A cultura africana respeita a
velhice. Com as várias palavras que existem, ouvem-se os cotas e respeitam-se
os mais velhos. Quando o cabelo pinta de branco, o estatuto é outro, já é
maduro… São eles que ponderam e decidem o nome dos bebés da família. Ouvem,
opinam, dão conselhos…e educação. Educam os filhos da família, mesmo que não
sejam os seus. Não hesitam em dar uma chapada a um miúdo, sem complexos da
linhagem. É a geração mais velha que ensina a próxima geração.
Infelizmente na Europa, ou países
desenvolvidos no geral, a 3ª idade parece ter-se tornado um peso. Muitos idosos
vivem a cumprir sina, sem muito estimulo para entreter a caminhada. Pesam no
sistema de saúde, nas pensões…enfim, os males do mundo civilizado. Em vez de
serem ouvidos, são calados ou ignorados.
A verdade é que tudo o que
vivemos, os mais velhos já passaram. Mais ou menos tecnologia, esta ou aquela
influência, as linhas gerais da vida mantêm-se há milénios.
Não queria por isso deixar de
homenagear a Lídia, pois confesso que, a conversa de cerca 20 minutos, deixou-me
nostálgico.
A velha Lidia não se lembra da
idade, não sabe ler e nunca soube a data de nascimento. Resta-lhe uma casa de
chapas e um pequeno terreno à volta. A idade é indecifrável. Pode ter 90 ou 70 muito
gastos… A forma como come ou veste depende da boa acção dos vizinhos. Não tem
machamba nem animais, mas ainda hoje limpa o terreno à volta da casa. Como não
se aguenta de pé, varre de joelhos! Mexe-se com muita dificuldade, apoiada num
cajado, que já um dia falhou e lhe deu uma “medalha” no braço, cuja cicatriz
mostra com orgulho.
Os olhos parecem cheios de
cataratas, de tanto azul que brilha. Não sabemos o que vê, mas expressa-se com clareza.
No meio da conversa vai sorrindo, mesmo com as pancadas da vida que vai relatando.
Um sorriso desdentado, um sorriso que empurra as rugas a tapar os olhos, um
sorriso trémulo e silencioso, mas um sorriso! A pele, não sei se seca, se
enrugada, parece-se mais com escamas, que ainda permitem que os ossos estejam juntos.
Em Moçambique com esta idade, as
pessoas já passaram pela colonização, guerra, fome e doença. Aliás, são poucos
os que chegam a esta idade! Os que chegam são História viva.
Ali estava a Lídia, uma força da
natureza, a percorrer o destino em vez de cumprir sina…
Obrigado pelo inspiração.
4 comentários:
e obrigada a ti também, André... por seres uma inspiração!
<3
E hoje diz-se Evoluçao todo o avanço de matrice economica. Tanto tem de calculista como obriga à pouca vista. Lidia ainda é viva e já é um legenda. Haja ainda quem aprenda com ela e sua pèle escamada por ossos cegos Azul indigo. Nao digo ô que nao sei se viverei mas sempre valorisei os nossos velhos coroneis:)) Aprendei que para sempre nao durarei:)Amei Soce;)
Hgo
Lindo texto! Kanimambo pela partilha. Besitos nossos de saudades.
lovely lidia.
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