Há pouco mais de 3 meses, coloquei aqui o manual, com respectivas ilustrações, sobre a construção de uma caixa de madeira. Na altura chamei-lhe caixa mágica, conferi-lhe poderes notáveis de transformação da matéria orgânica, fartei-me de colocar lixo vegetal e tapei. Alguns de vocês comentaram elogiando a pequena obra de grande engenharia, outros questionaram-me sobre cheiros e bichos que pudessem ser atraídos. Outros, talvez no silêncio da admiração, sem comentários, apenas devem ter pensado: “mas para que raio se deram ao trabalho aquelas duas almas de fazer um caixote do lixo de madeira? Não haverá baldes do lixo em Moçambique?”. Hoje a resposta: para iniciar o fabuloso ciclo da vida vegetal: uma machamba! A palavra machamba tem origem incerta! Numa leve pesquisa que fiz, obtive 3 diferentes versões. Assim, não tenho alicerces para explicar de onde vem. Posso apenas adiantar que é uma palavra muito comum em Moçambique e refere-se a uma horta. 
Colocando lixo vegetal naquela caixa (e apenas vegetal) até pode cheirar mal, claro…imaginem fruta podre em cima da mesa da cozinha! Mas o cheiro não se estende para além dum raio curto em redor da caixa, desde que esteja em local arejado. A bicharada é sempre atraída e deve sê-lo! Eles são afinal os agentes que entram em acção e processam tudo. Passa-se por um período de decomposição vegetal e dá-se lugar ao fenómeno natural que dá pelo nome de composto. Sai pelas portas debaixo que tivemos cuidado de planear e o detalhe em construir. Tem cor escura e, surpresa, não cheira mal. Este por sua vez enriquece plantas e plantações.

Um diário da Machamba:
A primeira vez que partilhei a ideia de fazer uma machamba ao senhor José, guarda/jardineiro/conselheiro/amigo, as orelhas dele subiram, a testa esticou, o sorriso abriu e os olhos brilharam. Não foi preciso dizer nada. Percebi que tinha ali um entusiasta cúmplice da ideia. Fiz questão que fosse ele mesmo, filho da terra, a colocar a primeira semente.
21.01.2011

Depois foi a minha vez e da Yumi colocar as restantes! A nosso belo prazer e murmurar as preces que cada um bem entender, na língua que quisesse. A intenção era unânime: ver crescer as plantas...e se possível provar os frutos. As sementes foram: melancia, abóbora, melão, manjericão, piri-piri, quiabos. Colocámos também duas papaieiras e uma goiabeira (plantada pelo ZéTó e Leonor, na sua visita a terras tropicais). Plantámos no início da época das chuvas. Não chovia há meses...e simbolicamente chuviscou depois de pormos as sementes...



Papaieira

25.01.2011

A excitação de ver as primeiras folhinhas a aparecer...logo 4 dias depois das sementes!
03.02.2011

O "ouro" vegetal a sair da caixa, produzido em menos de um mês, devido a vários factores: clima e abundância de bicharada...

Alimentar as plantas com o "poção vegetal" da caixa mágica.



11.02.2011

28.02.2011


Primeiro frutos à vista. Neste caso, uma melancia...
12.03.2011
27.03.2011

A machamba passa a ficar intransitável, devido ao volume de verde!

07.04.2011

Uma melancia quase pronta!

Abóboras a crescer, sobressaindo do meio de centenas de folhas.

Quiabos

A velocidade a que a papaieira cresce é alucinante. Tenho a impressão que se estiver 10 minutos estaticamente a observá-la posso ver novas folhas a abrir e o caule a esticar...



A prova do primeiro fruto...uma melancia...


Ainda um pouco verde, mas que importa? É da nossa produção...as fotos mostram o entusiamo!
A segunda melancia sim...cores e sabores comme il faut!
Deste vulcão de produção vegetal já:
- comemos 2 melancias:
- fizemos Pesto com o manjericão;
- fizemos sushi com folhas de manjericão;
- cozinhamos esparregado com folha de abóbora;
- cozinhei abóbora recheada...