28 de abril de 2010

Duas mulheres

6h30 na nova casa e puf, vai-se a luz! Normal, penso eu…há cortes um pouco por toda a cidade, de curta duração. Não me ralei. Depois do trabalho ainda não havia luz, o que já não é tão normal. As casas à volta gozavam dessa maravilhosa descoberta iniciada no séc. XVI. Então agora é que não é nada normal! Faço a verificação da praxe aos disjuntores e tudo me parece OK.
Nas redondezas estavam 2 guardas que vigiam as casas. Estavam aparentemente por ali, mas cheirou-me que estavam à espera de mim para me lançar a ajuda, leia-se facilitação de contacto para desenvolvimento hipotético de negócio. Assim foi. Com um deles no carro, a cheirar a um suor acumulado, dei por mim a conduzir dentro de um musseque pouco iluminado, sob orientações gestuais do meu “agente”. Um serpentear por canas de vedação, pequenas machambas, lixo, árvores, crianças a correr, chegámos à casa do electricista. O meu “agente” vai ver do electricista, mas entra no carro e diz:

- Ele não está aqui…está com a outra mulher…

Arregalei os olhos em silêncio, tentei virar-me para o meu “agente”, sem que ele se apercebesse do meu espanto, mas só o consegui ver pelo canto do olho. Tinha algo para dizer, mas nada me ocorreu para além dum óbvio “AH”. Então nada me saiu da boca, meio aberta pelo espanto, mas ele antecipou-se:

- É que ele tem duas, nunca sei onde está!
- E não fica complicado ter 2 mulheres? – disse eu, pensando que às vezes apenas uma já não é fácil.
- Nada! O que dás a uma tens que dar à outra…
- AH, elas sabem uma da outra? – perguntei eu, na minha inocência europeia monogâmica.
- Claro. Tem é que se saber lidar com a situação. Se se dá bons tecidos/comida a uma tens que dar também à outra, senão vão começar a refilar muito.
- E filhos? Tem das duas? – sabendo de antemão a resposta.
- Pois, se fazes filhos a uma tens que ir logo fazer à outra…senão vais ter problemas sérios!
- E elas têm direito a ter mais do que um marido? – insistindo eu nas modernices europeias de igualdade de direitos
- Nada. Não pode!
- OK. Percebido…parece-me lógico! - e riu-me com a naturalidade de tal situação.

A electricidade, que no fundo foi o motivo para ter e introduzir esta conversa na Tertúlia, já está arranjada…

23 de abril de 2010

Destacado para PEMBA


O projecto onde estou inserido debruça-se nas quatro províncias do norte de Moçambique.E quando digo debruça-se não é um mero estar à janela a olhar para o norte. É estar lá fisicamente e, para isso, é preciso enviar malta para os locais. Trabalhar diariamente com as instituições envolvidas, fazer saídas de campo e dar a formação necessária. A mim calhou-me a província de Cabo Delgado, onde já me encontro e que passo a apresentar-vos:

A província de Cabo Delgado é uma das responsáveis pela fronteira com a Tanzânia. Tem uma área equivalente a 85% do território de Portugal e tem uma extensa frente de mar onde, ao longo de 200 Km de costa, se estende o arquipélago das Quirimbas, com 32 ilhas. Os grupos étnicos predominantes são: Maconde, Macua e os Mwani.

O clima é húmido tropical, onde as temperaturas médias anuais oscilam entre 22°C e 32°C. A temperatura da água do mar varia entre 25°C e 30°C. E no inverno (época seca) a temperatura média durante o dia é de 28ºC. Por a palavra "frio" não consta do léxico local. A capital da província é Pemba, uma cidade histórica, com cerca de 140 mil habitantes, situada numa baía que é considerada a terceira maior do mundo.

A praia, o mergulho, as actividades náuticas e o relax são a grande atracção turística. Uma das maiores fontes de rendimento é o mar, com a pesca de peixe e camarão, de todos os tamanhos e feitios…

Ficarei baseado em Pemba, onde já arranjei uma casa…perto da praia, claro! Mas não por comodismo. Porque quero ter um lugar apropriado para receber as vossas visitas!!

A sua latitude é de cerca de 13º Sul…o meu número da sorte!

Os meus pertences à chegada pesavam 54 Kg, divididos em duas malas e o desafio espreita. Mapas, leis, formação, muitas viagens em picadas, a comer pó se prevêem no interior da província.E assim será a minha vida, pelo menos, nos próximos 2, 3 meses...1 ano! Desconheço o tempo que ficarei aqui...

20 de abril de 2010

Artesanato da Suazi

O artesanato na Suazilândia é algo surpreendentemente bonito. Desenhos "movimentados", coloridos e imaginativos. Velas de toda a forma, feitio e cor. Panos bem coloridos. Cestos de verga. Brincos em lata. Colares feitos de revistas…

Enfim, uma panóplia imaginativa que resulta numa variada oferta…





15 de abril de 2010

Paisagens da Suazi

A Suazilândia é um pequeno reinado com cerca de 17300 Km2 e uma população pouco maior que um milhão! Faz fronteira com África do Sul e Moçambique e está muito ligado ao primeiro, seja na língua, cultura ou moeda. Aceitam, sem nenhum atrito, notas da África do Sul e da Suazilândia. Apesar de serem visualmente diferentes, têm o mesmo valor…

A estrada nacional que nos traz ao interior da Suazilândia oferece-nos uma breve passagem, por alguns quilómetros, no interior duma reserva natural. O que significa que, em viagem pelo país, temos a probabilidade de ver “bicharada” sem nos desviarmos da estrada principal!! Conseguimos ver girafa, impala, gnus e zebras…


Antes de deixar Moçambique, já se começa a ver uma mudança na paisagem ao fundo, no horizonte, com o surgimento de montanhas. Ao entrar na Suazilândia, as montanhas impõem-se em tamanho e aproximam-se. Entramos em cenário alpino, com o frio a afirmar-se também. Chegámos a sentir 15ºC…e temi o pior! Temi que se aproximasse nova Era glaciar… Mas sobrevivi.
Um dos troços da estrada, a mais de mil metros de altitude, fizemos com visibilidade reduzida a alguns metros. A paisagem estava afundada numa cortina de nevoeiro. Nada vimos!
Vimos no dia seguinte, no regresso, o cenário bonito de montanhas…




O lodge onde ficámos era de muito bom gosto, muito simpático, confortável e bem localizado. É próximo de uma albufeira onde, ao que me deu a parecer, se fazem grandes campeonatos de pesca. Onde, numa primeira observação, até imaginei a prática de desportos náuticos. Até ver a placa: “Be aware of crocodiles”. Aí as ideias mudaram um pouco!








9 de abril de 2010

Queda de cocos...


http://images.buycostumes.com/

Não sei se têm conhecimento ou não, mas existe um mito em Moçambique que já ouvi várias vezes: “a maior causa de morte no país é a queda de cocos”. Tenho comentado com algumas pessoas e, umas sabiam e confirmavam, outras sabiam mas torciam o nariz, outras nunca tinham ouvido falar, outras riram-se…

A morte por queda de cocos não tem nada de científico ou oculto. É simples. O fruto tem uma casca dura e as árvores costumam ser altas. Quando é atingido o ponto de maturidade, o coco cai e, se aterra na cabeça de alguém, pode fazer estragos que, nalguns casos pode mesmo ser a morte. Ponto.

Agora, em conjunto, pensemos:

1)A malária propaga-se facilmente pela picada de um mosquito. É uma doença que, quando não é tratada, provoca elevados níveis de óbitos. É responsável por quase 50% das mortes de crianças até aos 5 anos

www.angolaemb.se


Facto que, na generalidade, faz das crianças com mais de 5 anos, pequenos guerrilheiros de sobrevivência!

2)O SIDA é um flagelo universal. Em Moçambique, como noutros países africanos, devido à cultura, aos maus hábitos, à pouca informação, etc, o SIDA propaga-se com demasiada facilidade.

3)Vários jornais noticiam a morte de pessoas, principalmente nas zonas rurais, devido ao impacto da co-habitação com animais selvagens. Factor que tem levado o governo a investir largos milhões para amenizar a ferocidade selvagem. Destaco apenas alguns:

Crocodilo: assíduos ocupantes de zonas aquáticas, apanham os populares desprevenidos quando estes fazem a sua colheita diária de água;

http://www.dikarem.net

Cobra: há uma panóplia variadíssima de tipos de cobras em Moçambique e, quase todas venenosas. Algumas muito venenosas mesmo. E estas dispensam apresentações;

www.imagebank.ipcmedia.com

Hipopótamo: esse simpático herbívoro de previsível mau hálito mata mais pessoas que leão, búfalo, elefantes e rinocerontes juntos!!

www.bicodocorvo.com.br

É um animal muito territorial e, quando encontra alguém no seu caminho, cumprimenta-a com uma dentada que pode chegar a uma força de cerca de 800Kg. Se não for a dentada é a pisadela;

4)Um dos grandes efeitos colaterais, na minha opinião,que a guerra deixa, são as minas. Moçambique não é, felizmente, um país muito crítico neste aspecto, mas existem algumas. Activas por muitos anos e de localização desconhecida, apresentam uma fatal surpresa para quem tem o infortúnio de as encontrar no caminho;


www.africanidade.com


5)E por fim, os acidentes, de vários tipos, sendo os maioritários, talvez, os de viação, como em muitos países do mundo…

E…com isto tudo…a maior causa de morte poderá ser a queda de cocos?!?

É como um soldado, num cenário hostil de guerra, morrer porque se engasga numa espinha, não?

Para que fique claro, deixo aqui as más novas, ou pelo menos as noticias do mal inevitável. Tendo por fonte o Instituto Nacional de Estatística, os números são:

Mas não quero acabar este post com a nuvem da morte a pairar, até porque há muitas outras coisas interessantes a fazer antes disso! A morte tem que vir no fim da lista de coisas a fazer na vida…

O texto tem como objectivo dissipar este mito ilógico e, por favor, espalhem a mensagem…se ficaram convencidos com os meus argumentos.

Quero acabar o post a falar, precisamente, da quantidade de vida que se gera neste país, que é o 26º país, no ranking mundial, a gerar nova vida… O país está, aliás, num verdadeiro berço da natalidade, ou não fosse chamado o continente mãe!


Wikipédia

Poderia continuar a falar da esperança de vida, do crescimento, etc…mas talvez fique para outro post…

O que interessa é que:

- o mito dos cocos se desfaça;

- a principal causa/efeito de nascença continue a ser um sorriso…


6 de abril de 2010

Fotografias dançantes

A ideia é antiga, a oportunidade surgiu agora: fotografar detalhes da duma dança de pares que pode ser, nalguns casos, muito sensual. O toque, o movimento, etc... Consegui, através duma escola de tango aqui em Maputo , assistir a um ensaio com a máquina na mão e licença para disparar.

Houve dificuldades técnicas com que me deparei para tirar as fotos, tendo também a preocupação de não fotografar caras, para não ferir susceptibilidades. Mas o 1º passo da ideia está dado. Ficam aqui alguns registos, duma primeira série, que fazem parte do que eu gostaria de chamar uma ideia com perna para dançar:








Resta-me agradecer aos dançarinos por me terem dado um belo motivo para fotografar.


3 de abril de 2010

3 anos de Tertúlia


No preciso momento em que está a ser publicado este post, são comemorados 3 anos de Tertúlia Africana! Não publiquei continuamente, mas tenho feito registos sempre que estou fora, neste caso, em África! Um país, uma aventura, 2 países, outras tantas e já lá vão 3 países visitados pela Tertúlia, muitas histórias e fotografias do continente mãe...

Muitos dizem que África me inspira, outros dizem que estou como peixe na água. Eu não sei bem. Sei que fui contagiado pelo "bicho África" há algum tempo e me vou sentindo bem por aqui e isso reflecte-se...
Dá-me imenso gozo escrever as histórias e partilhar na blogosfera! Dá-me ainda mais gozo ter as pessoas desse lado a lerem e a darem-me feedbacks, acompanhados de sorrisos! Merece certamente um brinde, que o faço com vocês, embora virtualmente. Deste lado, claro, com Laurentina!

Continuarei a escrever até que os dedos me doam...