31 de março de 2008

Miss Mina

O governo de Angola está a promover um concurso de beleza entre mulheres...que tenham sido afectadas por minas. A guerra civil em Angola deixou um rasto engenhos explosivos como não há noutro país Africano.
Numa primeira abordagem, até pode parecer uma brincadeira de mau gosto, um acontecimento desagradavelmente invulgar! Mas num país onde, por ano, são afectadas cerca de 400 pessoas, este é um tema para o qual muita gente deve estar sensibilizada. Quem passa numa mina vê a sua vida alterada em segundos. As armas frias e estratégicas durante um cenário de guerra, são agora dispositivos fatais deixados em terrenos onde as pessoas tentam refazer as suas vidas. Amputações, lesões graves ou morte...e todos estão sujeitos!
Neste link poderão ver algumas fotos das candidatas. Dezoito mulheres, representativas das dezoito provincias, deram a cara por esta causa. Não deixo de ficar sensibilizado com a entrega delas. Apesar de todas estarem visivelmente (e invisivelmente) marcadas pelo flagelo, entregam-se nesta causa, mantêm-se bonitas e seguem a vida possivelmente normal...
Parabéns às misses que, na minha opinião, já ganharam todas.
Parabéns à iniciativa.

25 de março de 2008

Luanda by night

Gosto de fotografia, gosto da agitação citadina, gosto das cidades vestidas de noite. E aqui está um conjunto de requisitos que me deram a ideia de um raide fotográfico nocturno por Luanda. Como qualquer ideia que se queira pôr em prática, também esta viu os seus contornos serem planeados:

- Andar a pé na rua seria impensável. O melhor que me poderia acontecer era roubarem a máquina fotográfica;

- O uso de um tripé daria muito nas vistas e seria, no contexto, logisticamente complexo;

- A mobilidade fotográfica na cidade não é a mais livre que já experimentei;

- Usar flash dá muito nas vistas…quereria dizer: “FLASH…estou aqui!”

OK, complicado, mas não impossível. Contornei todos estes problemas de forma a fazer o raide fotográfico e enriquecer a Tertúlia com mais uns registos…agora nocturnos!

Deslocação automóvel, roupa discreta, movimentos estudados, percurso 70% pensado e todos os sentidos alerta! O registo fotográfico que vos apresento não é de qualidade superior. Digamos que tecnicamente fica mesmo muito a desejar. No terreno deparei-me com alguns problemas:

- Fiquei sujeito a engates furtivos, quando uma transeunte me sugeriu que a fotografasse;

- Cercado de gente suspeita ouvi, a dada altura: “Eh…a tirar fotos aqui? Olha que aqui tem bandido”. Fiquei sem saber se era ele próprio a apresentar-se, se ele iria avisar algum profissional, ou se não tinha mesmo mais nada que fazer senão chatear-me;

- Uma inconveniente operação STOP que, em nada relacionada com o raide, ainda deu trabalho! No meio da conversa, da procura e mostra de documentos, tive que esconder a máquina para não dar azo a curiosidades! E ainda fui “multado” por uma manobra legal…

- Os seguranças dos prédios estranhavam a passagem lenta de um carro…com um branco lá dentro. Houve mesmo um que se expressou: “Tas a andar muito devagar…”

É assim a vida da Tertulia! O catálogo que apresento, como já disse, longe dos mínimos técnicos, vale pelo registo. Vale pela intenção, pela ideia e por mais uma aventura tertuliante. Comecemos pelo fim da tarde...e entremos pela noite...


3 Cenários numa só foto: edificio antigo, ilha sufocada e cargueiro ao largo.

Uma perspectiva menos usual da cidade de Luanda. Ao fundo, do lado direito, fica o forte, que é o ponto de fotos mais comercial.

O porto de Luanda, que vive em constante turbilhão. Guindastes, contentores, camiões acompanham o BOOM de Importações/Exportações.

Boom de trânsito também, que o porto tem mostrado não aguentar. Ao sobrevoar Luanda temos a visão de centenas de "ilhas" luminosas à espera da sua vez de descarregar...


Retiro religioso de fim de tarde. Um grande número de igrejas representam uma lufada de ar fresco nesta imensa floresta de betão degradado. No meio de quarteirões escuros surgem-nos, imaculados, estes locais de reflexão.

O musseque nas traseiras da fortaleza.


Este é um edifício que reúne um grande número de coincidências. Com este belo nome, foi o primeiro edifício que me chamou à atenção na minha primeira chegada a Luanda. O Hotel Alvalade, localizado no bairro com o mesmo nome, é agora o meu vizinho do lado... Vivo então no bairro onde muito procurei casa (Alvalade - LX) mas 7000Km abaixo...


A excentricidade deste ecrã de rua perturba-me! Numa cidade onde o abastecimento eléctrico é um problema...eis que surge um monstro destes a debitar luz para toda a praça, com anúncios e algumas notícias.

O palácio do ministério das relações exteriores, com o BPC por trás.


O novo vistoso edifício da Sonangol. Vai ser inaugurado dia 4 de Abril (dia da paz) e, diz quem viu, que o interior é algo de assombroso. Tecnologia, espaço, elevadores, parques de estacionamento, etc...Mas, deixem-me que faça o reparo: outra vez a insistir nos vidros neste país de calor?

Uma rua, dois lados, duas eras...um "tal" boom de crescimento é visivel, certo?



















Marginal...dia e noite.




Também durante o dia e a noite se continua a trabalhar areia na zona da marginal.














Banco Nacional de Angola...dia e noite.

18 de março de 2008

POST100

Pois é, a Tertúlia chegou ao centésimo registo! Como é comum nestes marcos históricos, faz-se uma festa e a que faço é para os leitores que têm acompanhado esta aventura.


Este blog começou na minha vinda para Angola, por um ano de experiências. Tinha como objectivo reportar histórias do lado de cá, que eu sabia, à partida, que tanto haveria para contar…e continua a haver! Quebrada a minha inércia “web-tecnológica”, quebrada a ignorância “bloguista”, eis que se formou a Tertúlia…e não mais parou!
Tem-me dado imenso gozo escrever as experiências, arranjar fotografias e ter o desafio de escrever alguns assuntos interessantes…o que por vezes até acontece! Tento fugir do “Angola no seu melhor” porque neste turbilhão de cenários há muitas situações caricatas…algumas surgindo por algum choque cultural e outras porque o Angolano é único no mundo! Tenho evitado pisar numa realidade que muito tem que caminhar para chegar a níveis sociais aceitáveis. Na minha opinião, Angola precisa que a empurrem, que a puxem, que a amparem, mas não que a pisem!

Optei por fazer notas pessoais e notas gerais, de um país especial que é Angola, algumas positivas, outras negativas…é assim a roleta real!

Agora que a Tertúlia Africana caminha para o fim, relato-vos algumas surpresas que fui tendo ao longo da existência do blog. Um fim que prefiro referir como relativo, digamos fim da 1ª edição. Eu e África damo-nos muito bem e, provavelmente, voltarei a estas paragens. Fiquei surpreendido com os comentários frequentes, com o número de visitas, com as pessoas anónimas, com o interesse de um grande número de pessoas. A Tertúlia tem muitos e diversos leitores. Há leitores muito participativos, deixando sempre um comentário, por mais pequeno que seja, mas reforçando uma participação intensa. Há leitores que lêem os post’s e preferem comentar-me pessoalmente, por mail. Há leitores que apenas fazem comentários gerais. Há leitores muito atentos, estando muito actualizados sobre o último post’s. Há leitores menos frequentes, mas mesmo assim, pontualmente interessados. Fiquei radiante quando, por mais que uma vez, alguns colegas que vivem cá, me elogiaram alguns post’s: “Boa André, acho que conseguiste mesmo relatar a situação!”

A comprovar o meu espanto estão os números do Google Analytics que controla o tráfego de determinado endereço de Internet. Registei a Tertúlia no final de Junho e, a partir daí os números têm vindo a aumentar, assim como a minha (agradável) surpresa.

A Tertúlia Africana já foi visitada por 6936 IP’s diferentes, e conta, até hoje, com 10950 exibições de página, ou seja, vezes em que o blog foi aberto, independentemente do IP.
Em média, na Tertúlia, são consultadas 1,58 páginas por visita, o que quer dizer que metade das pessoas explora mais do que apenas a página inicial. O tempo dispendido pelos interessados leitores é, em média, de 1m 57 seg (bem podiam ler com mais atenção pá!). E neste mundo dos blogs, que passei a conhecer um pouco mais, descobrem-se coisas muito engraçadas…imaginem só a Tertúlia, página criada fisicamente no Bairro Alto, em Lisboa, a ser aberta em mais de 60 países mundiais!!


O ranking é: Portugal (5207), Brasil (547), Angola (529), Bélgica (133), Espanha (124), EUA (71). É óbvio que a Tertúlia está, por vezes, a ser aberta por engano nalguns países. Fruto de procuras nalgum motor de busca e que influenciam o desvio a este cantinho de histórias, mas não deixa de ser engraçado pensar que a Tertúlia já foi aberta, pelo menos uma vez, em países como a Costa do Marfim, Filipinas, Indonésia, Uruguai, Emirados Árabes unidos, Macao e Rússia, por exemplo.

Resultante destas “pesquisas colaterais” está o encontro da Tertúlia através de palavras-chave. Algumas hilariantes como por exemplo:
- Lobito casas para venda;
- Instrumentos de musica;
- Imagem de Tapete Africano;
- Semaninha ponto cruz!!! (esta é linda!).

No ranking das cinco palavras mais frequentes, além das palavras óbvias, que identificam o blog, encontram-se dois termos “caídos do céu! Uma delas, a Juthylde, é o nome duma tia minha!!!, que ainda nem referi no blog…e esta palavra é usada, imaginem, 372 vezes!! Depois temos o Bichocao, pseudónimo de um dos mais atentos leitores do blog!!! Ao todo, foram usadas 107 palavras chaves diferentes…

Para finalizar este post, refiro a origem da afluência dos leitores, com 31,82% a chegarem à Tertulia pelo seu "próprio pé". Vindo de sites de referência, existem 31,74% visitantes. Números para os quais contribuem muito os blogs da amigas Macacas (17%) e o cantinho da Fada (3%).

Obrigado a todos.
Futuros post’s surgirão, até ao final da 1ª edição e depois, quem sabe noutros países, noutras viagens…

12 de março de 2008

Turismo...pois!

Saíram recentemente duas notícias, que me chamaram a atenção e que partilho com vocês…as notícias e a atenção. A primeira refere que o número de turistas em Angola é de 250 a 300 mil por ano. À primeira vista é uma cifra fantástica mas, parando para pensar um pouco, assolam-me algumas dúvidas. Este número coloca Angola a um nível de turismo equiparado com as, agora mais populares, republicas da Estónia ou Letónia (segundo estudo EUROSTAT). Facto que custa um pouco a crer…por…razões óbvias!


Na continuação da noticia, a ambição deste número de turistas é “numa primeira fase, de 500 mil turistas”. Só não dizem o timing desta primeira fase! Toda a gente em Portugal, neste momento, conhece directa ou indirectamente, alguém que trabalha em Angola, certo? Mas conhecem alguém que cá venha com o estrito propósito de fazer turismo? Pensem bem…nem que seja um rapaz que ajudava na oficina do marido daquela senhora que era mãe duma rapariga, namorada de um gajo com quem jogaram à bola uma vez há não sei quanto tempo! Pensem bem…

Ou será que este número te a ver com os requisitos fronteiriços que Angola impõe? Toda a gente precisa de visto para entrar em Angola. Os vistos de trabalho são difíceis, caros e nem sempre as empresas querem fazer de imediato esse investimento. Resultado: numa primeira fase de estadia, a maioria das pessoas entra com visto de turista. Bem treinados, à chegada à alfândega, quando inquiridos sobre o motivo da viagem, a resposta é mecânica: turismo!

Na segunda noticia falam dos residentes estrangeiros, em Angola. “Mais de 70 mil estrangeiros vivem legalmente em Angola, dos quais 35 mil com visto de trabalho, 20 mil residentes, 15 mil refugiados ou exilados.” E deixem-me que faça o reparo, ninguém mora cá “em turismo”. Este número de estrangeiros choca com o adiantado pela TVI numa reportagem onde atirava o valor de 200.000 portugueses em Angola. Para esta conta não tenho fórmula…70.000 estrangeiros, dos quais 200.000 são portugueses!? Será um sistema de integrais complexos e variáveis imaginárias?

Na mesma notícia, muito detalhada em números, constam os números de vistos concedidos no “primeiro trimestre deste ano”. Entendo como “este ano” o ano passado, visto que, apesar da notícia ter saído este ano, o respectivo primeiro trimestre ainda não terminou! São reportados 24054 vistos ordinários (de turismo) e 7312 de trabalho.

Estas contas são mais fáceis, se dividirmos 250 mil turistas (fazendo o cálculo por baixo) por 4 (números de trimestres num ano), obtemos o valor de 62500 vistos de turismo por cada fase de três meses. Este valor exige um fluxo de vistos de turismo 2 vezes e meia superior ao que é reportado pela segunda noticia.


Há então uma grande confusão no turismo em Angola, talvez confirmada pelo ministro do interior, que acha que “o quadro jurídico-legal vigente em Angola é demasiado restritivo e limita a emigração de força de trabalho especializada e dos investidores”. E que Angola precisa de trabalho especializado é um dado adquirido! Não digo que Angola não tenha atracções turísticas de realce. Tem locais de grande beleza e as pessoas, principalmente fora de Luanda, são de sorriso fácil e muito acolhedoras. No entanto, até lá, terão que ser criadas condições apropriadas. O preço da viagem é elevado, as estradas não estão nas melhores condições…condições que tardam em chegar a julgar pela condução louca dos Angolanos que não ajudam nada, mesmo numa pista de asfalto. Os hotéis estão “à pinha”, havendo mesmo quartos alugados por empresas…ao ano. Empresas de turismo, cálculo!! Até chegar a um patamar de destino de férias, Angola tem que trabalhar muito, é certo. E hoje em dia trabalha-se muito no progresso deste país mas, na minha opinião, nem sempre no bom sentido.


É mesmo o próprio ministro do interior que coloca a questão na mesa, dizendo que “Angola é destino de migração porque ao seu território convergem africanos, latino-americanos, asiáticos e alguns europeus em busca de vida que lhes proporcione o enriquecimento fácil”. Pois é senhor ministro, concordo! Tenho vindo a aperceber-me que Angola está a ser devorada, à dentada, por interesses pouco construtivos. Tem vindo a progredir, é certo, mas parece-me que “estão a construir a casa pelo telhado”.

7 de março de 2008

À boleia...

Neste post não falo de nenhuma reportagem vivida pessoalmente. Falo de um amigo que tem optado por um percurso diferente de vida. Um percurso de vida, ou percurso na vida…viajar por esse mundo e conhecer outros tantos! Outrora vivendo na ânsia de viajar, de descobrir, decidiu largar tudo e arrancar. Largar tudo é largar o conforto do lar, largar faculdade e dizer “até breve” aos amigos. É uma forma de vida que admiro, porque não deve haver dias nada fáceis. É uma atitude que respeito porque reagiu a tempo de correr atrás de um sonho pessoal. Tendo, em primeiro lugar, viajado de transportes públicos, arranjou depois uma “casa ambulante”. Uma carrinha Mercedes bem antiga, que tive o prazer de visitar por dentro e…até forno de lenha tinha!! A mecânica é da sua inteira responsabilidade e o motor consume uma mistura qualquer de óleos que lhe dá um aroma inigualável de batata frita saindo do escape.


Nos tempos mais actuais, este viajante optou por se aliviar ainda mais da logística e tem percorrido, à boleia, diversos locais. Felizmente não desligou totalmente do mundo e vai visitando a Internet, além de alguns encontros esporádicos em Lisboa. Assim vou-me informando das suas coordenadas mais actuais. A última aventura, já a decorrer, é ir à boleia até ao Burkina Faso. E porque não? Vai lá para conhecer, vai lá para aprender música, vai lá porque sim…enfim, viajar e indagar novos horizontes. Uma vez que esta aventura inclui o continente Africano, uma vez que a aventura tem contornos largamente tertuliantes, decidi reportá-la no blog…

BOA VIAGEM Guiga…

4 de março de 2008

Eu por cá...

Para além de viver, neste momento, no hemisfério sul, vivo também no verão. Durante a semana vai-se tolerando o calor tórrido, mas ao fim de semana...a conversa é outra. O rumo dos últimos fins de semana tem sido PRAIA!! Aqui ficam algumas imagens para fazer alguma inveja:


Praia deserta

Relaaaaxxx


"xequinhas", claro...CUCA, bem entendido!

Na reportagem a seguir só faltariam fotos da pesca! Não se deu o caso, comprámos o peixe directamente a uns pescadores que desembarcaram na praia. Peixe fresquinho, arranjado num belo local de trabalho, lavado no mar e...toca de pô-lo em cima da brasa!

Desta vez a logística aumentou consideravelmente. Montámos uma esplanada em pleno areal. Mesas, cadeiras, chapéus que cheguem, grelhador e duas arcas térmicas...


Os companheiros de sempre...muito agitados, vão partilhando as ondas connosco.



...o resto é paisagem!