Quem nunca passou uma noite com um mosquito?
Quem nunca perdeu a compostura e o sono com a invasão destes insetos? Peritos
em ataques noturnos, são capazes de tudo para obter a sua refeição sanguínea, à
nossa custa!
Dou pela sua chegada num voo rasante no meu
ouvido e um zumbido vindo dos seus motores. Os olhos abrem-se e fico hirto, em
alerta. Nova passagem a desafiar a base e desaparece depois. Quero acreditar
que é passageiro e tento voltar ao sono, mas desta vez o pequeno atacante
faz-se perceber que vem para dar luta.
Decido sempre por não acender a luz. Não por
achar que será inútil ou que pode mostrar fraqueza ao adversário. É por saber
que as probabilidades de o ver e conseguir matá-lo não aumentam de luz acesa. O
gajo esconde-se e fica imóvel. Nem olha para mim, ofuscado que está. Quando se
apaga a lâmpada e deixa de se interessar pelo clarão, começa a perseguir o
calor. Eu.
Quando descansam na testa pensamos que já
está: uma pancada, um pouco de sangue na pele, mas a compensação! Qual quê. Com
as ânsias apercebemo-nos que quando a mão chega à cabeça já abanámos demasiado
o corpo e o mosquito levantou voo. Ou nos apercebemos a tempo ou levamos uma
belinha. De olhos fechados para aguçar a audição preparo duas armadilhas, duas
conchas de mãos prontas a serem largadas assim que os sensores ouvirem o
zumbido. Arrisco umas quantas estaladas a mim próprio, é certo, mas é o preço
da batalha que envergo.
Não é por ser
pequeno, cerca de 140 vezes mais pequeno que um ser humano, que o devo
desprezar. Sabe dar grandes dentadas e, em silêncio, preparar o próximo ataque. Deixa-me à sua mercê, na escuridão. Vai
percorrendo o meu corpo e escolhendo o local da próxima dentada. Quando sinto a
picada e localizo a baba já o atacante terá levantado voo, saciado. Resta-me
coçar a dor. Sei que não devo, mas no momento parece aliviar-me. O mosquito
agradece. O movimento provoca calor e a comichão atiça a circulação. Lá vêm
mais dentadas! Às vezes penso porque não se lhes enchem os estômagos?
Não têm limite para esticar a bolsa? Serão afinal dois ou três?
Se tenho à
disposição recorro às armas químicas sem rodeios. Opto primeiro pelo repelente.
Besunto-me ou sprayo-me com o que
tiver. Dão-me uma boa proteção e agora só ouço o adversário a uns seguros 2
metros. Mantém-no vivo e o gajo não se aproxima por uns tempos, numa espécie de
cessar-fogo. O problema é o que produto tem duração limitada e assim que os
efeitos aromáticos esmorecem, o mosquito inicia novas investidas de volta ao
combate. Recorro então ao plano B. Uso baygon (marca que criou o vocabulário)
fora do tempo mas justificado pela necessidade da luta. Devia ter posto durante
a tarde e agora surge como solução de recurso. Serve como gaz asfixiante e a
maioria dos mosquitos verga à sua respiração. Uns morrem outros conseguem
fugir. Para mim arranha a respiração e o cheiro é fortíssimo, mas compensa pela
busca da vitória. É como um soldado que lança uma granada dentro dum túnel onde
o adversário está encurralado...
A glória chega
quando uma pancada, às escuras, atinge o cabrão e o faz emitir os últimos sons,
em voo picado. Às vezes padece, imóvel, no meu braço e faço questão de lhe dar
um piparote com a ponta dos dedos na direção da parede mais próxima. Ajeito a
almofada, sorrio e volto ao meu precioso sono.
É por isso que com a rede mosquiteira sinto
uma proteção imperial. Imagino-me sultão, a comer uvas e beber uma taça de
vinho. Por mais chato que o mosquito seja, não entra! Até posso ouvi-lo do lado
de fora, mas soa-me a música...
2 comentários:
Já travei bastantes batalhes semelhantes! Já desisti de os enfrentar, agora antes de dormir recorro às armas químicas e pronto. Mas por vezes lá vem um mais resistente... E um destes sacaninhas já me deu paludismo sem eu dar por isso.
Gostei muito de tudo o que li e vi! A tua mulher é muito bonita. A vossa filha é esperta e promete. Beijinhos de alguém que mudou de vida.
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