texto serve de guia para não se passar fome na Coreia. Na realidade é muito mais difícil, mas os sabores são deliciosos…

1. Comecemos por perceber a estrutura, envolventes e alguns pontos de partida:
Para começar, sentamo-nos todos no chão, descalços, sem apoio para as costas. Para mim é, sem dúvida, o mais difícil na Coreia. Ao fim de 10 minutos tenho a sensação que nunca mais vou descruzar as pernas e que só me levanto com ajuda duma grua;

2. Os instrumentos ao nosso dispor são: 2 pauzinhos, uma colher e as mãos (na Coreia não há pudor em usar as mãos. O mais importante é que a comida chegue à boca). Durante a refeição não há guardanapos;


3. O prato individual de cada pessoa é uma taça de arroz, empapado e sem sal. Assim mesmo. E explico: o empapado ajuda a ser comido com pauzinhos (imaginemos a fome com que ficaríamos se o arroz fosse soltinho) e o arroz insosso serve para balançar o salgado que iremos encontrar no resto da refeição;

4. A sopa, ao lado do arroz, come-se durante toda a refeição. A Bia em Portugal ficou muito chorosa quando, num restaurante, lhe tiraram a sopa porque já estava a comer a carne. Choque cultural;


5. Existe um prato principal da refeição, que pode ser sopa, carne, peixe ou vegetais. No geral há muito pouca carne na refeição coreana. A não ser que o menu seja entremeada, ou intestino. Aí é carne até aos olhos…;

6. E depois há muitos pratos no centro da mesa com uma variedade ilimitada de ingredientes. Quase todos picantes e alguns muito picantes, que pegam fogo desde os olhos até ao estômago (e olhem que eu sou apreciador de picante!). Todas as pessoas se podem servir de todos esses pratos, usando os pauzinhos individuais;


7. Pode haver molhos, onde se irá mergulhar a comida antes de levar à boca. Quase todos os molhos são picantes…

8. O volume da comida costuma ser superior à soma de todos os estômagos, ou seja, sobra sempre comida. Este é um hábito Coreano que ainda faz confusão à minha mente Europeia e à minha educação! O que vale é que em casa a comida guarda-se para próximas refeições. Nos restaurantes há um desperdício chocante de comida;

9. Nos restaurantes ou em casa, para algumas ementas, parte da refeição pode ser cozinhada na própria mesa. É um ritual muito interessante, pois o cozinhar introduz a socialização na ementa, com todos sentados à mesma mesa;  



10. Para acompanhar, as bebidas. Os coreanos no geral bebem bastante. Dá um empurrão importante para romper a bolha da timidez asiática. Emergindo dum silêncio cerimonioso, riem-se, cantam e abraçam…


Principais opções das bebidas alcoólicas:
cerveja (5%)
Soju (20%)
Makolé (6%)


De um modo geral as refeições de cada um são uma espécie de “menu à medida”. Cada um escolhe o que quer comer, dos vários pratos dispostos na mesa.


Recapitulando

Desagregando a mesa principal, a área de acção de cada pessoa é isto: arroz como prato principal, sopa a acompanhar, prato principal da refeição e diversos pratinhos.


Sintam-se servidos. Agora que já conhecem os cantos à mesa, vamos comer…


Podemos ir escolhendo comida dos pratos que quisermos, buscando os nossos sabores preferidos. A sopa segue-nos do princípio ao fim. Quando o arroz termina, termina também a refeição. A não ser que se queira servir mais arroz e continuar.

O ritmo é alucinante e os pauzinhos não param. Geralmente não se fala muito durante a refeição. As conversas ficam para quando se terminar a comida, acompanhadas apenas de bebida. Quando se está no restaurante existe um botão na mesa, para chamar o empregado de mesa e não desperdiçar energia com mimicas variadas para obter a atenção desejada.


Alguns empregados de mesa não andam. Correm!


Das primeiras vezes que comi com a família Coreana, sempre que pousava os pauzinhos, perguntavam-me (através da Yumi, evidentemente) se eu não estava a gostar da refeição. Eu dizia (através da Yumi, evidentemente) que estava a fazer uma pausa para mastigar, para apreciar sabores e respirar. Nunca mais esquecerei o olhar da anciã na mesa: “estranhas manias, este Europeu”, deve ter pensado ela.

Quando dois braços precisam de se cruzar para ir buscar comida na mesa, não há tempo para diplomacias e prioridades. Criam-se níveis de alcance onde, geralmente quem vai ao prato mais longe fica por cima…e a refeição contínua, sem interrupções, sem necessidade de controlo aéreo.


À medida que segue a refeição, vamos picando dos vários pratos, bebericando a cerveja e degustando a sopa. Quando o nariz pinga e o suor escorre já é tarde para perceber qual o prato picante na mesa, ou qual deles é mais picante, pois quase todos o são, sendo que a cor vermelha geralmente é um bom indicador. Os olhos ardem, mas não há tempo a perder. Toda a gente manuseia os pauzinhos num bailado em andamento allegro com o objectivo de exterminar a comida. Devemos acelerar a respiração para compensar a acção do picante no corpo e continuar.


É que tanto quanto já vi, os Coreanos praticamente não mastigam. Duas ou três trincadelas e engolem, enquanto os pauzinhos já foram buscar mais comida. Ininterruptamente até o disjuntor estomacal disser “estou cheio, pára” e abandonam os pauzinhos.


No final a mesa parece um recinto em fim de festival, contando a história do êxtase que se viveu…


Bom apetite