Para lá do cliché “A Farm in Africa”, dum filme que ainda
não consegui ver (adormeço sempre) ter uma quinta em África é das coisas que
mais me faz sentido por estas bandas. Estar em contacto permanente com a
natureza e estar na fonte da produção. Aqui não é fácil o isolamento, a logística
e os recursos humanos mal preparados. São as maiores dificuldades que se vivem.
De resto, é lindo!
O quarto tem uma vista monótona, mas que nunca cansa: verde
das folhas e o sol a despertar-nos às 5h da manhã.
Às 6h e pouco vai-se buscar leite à vaca, que até nos
agradece pelo alívio.
O resto da bicharada anda mais ou menos livre, passeando,
comendo e ruminando.
Selvagens e tímidos, ao ponto de se afastarem da pequena
Bia.
Mas na hora do passeio, a passagem é pequena para tanta
ânsia…
O destino do gado já se sabe: carne que nos cai na mesa à
refeição. Um matadouro preparado, uma equipa trabalhadora e mãos à obra (não
coloco mais fotos, para não ferir sensibilidades).
A paisagem durante o dia continua monótona, sempre linda, e apesar
da pouca chuva o que se vê mais ainda é o verde!
São as árvores que nos balizam o campo de jogo, e algumas
participam. De pé descalço, tive dificuldades perante os meus experientes
adversários juniores. Entre chão a escaldar, troncos e pedras a picar os pés,
tinha que ir escolhendo melhor as áreas do campo onde actuar. Para eles tudo
parecia alcatifa…
Um dos serviços à comunidade é a moagem, para fazer farinha.
Toda a manhã o motor não se cala…
Outro dos serviços à comunidade é
a loja e a assistência médica.
Na loja quase tudo se vende:
comida, cadernos, carne (claro!), produtos de limpeza, etc… Vendido a preço
reduzido, incentiva a comunidade a gerir o seu dinheiro e a fornecer-lhes
produtos básicos, que doutra forma tinham que os obter na cidade, a 2 horas de
carro.
Para a assistência médica é preciso estômago. Digo eu que
estou mais habituado a mapas e aparelhos de topografia. Os casos que chegam,
além de variados, obrigam a um prognóstico rebuscado e uma exigência de
resolver. Chegam alguns casos onde pouco resta fazer, sabendo que a morte está
próxima, o desafio é gerir um fim suave…
Aqui não é uma questão de viver sem bicharada, aprende-se a
viver com a bicharada. Alguns espécimes desconhecidos, nunca vistas nem no National Geographic. Nunca é tarde para
tirar fotos e catalogar. Sabe-se lá quando é uma descoberta nova...
Outros espécimes mais conhecidos, e alguns temidos. Nas
primeiras noites tínhamos sempre ratos do campo no quarto. Mas para isso
tínhamos também o pequeno (terrível) Ruca. O cão conhece perfeitamente a sua
missão. Proibido de entrar em casa, excepto em momentos de caça, entra,
empenha-se seriamente no seu trabalho e só relaxa quando “há sangue”, quando o
rato já não vai a lado nenhum. Como prémio recebe umas palavras de elogio e
toca de ir lá para fora outra vez. É muito profissional.
Como disse no post
anterior, o menu nunca vacilou. Aqui um exemplo de Potjie cozinhado em panela
de ferro. Prato que leva horas a fazer, mas ninguém se importa com os ponteiros
do relógio. Relógio?, onde deixei o relógio?, o que é um relógio?
À falta de praia, arranjam-se piscinas quase naturais, com água
fresca e vista privilegiada.
Os momentos de ócio ocupam-se com tarefas altamente
importantes (neste contexto!): o disparo de pedras a objectos nos troncos.
Também aqui os atiradores juniores dominavam a técnica. Com 2 ou 3 disparos
deixava de haver objectos nos troncos. Se um dia for modalidade olímpica,
conheço alguns potenciais campeões.
Os passeios dentro da quinta parecem sempre diferentes, e são
mesmo! Com 2000 Ha, há sempre muito por onde explorar e os cenários são sempre
diferentes.
Na caixa duma pick up, ali vai a Bia toda contente com o
cabelo ao vento. Um dos nossos juniores carrega a pressão de ar, arma na qual é
especialista. Mão firme, olhos atentos, para detectar as rolas antes de
qualquer outra pessoa.
Há oportunidade para uma viagem em família “à africana”,
ensanduichados numa mota. É certo que faltam mais duas crianças, o saco da
trouxa, uma galinha pendurada no volante, o bidon de gasolina, o saco do
carvão, um cabrito na parte de trás, mas há que começar os hábitos de alguma
forma.
5 comentários:
Querido André, do meio da minha quimioterapia, soube-me muito bem ler este texto e ver estas imagens... :) Espero um dia ainda poder voltar a Moçambique e aí quem sabe talvez poder desfrutar destas paisagens...! Beijinhos à jovem família. A vossa menina, a Bia, é linda e parece perfeitamente adaptada às aventuras de 'A Farm in Africa'. Abraço caloroso. São
Bom ver que nada mudou. Essa África continua linda. Tudo de bom para vocês companheiro. Abraço. Gonçalo e "Miss Africa"
So great photos...inspiring trip...:)
I would like to have a farm in Africa...
Lindos, como sempre!
Beijos cá de Pemba.
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