Recentemente um grupo de prestigiados
investigadores dirigiu-se à Swazilândia com uma missão. A paródia que deu
motivo à pesquisa foi lançada pelo coordenador de investigação: saber se as
meninas da cerimónia da Swazilândia usavam fio dental ou não...
As reuniões técnicas foram-se
desenvolvendo com bela cozinha e boa bebida. Foi assim, enquanto terminamos o
stock de vinho, que as estratégias se iam debatendo. Uma tertúlia que brindou
no final com um “jungle juice”, aguardente guardada em frascos cheios de
répteis.
A cerimónia é única no mundo e
tem como fundamento a homenagem à corte real. As mulheres virgens ou sem filhos
têm como obrigação social participar. Os festejos demoram 8 dias. Num deles
apanham caniço, cortado à catanada, que mais tarde oferecem à Rainha-mãe, com o
intuito de reconstruir a sua casa (já não deve ser propriamente de caniço, mas
mantem-se a tradição e fica a intenção). Tem também como objectivo educar e
preparar as mulheres para uma vida sexual cuidadosa. Facto importante num país
com uma das maiores taxas mundiais de SIDA. A gravidez fora do casamento, por
exemplo, origina uma multa no valor de uma vaca. Não é brincadeira! São alguns
cortes financeiros (tanto na moda) sob a forma de ensino comportamental.
As vestimentas, das poucas que
há, têm naturalmente significados. Aliás, para usarem tão poucos adereços, é
porque são mesmos imprescindíveis na cerimónia.
O primeiro impacto é de facto este: roupa quase nenhuma e uma ostentação
despreocupada do peito, que pode chocar outras culturas. Percebi, em conversa
com alguém, que uma das regras é mesmo a ausência de qualquer roupa interior.
Sendo o continente Africano, de uma forma geral, muito púdico na exibição das
pernas femininas, este sim, é motivo de algum pudor, por isso a cobertura
centra-se mais na zona da púbis e um pouco no início das pernas. Mas a cerimónia é muito mais que
maminhas ao léu...é cor, musica e dança. E para ver as fotos seguintes a
sugestão de banda sonora é esta, recolhida in
loco:
As investigadoras têm restrições
sérias quanto às vestimentas, não fossem elas ficar inspiradas e por a
descoberto os ombros (que ousadia!). As instruções são de tapar as calças com
uma capulana e cobrir a parte superior do tronco. Pode parecer despropositado,
pela diferença de indumentária de um lado e de outro da cerimónia, mas não
custa nada respeitar...
Depois do desfile a caminho do
estádio o protocolo começa. É anunciada a chegada das mulheres do rei, mas como
são 15, gera-se alguma confusão pois não param de descer as escadas, e ficamos
sem saber se ainda se trata de esposas ou se já são espectadoras a caminho da
bancada. Esperemos que a organização se lembre de cadeiras para todas.
A seguir é a chegada do rei. Nem
precisava de ser anunciada, pois à distância distingue-se o grupo que trará o
grande chefe. O carro de vidros escuros e sirenes não deixa dúvida da
importância do visitante que se segue. Mas numa finta entre culturas eis que o
rei vem a pé, no meio dos guerreiros, e também ele com uma lança em punho.
Distingue-se porque é o único a usar casaco de pele. O carro seguro nem
avançou, pois com estes batedores, quem precisa de escudos?
No relvado desfilam então as 60
mil mulheres (sim, 60 mil, o suficiente para encher as bancadas de um estádio!)
numa espécie de carnaval à moda africana.
A cerimónia leva cerca de 2
horas, ao longo das quais, pouco a pouco, o relvado enche de mulheres.
Organizadas em grupos, vão formando meias luas, espalhadas pela extensão do
campo.
Quando elas terminam é a vez de o
rei descer ao relvado, agora em tronco nu para, junto com os seu guerreiros,
agradecer às donzelas. Percorrem todas as filas, com cânticos e algumas danças.
A delícia dos jornalistas que correm junto, com os seus flashes em punho.
O rei pode, aliás, escolher uma
das mulheres para acrescentar ao seu arquivo. Não para substituir por outra,
pois seria uma tremenda falta de respeito para com alguma envelhecida esposa.
Mas sim para somar à sua colecção, como quem acumula bibelôs. Resta saber como
se gerem 15 mulheres, mas esse tipo de segredos costumam ficar sempre muito bem
guardados.
A visão final é avassaladora, com
60 mil mulheres distribuídas pelo campo, já noite instalada, das quais algumas
com capulanas enroladas, para combater o frio das montanhas.
6 comentários:
Xuxa, fiquei sem perceber se usam fisga ou não :p
Impressionante...
Muito bem relatado, e com toda a verdade e nada mais que ela.
Quanto à motivação para a deslocação, como parte da comissão investigadora, posso desde já comunicar que pouco foi possível apurar, pelo que uma nova visita será de extrema importância para dar continuidade aos trabalhos.
Esperamos ter respostas em 2015.
BRUTAL!!!
Mais um interessantíssimo relato cultural/histórico, acompanhado de belíssimas imagens,com que nos brindou o nosso amigo André. Obrigada
Es o maior!!! Escreves e relatas divinalmente!!!!
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