29 de fevereiro de 2016

A farm in Africa

Para lá do cliché “A Farm in Africa”, dum filme que ainda não consegui ver (adormeço sempre) ter uma quinta em África é das coisas que mais me faz sentido por estas bandas. Estar em contacto permanente com a natureza e estar na fonte da produção. Aqui não é fácil o isolamento, a logística e os recursos humanos mal preparados. São as maiores dificuldades que se vivem. De resto, é lindo!

O quarto tem uma vista monótona, mas que nunca cansa: verde das folhas e o sol a despertar-nos às 5h da manhã.

Às 6h e pouco vai-se buscar leite à vaca, que até nos agradece pelo alívio. 


O resto da bicharada anda mais ou menos livre, passeando, comendo e ruminando.


Selvagens e tímidos, ao ponto de se afastarem da pequena Bia.


Mas na hora do passeio, a passagem é pequena para tanta ânsia…



O destino do gado já se sabe: carne que nos cai na mesa à refeição. Um matadouro preparado, uma equipa trabalhadora e mãos à obra (não coloco mais fotos, para não ferir sensibilidades).



A paisagem durante o dia continua monótona, sempre linda, e apesar da pouca chuva o que se vê mais ainda é o verde!


São as árvores que nos balizam o campo de jogo, e algumas participam. De pé descalço, tive dificuldades perante os meus experientes adversários juniores. Entre chão a escaldar, troncos e pedras a picar os pés, tinha que ir escolhendo melhor as áreas do campo onde actuar. Para eles tudo parecia alcatifa…


Um dos serviços à comunidade é a moagem, para fazer farinha. Toda a manhã o motor não se cala…


Outro dos serviços à comunidade é a loja e a assistência médica.

Na loja quase tudo se vende: comida, cadernos, carne (claro!), produtos de limpeza, etc… Vendido a preço reduzido, incentiva a comunidade a gerir o seu dinheiro e a fornecer-lhes produtos básicos, que doutra forma tinham que os obter na cidade, a 2 horas de carro.


 Para a assistência médica é preciso estômago. Digo eu que estou mais habituado a mapas e aparelhos de topografia. Os casos que chegam, além de variados, obrigam a um prognóstico rebuscado e uma exigência de resolver. Chegam alguns casos onde pouco resta fazer, sabendo que a morte está próxima, o desafio é gerir um fim suave…

Aqui não é uma questão de viver sem bicharada, aprende-se a viver com a bicharada. Alguns espécimes desconhecidos, nunca vistas nem no National Geographic. Nunca é tarde para tirar fotos e catalogar. Sabe-se lá quando é uma descoberta nova... 


 Outros espécimes mais conhecidos, e alguns temidos. Nas primeiras noites tínhamos sempre ratos do campo no quarto. Mas para isso tínhamos também o pequeno (terrível) Ruca. O cão conhece perfeitamente a sua missão. Proibido de entrar em casa, excepto em momentos de caça, entra, empenha-se seriamente no seu trabalho e só relaxa quando “há sangue”, quando o rato já não vai a lado nenhum. Como prémio recebe umas palavras de elogio e toca de ir lá para fora outra vez. É muito profissional.


 Como disse no post anterior, o menu nunca vacilou. Aqui um exemplo de Potjie cozinhado em panela de ferro. Prato que leva horas a fazer, mas ninguém se importa com os ponteiros do relógio. Relógio?, onde deixei o relógio?, o que é um relógio?


À falta de praia, arranjam-se piscinas quase naturais, com água fresca e vista privilegiada. 


 Os momentos de ócio ocupam-se com tarefas altamente importantes (neste contexto!): o disparo de pedras a objectos nos troncos. Também aqui os atiradores juniores dominavam a técnica. Com 2 ou 3 disparos deixava de haver objectos nos troncos. Se um dia for modalidade olímpica, conheço alguns potenciais campeões.


 Nem estando longe o pai natal se esqueceu de passar a deixar presentes. De calções por causa do calor, mas com as suas inconfundíveis barriga e barbas brancas.


Os passeios dentro da quinta parecem sempre diferentes, e são mesmo! Com 2000 Ha, há sempre muito por onde explorar e os cenários são sempre diferentes.

Na caixa duma pick up, ali vai a Bia toda contente com o cabelo ao vento. Um dos nossos juniores carrega a pressão de ar, arma na qual é especialista. Mão firme, olhos atentos, para detectar as rolas antes de qualquer outra pessoa.


 Há oportunidade para uma viagem em família “à africana”, ensanduichados numa mota. É certo que faltam mais duas crianças, o saco da trouxa, uma galinha pendurada no volante, o bidon de gasolina, o saco do carvão, um cabrito na parte de trás, mas há que começar os hábitos de alguma forma.


 E as sestas ao ar livre. Que poderei dizer sobre as sestas…?