Tivemos oportunidade de viajar por terra, pelo ar ou água e conheci Maputo, Beira e a zona envolvente e o norte, nomeadamente Pemba, onde vivo agora.
A organização da expedição foi exímia. Havia hierarquias, funções definidas e uma coordenação temporal rígida. Só assim se leva a bom porto uma viagem que envolve cerca de 12 pessoas, muitas vezes a bordo da famosa Toyota HIACE, o vulgo “chapa”.
Tínhamos um chefe à séria que, como dizíamos na altura “chefe que é chefe, não faz nada”. Ele, um dos maiores apaixonados por África que conheço, bastava falar, com base no seu infinito bom senso, e nós cumpríamos. A minha função era a de bagageiro: carregar e controlar, no meio da confusão, se toda a bagagem chegava completa. No final da expedição, fui promovido a 4º motorista e nem pelo facto de só haver 3 carros eu desanimei…ainda hoje tenho as imagens e aventuras guardadas num lugar especial da memória. A última vez que mostrei os slides demorei 2 garrafas de vinho e dezenas de peripécias a contar...
Quis o destino trazer-me de novo a esta cidade, já modificada pelo tempo. Tão modificada que tive dificuldade em reconhecer os mesmos locais por onde andámos, confesso. Só com a ajuda telefónica, consultando o meu padrasto, é que consegui perceber que o local onde fiquei hospedado no inicio deste regresso foi o mesmo onde tinha ficado…há 10 anos atrás! A minha memória nunca foi grande coisa, mas prefiro pensar que a cidade mudou mesmo muito! O exercício mental não deixa de ser engraçado. Aquilo que há dez anos me pareceu uma viagem em pleno mato, agora afigura-se como uma marcha quase sempre urbana para chegar ao mesmo farol. A desorientação turística da altura transforma-se agora numa ideia muito clara da cidade, dia e noite…trabalho ou lazer…
Depois de algum tempo, e já orientado, comecei a reconhecer alguns sítios e, claro, surgiu a vontade de registar em fotografia. Apresento-vos, de seguida, o resultado.
O local onde ficámos hospedados foi, coincidentemente, o mesmo onde fiquei agora, nos primeiros tempos. Na altura era o restaurante apenas e um tipo que incentivava ao mergulho. Hoje, edifício com 2 andares, inclui um lugar com acesso à internet e casino. Existe agora uma dependência onde o curioso do mergulho montou um negócio, com aluguer de material e aulas…
A praia, onde passei muitas horas na condição de turista, serve agora de meu ginásio, onde corro e nado, fazendo assim o meu “diatlo” no final do dia para manter a forma. Um verdadeiro luxo, admito e valorizo…
O crescimento da cidade é notório. Pelo volume de casas e pela agilidade da construção. Os telhados de palha são agora substituídos por chapas de zinco, mais fáceis de colocar e resistentes…
O número de casas tende a crescer a grande velocidade, maior do que qualquer plano urbano desejaria. Assunto que, curiosamente, tem sido falado nas notícias. O apoio à população que vive em ruas com largura duma mota é muito dificultado. Diz o notícias, de 24 de Agosto de 2010 que “ocupação desordenada dificulta fornecimento de serviços básicos”. Pode ser que as forças políticas que agora levantam o assunto fortaleçam a necessidade de acção. Toda a população agradeceria…
O aeroporto, imutável por fora e por dentro, fisicamente, está irreconhecível na sua dinâmica. Há dez anos chegámos primeiro que toda a gente. Um guarda abriu-nos a porta para, pelo menos, nos sentarmos e aguardarmos pelos pilotos. Verídico, sem ficção. Tivemos inclusive que telefonar aos pilotos para eles virem conduzir aquele pássaro metálico que aguardava por nós, sem chek-in nem controlos. Era assim há dez anos. Hoje o aeroporto é internacional e tem voos quase todos os dias. O chek-in é obrigatório, embora o controlo seja ainda em modo relaxado.
Na ausência de um raio X, existe um aviso, o mesmo de há 10 anos atrás, que proíbe o transporte de facas e pistolas. Agradece-se o cumprimento da restrição...
Na vizinha vila de Mecufi, a cerca de 40 minutos numa condução moderada, também houve alterações, mais ou menos visíveis A estrada que nos recebe foi arranjada, embelezada e modernizada. Os postes que outrora faziam figura, hoje levam, praticamente sem interrupções a electricidade aos lares e serviços.
O barco ainda lá está! Na baía de Mecufi mora ainda a mesma embarcação (ou pelo menos assim me parece). Já sem mastro, mas ainda com um funcional arcaboiço, descansando, à beira-mar, aguardando a próxima saída para a pesca.
Resta-me agradecer ao grupo Xiveve pelo contágio de energias que me permitiu amar África de imediato. Porque África é muito humana e beber inspiração ao nosso redor ajuda-nos a saber interpretar um continente que nem sempre é fácil.
Resta-me agradecer ao meu padrasto, o meu 2º pai, a oportunidade de me ter trazido e permitir que ficasse contagiado com o “bicho de África”. Que vírus deste tipo não trazem mal nenhum, apenas magia…
7 comentários:
...que saudades
Quero muito ser mordida por esse bicho e ser contaminada por esse vírus...
Belo relato! Bjs
Allo Allo!!!
Folgo em saber que está td óptimo contigo e que continuas nas tuas "aventuras" ...depois das noticias sobre Moçambique ..enfim! Sabemos que estás longe dos conflitos...mas queremos noticias para saber que estás BEM!!!
Beijinhos
Ana / Rodrigo
BEM!!!!!!!!!!!!!!
O teu 1º pai adora textos comparativos no tempo!!!
Muitas saudades!!!!!
maravilhoso! realmente é uma delícia ler-te sr engº... ;)
jinhos alentejanos
que lindoooo, André... Adorei o relato, as comparações e os teus sentimentos sobre tudo isso. Muito bom, quase pudemos ver-te :)
Bjos
linda licao de historia e para mim de grande saudosismo......carry on my dear cousin.....we love your writing
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