Nunca percebi a meditação. Achava ser um assunto fora do meu território, por nunca ter entendido, por nunca me ter interessado, por nunca ter experimentado, sei lá…nunca tocou a minha curiosidade. Achava estranho que sentados, imóveis, de olhos fechados e, diziam-me, apenas a respirar, se alcançassem resultados extraordinários!
Achei
por bem começar o texto assim, pois isto vai levar uma volta de 180º.
Numa das minhas muitas leituras sobre
educação infantil, deparei-me com um livro que se focava mais na boa condição
dos pais, de modo a estar apto a praticar uma educação de qualidade (Mindfulness para pais). Achei muito sensato, pois se é suposto os pais darem o exemplo,
envolver e abrir espaço ao diálogo, então esses timoneiros devem estar
orientados.
Num
dos capítulos a autora fala de meditação. Na altura pensei “ora lá vai ela para
estas ciências esquisitas”. O capítulo fez no entanto uma descrição muito
cativante e sugeria alguns momentos simples de meditação onde só era preciso
respirar. Achei acessível: consigo sentar-me 15 minutos apenas a respirar.
Ainda que céptico sobre uma actividade que no fundo todos fazemos (sentar e
respirar), ainda hoje não sei porquê mas tive o impulso de tentar.
Sozinho
na sala, pus-me a respirar. Aparentemente nada acontecia (nada acontece de
imediato, como é óbvio), mas o impulso que me levou a experimentar, era o mesmo
impulso que mantinha a motivação para continuar a fazer o mesmo, dia após dia:
sentar e respirar. Cheguei a rir de mim próprio várias vezes, pensando “com que
então, sentado a respirar, André!”.
Ao
fim de uns dias aconteceu magia. Depois de uma dessas sessões de respirar, ao
cozinhar o jantar, a cabeça estava estranhamente calma. Fiz um esforço para ir
buscar os pensamentos com que entrei em casa e…nada. Vazio, paz absoluta.
Enquanto salteava uns vegetais a minha atenção estava nas pedrinhas de sal que
se expandiam na frigideira, nos saltos que os vegetais davam, no cheiro que ia
crescendo na cozinha. Nada mais. Estava presente, em paz. Estranhei,
naturalmente, pois esse não era o funcionamento normal do meu cérebro, mas digo
com firmeza: ADOREI. Foi amor à primeira vista!!!
Andamos
normalmente com uma nuvem de pendentes na cabeça: coisas em casa para reparar,
questões de trabalho por resolver, compras em falta, memórias do passado, dúvidas
várias, planos de futuro. Nuvens essas que ao acompanharem-nos, não nos deixam
ter calma para ESTAR. Distraem-nos do momento presente, requerendo maior
energia para processar o que foi, o que será e tentar focar no que é. Muitas
vezes tive a sensação que esses momentos presentes, vividos a pensar noutras
coisas, eram guardados em memória, para futuramente serem relembrados como
momentos passados. Incrível desperdício de energia, assumo hoje.
Rapidamente
entendi a magia da meditação: sentado a respirar percebi que algo acontecia na
minha cabeça, que aliviava o turbilhão de pensamentos e me permitia estar
presente em qualquer momento do meu dia a dia.
A
volta de 180º estava dada. O destino quis mostrar-me na prática o que eu nunca
tinha entendido em conversas ou leituras. O tal impulso (ao qual estou
profundamente agradecido) empurrou-me a explorar mais a meditação e em pouco
tempo estava num curso de meditação VIPASSANA. Um daqueles
cursos em retiro de silêncio, onde não se fala nem se lê nada durante 10 dias
(sim, telemóveis desligados nesses 10 dias). Confesso-vos que essas condições
em nada me refrearam o ânimo. O desafio do curso está além dessa pequena
privação de 10 dias…
Foi
um salto de gigante para quem, como disse no início deste texto, se estava a
borrifar para tudo o que fosse meditação. Mas o tal impulso, mais convicto que
eu, fez-me saltar sem paraquedas. Com toda a razão, pois na minha aterragem estava
à espera uma rede quente e confortável que me aparou a queda. Uma espécie de colo
materno onde se reparam as ansiedades das experiências.
Há 3
anos que, cerca de 3 vezes por semana, acordo às 5h da manhã para poder ter 1
hora de meditação, antes da “casa” acordar. Valorizo o bem que me faz e defini
como rotina sagrada.
Nada
é mágico, nem repentino. Não me transformei em super herói nem ganhei a
lotaria, mas a prática frequente de meditação tem-me trazido ferramentas muito
úteis para gerir o meu dia-a-dia.
Ferramentas
que surpreendem o “André pré-meditação” e que o desarmam na tentativa de trazer
os velhos mecanismos de stress e preocupações. O “André pós-meditação” tem uma
capacidade surpreendente de arrumar e gerir os assuntos na cabeça, deixando-a
liberta para saborear o presente, tal como ele é. Se eu pudesse explicar a
meditação transpondo para um exemplo físico, é como se depois de sentarmos de
olhos fechados a respirar, a nossa casa estivesse toda arrumada e limpa,
fazendo acreditar que uma fada mágica tivesse passado enquanto meditavamos.
Assim o sinto, na minha cabeça, olhando e organizando os pensamentos, de forma
a dissipar a nuvem de pendentes.
Noutro
dia num consultório médico tive este diálogo hilariante:
MÉDICA: Então o André tem andado com stress?
EU: Não doutora, eu abandonei o stress. Eu medito.
MÉDICA: Ah, então funciona consigo? Eu gostaria de meditar
mais, sabe…
EU: Pode começar hoje Doutora. Basta respirar.
Vasco
Gaspar, que me chamou à atenção quando, numa palestra num auditório, colocou dezenas
de pessoas a meditar ao mesmo tempo diz que, quando lhe perguntam quando vai de
férias, ele responde que todos os dias vai de férias durante 1 hora.
Ele
disponibilizou um curso gratuito de mindfulness de 10 sessões, que vivamente
aconselho a quem queira responder ao impulso da curiosidade sobre a meditação,
tendo como “objectivo desmistificar o tema da meditação e inspirar pessoas a
desenvolverem o mindfulness no seu dia-a-dia, contribuindo para o
desenvolvimento humano e para o bem-estar de toda a sociedade.” (bem haja Vasco
Gaspar!!)
Aprendi
muito com o curso e fiquei de boca aberta com a experiência que ele fez medindo
o batimento cardíaco enquanto meditava. O que acham que acontece?
2 comentários:
Que bom e inspirador, André! <3
Fiz um curso com o vasco Gaspar há uns anos, transformador :)
Beijinho
Adorei esta tua viagem…eu medito quando corro…fico bem e em paz!
Enviar um comentário