A reunião é interrompida por
alguém que anuncia que o meu carro foi arrombado. “O meu?”, digo com o espanto
dos que acreditam que isso só acontece aos outros. “Sim”, responde ele, com um
sim tímido, mas não por ser duvidoso. Por ser cordial, mas de quem tem a
certeza!
Desço e espero o pior: vidros
partidos, portas forçadas, estofos rasgados, etc... Mas não. Carro praticamente
como o deixei, faltando apenas algumas coisas no interior. “Como é que
entraram?”, perguntava eu e as 3 pessoas que estavam comigo. Quando entro no
carro vejo tudo o que levaram. Foram rápidos e cirúrgicos, como mecanizados na
arte! Vejo que todos os pontos-chave no carro foram mexidos. Levaram o que quiseram...
Ainda a fazer um levantamento dos
estragos e alguém me diz: “chefe, apanharam um...”. Vou vê-lo e está fechado à
chave numa arrecadação: “faça dele o que quiser”, diz-me o captor. “Faço dele o
que quiser? Como assim? Isto não tem que ter policia?”. E onde anda a polícia?
Logo começam histórias dos observadores, que relatam capturas do passado. E
como se arranjaram com as próprias mãos, para castigar o bandido. Sem envolvimento
da polícia. Uma descrição demasiado pormenorizada das acções. Naquele caso o
observador avisou logo o ladrão: “tu vais apanhar porrada...”
O ladrão diz: “sou doente, tenho
tuberculose!”, e logo tira da carteira um cartão meio rasgado, que procura
testemunhar o seu estado de saúde. Ninguém acredita no documento e o mesmo
observador coloca a mão no ombro do ladrão, num gesto que à partida parecia
misericordioso, mas que serviu para insistir: “com tuberculose também podes
apanhar porrada!!”, ao que o ladrão acena humildemente que sim, preparado para
o pior! Enquanto as ameaças não se materializavam, alguém lançou a ideia de que
se teria que chamar a polícia. Concordei, e pus-me a andar na rua.
Encontramos o primeiro polícia,
mas disse que estava no seu perímetro e dele não podia sair. Não encontramos
mais... Pego em mim e vou à esquadra. Reporto o caso e metem-se 3 agentes
armados no carro. Quando eles veem o ladrão não parecem surpresos, aquele deve
ser um habitant da zona. Levamos o
ladrão para a esquadra e a polícia pergunta-me com delicadeza: “quer que vá
sentado no carro, ou pode ir no porta bagagens?”. Sentado atrás repetiu a
história da tuberculose, mas o polícia conhecedor, logo encontrou papel de
prata na carteira: “com tuberculose não se fuma crack”. Ladrão calou.
Fui embora, duvidando que haverá
de facto alguma acção para o bandido, mas fui com a satisfação de dever feito.
Ao que soube, na esquadra, o procedimento é standard: dão-lhe porrada (o
observador tinha razão, não se vai safar mesmo), lava a casa de banho ou cozinha,
dorme com os ratos e de manhã está livre de novo. Para a próxima talvez leves uma sova e deixo-te ir...
2 comentários:
Tão práticos que até assusta...
Se isso é assim tão prático, eu tinha lhe dado uma chapadinha à encarregado de educação! Só porque sim. :-) e os pertences foram recuperados ao menos?
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