25 de setembro de 2014

Bem vinda Bia

Há um novo elemento na Tertúlia Africana: Bia Choi Pinheiro

Acrescida à magia de sermos pais, está a emoção de ver esta Tertúlia a deixar descendência.


A nossa primeira sorte nasceu dia 20 de Setembro em Maputo, completando assim um magnífico triângulo de globalização, unindo 3 continentes.

Do lado ocidental dizem que tem traços asiáticos marcantes. Do Oriente chegam elogios por ela parecer quase ocidental. Aqui dizem que é "bonitinha". Enfim...tudo depende da perspectiva. A nossa é a de que, qualquer que seja a mistura, traga o melhor de ambos os lados!

A língua que falará primeiro ainda é um mistério. Com as diversas influências, talvez diga "jô ên atchim" à moda portuguesa, ou "lichile" com sotaque coreano... 


O resto já saberá quem foi pai/mãe. Este modelo também veio sem livro de instruções, por isso se prevêem Tertúlias de descoberta para os próximos tempos.

2 de setembro de 2014

Missão fio dental


Recentemente um grupo de prestigiados investigadores dirigiu-se à Swazilândia com uma missão. A paródia que deu motivo à pesquisa foi lançada pelo coordenador de investigação: saber se as meninas da cerimónia da Swazilândia usavam fio dental ou não...


As reuniões técnicas foram-se desenvolvendo com bela cozinha e boa bebida. Foi assim, enquanto terminamos o stock de vinho, que as estratégias se iam debatendo. Uma tertúlia que brindou no final com um “jungle juice”, aguardente guardada em frascos cheios de répteis. 

A cerimónia é única no mundo e tem como fundamento a homenagem à corte real. As mulheres virgens ou sem filhos têm como obrigação social participar. Os festejos demoram 8 dias. Num deles apanham caniço, cortado à catanada, que mais tarde oferecem à Rainha-mãe, com o intuito de reconstruir a sua casa (já não deve ser propriamente de caniço, mas mantem-se a tradição e fica a intenção). Tem também como objectivo educar e preparar as mulheres para uma vida sexual cuidadosa. Facto importante num país com uma das maiores taxas mundiais de SIDA. A gravidez fora do casamento, por exemplo, origina uma multa no valor de uma vaca. Não é brincadeira! São alguns cortes financeiros (tanto na moda) sob a forma de ensino comportamental.


As vestimentas, das poucas que há, têm naturalmente significados. Aliás, para usarem tão poucos adereços, é porque são mesmos imprescindíveis na cerimónia.  O primeiro impacto é de facto este: roupa quase nenhuma e uma ostentação despreocupada do peito, que pode chocar outras culturas. Percebi, em conversa com alguém, que uma das regras é mesmo a ausência de qualquer roupa interior. Sendo o continente Africano, de uma forma geral, muito púdico na exibição das pernas femininas, este sim, é motivo de algum pudor, por isso a cobertura centra-se mais na zona da púbis e um pouco no início das pernas. Mas a cerimónia é muito mais que maminhas ao léu...é cor, musica e dança. E para ver as fotos seguintes a sugestão de banda sonora é esta, recolhida in loco:


As investigadoras têm restrições sérias quanto às vestimentas, não fossem elas ficar inspiradas e por a descoberto os ombros (que ousadia!). As instruções são de tapar as calças com uma capulana e cobrir a parte superior do tronco. Pode parecer despropositado, pela diferença de indumentária de um lado e de outro da cerimónia, mas não custa nada respeitar...









Depois do desfile a caminho do estádio o protocolo começa. É anunciada a chegada das mulheres do rei, mas como são 15, gera-se alguma confusão pois não param de descer as escadas, e ficamos sem saber se ainda se trata de esposas ou se já são espectadoras a caminho da bancada. Esperemos que a organização se lembre de cadeiras para todas.




A seguir é a chegada do rei. Nem precisava de ser anunciada, pois à distância distingue-se o grupo que trará o grande chefe. O carro de vidros escuros e sirenes não deixa dúvida da importância do visitante que se segue. Mas numa finta entre culturas eis que o rei vem a pé, no meio dos guerreiros, e também ele com uma lança em punho. Distingue-se porque é o único a usar casaco de pele. O carro seguro nem avançou, pois com estes batedores, quem precisa de escudos?




No relvado desfilam então as 60 mil mulheres (sim, 60 mil, o suficiente para encher as bancadas de um estádio!) numa espécie de carnaval à moda africana. 


A cerimónia leva cerca de 2 horas, ao longo das quais, pouco a pouco, o relvado enche de mulheres. Organizadas em grupos, vão formando meias luas, espalhadas pela extensão do campo.

Quando elas terminam é a vez de o rei descer ao relvado, agora em tronco nu para, junto com os seu guerreiros, agradecer às donzelas. Percorrem todas as filas, com cânticos e algumas danças. A delícia dos jornalistas que correm junto, com os seus flashes em punho.

O rei pode, aliás, escolher uma das mulheres para acrescentar ao seu arquivo. Não para substituir por outra, pois seria uma tremenda falta de respeito para com alguma envelhecida esposa. Mas sim para somar à sua colecção, como quem acumula bibelôs. Resta saber como se gerem 15 mulheres, mas esse tipo de segredos costumam ficar sempre muito bem guardados. 


A visão final é avassaladora, com 60 mil mulheres distribuídas pelo campo, já noite instalada, das quais algumas com capulanas enroladas, para combater o frio das montanhas.