31 de janeiro de 2008

Feitiço

Esta notícia nem de encomenda! Mesmo a propósito do post anterior...eis um dos lados da história de pessoas "despejadas" na rua.

Igreja Católica em Angola recupera crianças acusadas de feitiçaria
Doze crianças acusadas de feitiçaria e abandonadas pelos seus familiares foram retiradas das ruas de Luanda nos últimos dias pelas Irmãs da Congregação do Bom Pastor, em Angola.
As histórias contadas pelas crianças que fizeram das ruas da capital a sua morada durante algum, comoveram as freiras que decidiram começar um processo de nova vida para os menores.
O caso mais recente é de uma menina de 11 anos acusada de ter morto a própria mãe usando feitiço. A superiora da congregação, Irmã Rita Lourenço, contou a história à Rádio Ecclesia, emissora católica angolana.
“O pai abandonou a criança na rua e na altura foi intercepado pela Polícia porque batia nela e ele disse que a filha tem 11 anos e é feiticeira. Disse que comeu a mãe e que recebeu o feitiço do Congo e que ele poderia ter a mesma sorte e então decidiu abandonar a menina”, relatou a Ir. Lourenço.
A criança foi levada para casa das irmãs, no Palanca, por alguém que a encontrou a chorar na rua. Entretanto, o pai mudou de casa “e já não o conseguiu encontrar”.
A Irmã Rita decidiu procurar os familiares da menina. “Fui ter à casa onde eles moravam e encontrei alguns familiares, mas todos confirmaram que a menina é feiticeira. Conversei com eles, tentei convence-los mas não houve maneira e disseram que era melhor não deixar a menina com eles porque ela estava reconhecida como feiticeira”, indicou.
Para a religiosa, “o que está na base disto é a desordem social, a pobreza extrema e as maiores vítimas são as crianças”.

Redacção/O Apostolado

28 de janeiro de 2008

Dormindo...na rua...

Sem dignidade, no meio da rua, em plena passagem. Dormem, sofrem, morrem! Despercebidos a muitos olhares, dezenas de pessoas dormem assim mesmo...deitadas, seja onde for! Porque não têm nada a perder, porque a necessidade é extrema, graúdos e crianças.

O que sonharão estas crianças?

24 de janeiro de 2008

Taxi...TAXI...


Finalmente! Há tanto tempo curioso por experimentar uma viagem de candongueiro, eis que surgiu a oportunidade… O termo candongueiro é aplicado na generalidade, é o conceito de transporte. O nome mais usado, para quando uma pessoa se refere à sua deslocação, é o táxi. E é um táxi…comunitário!
Na ausência de carro da empresa e de todos os motoristas, fui desafiado, pelo colega Edmar, a deslocar-me de Táxi. Aceitei de imediato! Sozinho não me aventuraria, mas com um “guia” como ele achei que, não só seria seguro, como seria mesmo A oportunidade de ouro para me estrear…

Toca de ir para a rua e começar… Fiquei fã!! A frequência de táxis é alucinante. Imaginando uma contagem dos “azuis e brancos”, estimo uma relação de 2 destes em cada 5 veículos…
Este passeio permitiu-me conhecer um pouco mais desse desconhecido mundo. Se até agora só os fotografava e via os seus comportamentos animalescos na estrada, com esta experiência foi-me possível compreender mais, e por dentro! É isto que vos conto neste post.
À passagem dos táxis, a indagação do seu destino apoia-se numa complexa linguagem de códigos.
Apontando com o dedo na direcção que queremos ir, o “Condonguista” decide se pára ou não… Se afrouxa, o cobrador diz o destino. Mas o destino, para quem não conhece…não é suficiente!! Muito bem, sabemos para onde vai, mas não sabemos por onde passa. Então no meio da confusão de entra e sai, carrega galinhas, sai peixe, entra grávida, sai idoso, tentamos ter uma ideia do itinerário….LUXO!

A cobrança é feita já dentro do candongueiro e é chapa 50Kwanzas (~0,5euros).
Apanhei dois táxis, na ida e no regresso. O primeiro, a estreia, foi muito tranquilo…iam mais 4 pessoas no táxi, havia espaço, musica suave, janelas abertas…cenário ideal para inicio! No regresso, como o táxi seguia para o mercado, o cheiro a peixe era quase asfixiante, as janelas estavam abertas mas nem se notava! Com 16 pessoas lá dentro, a música em altos decibéis era o que menos incomodava …

21 de janeiro de 2008

Pele escura

Encontram-se nesta terra coisas muito engraçadas…surpreendentes, diria mesmo. Umas compreendem-se, outras não! Confesso que este post é um apelo de ajuda. Pensei sobre este tema e não consegui chegar a nenhuma conclusão…alguém desse lado me poderá ajudar?

Em pleno supermercado fui surpreendido por um produto que têm uma especificidade que eu desconhecia: lâminas de barbear para peles escuras!! Inovador, não?

Ao lado destas lâminas estavam outras, aparentemente iguais, mas sem nenhum tipo de requisito. Como a diferença de preço era de 3 euros…adquiri as lâminas para peles escuras, mais baratas, ainda que céptico. Obviamente que, ao sair do supermercado, fiquei a pensar no fenómeno daquele produto! Porquê lâminas especialmente vocacionadas para peles escuras? E o que serão peles escuras? É que por estas bandas, o espectro de escuro é muito vasto…desde o “preto azul”, passando por uma variedade enorme de mulatos, brancos muito morenos até às ofuscantes peles nórdicas! Teriam aquelas lâminas especiais algum tipo de sensor para tolerar determinadas peles? Deveria estar perante uma linha futurista de produtos cada vez mais adaptados às características do consumidor. Já agora, porque não há gel duche para peles claras?...ou pastas de dentes para dentição oriental?

Até o próprio cabo é escuro, deixando transparecer uma filosofia séria, consistente! Curioso, fui experimentar as lâminas e…qual o meu espanto…funcionam na perfeição, mesmo na minha cútis, clara, proveniente das europas! Tenho que ver se aviso o fabricante de tão avançado produto: caro fabricante, cuidado com as lâminas de peles escuras que devido a um erro de produção, elas estão, neste momento, a funcionar para peles claras. Imagino que nos Estados Unidos este facto desse direito a acções em tribunal…anunciarem um produto que funciona com uma falha deste tipo!!!! Inadmissível…

Por cá, vou rindo, que estas situações são tão características de África!!

16 de janeiro de 2008

Perspectiva

É mesmo uma questão de perspectiva!

No contexto rodoviário estamos certamente conscientes de que o álcool está na origem de muitos acidentes. O álcool amolece o condutor, tira-lhe reflexos, limita-lhe a capacidade de previsão, etc... Por isso mesmo um dos avisos mais difundidos é a relação perigosa entre álcool e volante. Até ao alcance em que as palavras influenciam, várias frases se tornaram comuns entre nós! Quem não se lembra do slogan "SE CONDUZIR NÃO BEBA" nas bermas das nossas estradas?

Este tipo de informação deve-nos chegar sempre, de diversas formas, em diversas alturas, mas não deve, nunca, deixar de chegar! Aqui em Luanda também esta preocupação nos chega, numa fase muito inicial, de aprendizagem! Chega-nos no entanto um pouco alterada.

Ainda em português e igualmente bem escrita, a troca de palavras arrasta a troca de prioridades. "SE BEBER NÃO CONDUZA" reflecte a ideia de que, se o mal está feito, não deve pegar no volante. A advertência mantém-se, a convivência entre o copo e o volante é prejudicial... O que não se mantém é o pensamento!

Hoje em dia, confesso, sou mais apologista de campanhas violentas, mensagens de choque, imagens agressivas. Se uma imagem vale por mil palavras, porque não mostrar o resultado da asneira? Se há preguiça de ler uma ou duas frases, eis que a imagem nos trará a mensagem…

11 de janeiro de 2008

Recordações

...dos passeios!

...da descoberta!

...das gargalhadas!

...do frio e do calor!

...dos beijos e olhares!

...da música na estrada!

...de conhecer novos locais!

...de não olhar para o relógio!

...de uma férias bem passadas!
...de conhecer mais do meu país!

...de um Alentejo frio, bonito, mas abandonado!















8 de janeiro de 2008

...e o jogo, viste?

Estou de volta a Luanda, para mais uma temporada de trabalho. Como ainda não regressou muita gente, a cidade encontra-se relativamente calma. O trânsito está apenas caótico e, inesperadamente, há muita luz por toda a cidade. É um mistério que ainda não esclareci…ainda não faltou luz em minha casa. MAS, para não agoirar…fim de conversa! Reencontrei a malta angolana, bem adaptada a este calorzinho e, também eles, regressados de férias.

Em conversa com um colega angolano, querendo saber de novidades, surgiu:
- Então pá…como está a tua miúda? – Perguntei eu
- Miúda? Qual delas é que estás a perguntar?
Ok…percebi que as férias têm sido positivas, que este companheiro tem feito sucesso junto da comunidade feminina e que, acima de tudo, sem nada a assinalar, sejam quantas forem…estão todas bem!
Estava tudo explicado quanto a este tema. Mudando de assunto, quis contar-lhe uma grande nova que recebi quando fui a Portugal: VOU SER TIO….
Entusiasmado, contei-lhe isso, partilhando a minha alegria!!
- Epa…sabes da última? Grande notícia me deram em Portugal, vou ser tio!! É a minha única irmã e o meu primeiro sobrinho. Estou muito contente…
- A sério? Olha que bom…eu também vou ser tio.
(gargalhada)
- Grande coincidência. Deves estar também todo babado não? É o teu primeiro sobrinho?
- Não…é o décimo sétimo. Tenho 15 irmãos e alguns tios são mais velhos que eu…
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BOM…e o futebol, hã? O grande SPORTING tá a passar mal pá...