Estávamos em pleno aniversário da
ACUB,
no bairro da Boa Esperança, cidade de Sal Rei, ilha da Boa Vista. O programa
das festividades começava com a meia maratona e logo de seguida o jogo “Mata
Galo”. Fiquei curioso com o jogo. Este bairro é conhecido por ter emigrantes de vários pontos de
África, que aqui vivem para trabalhar nos grandes hotéis que sustentam o
turismo da Boa Vista. De que país será
esta tradição? Como se matará o galo? Haverá sacrifício do animal? Bebe-se o
seu sangue? (os meus anos de África foram alimentando a minha imaginação e
curiosidade).
Com algumas perguntas rapidamente
percebi que a tradição é Cabo Verdiana e que o jogo não é tão bárbaro como à partida pode parecer.
Quando
olhei para o palco vi a cabeça do galo de fora. Corpo enterrado. Aqui, vos
garanto, é a parte que faz mais impressão.
Os primeiros jogadores são as
crianças. Olhos vendados e pau na mão, com o objectivo de acertar na cabeça do
animal e ganhar um almoço de borla. A organização já tinha um galo suplente, deixando
a ideia de que seria fácil acertar e aquele dia seria um banquete de galo no
bairro!
Fui desafiado a jogar, mas não foi preciso
esforçarem-se muito. A minha curiosidade e vontade de participar naquele dia
especial fizeram o resto. Sob o olhar atento de dezenas de pessoas, reservava a
secreta crença de que dificilmente iria acertar no animal, e que não lhe iria
tirar a vida em plena arena.
Para os adultos
as regras são outras: olhos vendados, aquilo que me pareceram 50 voltas até o
cérebro rodar sozinho dentro da caixa craniana, cheio de pessoas à volta a dar
indicações em várias línguas e o som das colunas do palco em alta! Escusado
contar passos ou fazer uma prévia geometria entre ponto de partida e a cabeça
do galo. A venda nos olhos e as voltas que nos dão a seguir transportam-nos para
fora do referencial planeado. Nos primeiros passos as pernas enrolam-se, por
isso o mais certo é andarmos às voltas nos primeiros segundos. Depois disso só
vale a orientação auditiva…
Perceber o que as pessoas diziam
(gritavam) de fora da arena revelou-se logo impossível. Apenas tentei
posicionar-me com base no som: gritos de um lado, decibéis das colunas do
outro. Quando o tom das pessoas aumentou, acreditei estar na direcção certa e
PUM…pau no chão, pau partido! Parti o pau?,
pensei logo? Ter-me-ão dado um pau podre
ou o meu instinto animal está a revelar-se? Pau em dois pedaços. PUM…pau em
três pedaços. Acabei com um pau mais pequeno que a colher de pau que usaria
para cozinhar o petisco e a 2 metros da presa! Fiquei sem almoçar…
Percebi depois que não é
obrigatório matar o bicho. Um concorrente seguinte tocou-lhe na cabeça e
ganhou. Aqui está a possível consideração pelo animal, se é que isso se aplica
a um corpo enterrado com a cabeça de fora em plena praça, à mercê do sol…e à
mercê das pauladas da competição!
Fez-se a festa e espero que o galo tenha saciado a todos…
5 comentários:
Fabuloso
Practice and next time bring our lunch!��
Delicioso.
André,
Ainda assim a ideia de ter um galo preso só com a cabeça de fora à espera de apanhar uma paulada não merece a minha simpatia......
então a melhor tática é ir com o pau "farejando" o chão, tipo bengala de cego, até conseguir tocar no bicho!!!
LOL
Enviar um comentário