7 de junho de 2007

Missão de trabalho: Lundas

Mais uma missão de trabalho.
Saída de campo com GPS para as provincias de Lunda Norte (muito diamantífera) e Lunda Sul (menos diamantífera). Desta vez a ambição era percorrer 5 locais destas duas províncias...
As histórias são tantas que, neste post vou apenas contar algumas...e mais histórias ficariam para mais dois ou três post's!!
Como os locais são longe e as estradas são más, quando as há, o meio de transporte foi esta verdadeira máquina intemporal...um helicoptero russo!



Antes que o levassem para um museu, que já se justificava, o helicoptero levou-nos e trouxe-nos de regresso a Luanda. Tripulação composta por dois pilotos e dois mecânicos, todos russos. Nenhum falava português e tinham um Inglês péssimo!! O que tinha o Inglês mais fluente era o comandante, e desconfio que só fluia para aquelas palavras obrigatórias e internacionais de navegação aérea...

Mas tenho que vos confessar que, vendo esta robusta máquina russa e dois mecânicos incluídos na tripulação, senti grande confiança para me meter lá dentro e levantar vôo! Há belas vantagens de viajar num helicoptero, das quais nunca me tinha dado conta. É que, por voarmos a baixa altitude, podemos voar de janela e porta aberta, e ter uma vista previligiada sobre as paisagens.




Estradas que parecem não ter fim e só começam a curvar no horizonte




Meandros!: uma coisa que só me lembro de ver nos livros da escola


Aldeias remotas na planície Angolana, a quilómetros de distância. Rodeadas por mato, mato, floresta, floresta! Cheguei a ver aldeias destas com apenas 5 casas!!




Para mostrar que Angola não é só planicie. Nestas partes o helicoptero ia a voar bem baixo, ou melhor, o relevo é que andava a subir e o "comander" não se ralava muito em actualizar a distância ao solo! Melhor...uma adrenalina espectacular...


Cascatas à vista...primeiro ponto de paragem: uma localidade chamada Dala!

Uma localidade mesmo, com uma estrada nacional a atravessá-la e o resto era terra batida e palhotas! Tinha um rio grande (o das cascatas) e um outro pequeno a rodear a localidade.



Obviamente não havia pista de aterragem, por isso a escolha do "comander" foi o pátio da escola. Como a nossa chegada não foi discreta, aliás nunca poderia ser, tivémos uma atenta recepção da população e arredores...arredores de não sei bem quantos quilómetros, mas a plateia era impressionante!!



Mas, estando o helicoptero ao serviço do governo (mais tarde explico esta questão) tivémos direito a cordão policial para que se fizessem as cargas e descargas com tranquilidade.



Eu andava apenas à boleia desta maravilhosa máquina e o meu trabalho nada tinha a haver com ele...apenas me parasitei para poder chegar a locais tão remotos! Então o helicoptero arrancou de novo para continuar serviço e eu fiquei na vila a recolher pontos GPS. Combinámos que eles passaria daí a pouco, eu entraria de novo e voávamos então para a cidade mais próxima, onde pernoitariamos. Combinado!




Ok, mas eu precisava de um carro para me deslocar aos pontos. Esta vila, de tão pequena e simples que é, deve ter ao todo 4 carros! Resultado, consumi quase 25% dos recursos automóveis usando ,nada mais nada menos, que o carro da polícia! Acompanhado do comandante Cliofas e do agente Kalu, aí fui eu...


Muito simpáticos e prestáveis, com pouco que fazer, claro! Mesmo assim assisti a uma impressionante apreensão de uma mota. Perguntei ao comandante: "então que se passou?" e ele argumenta, em nome da lei: "estava a conduzir mal, estava bebedo, não tinha documentos nem matricula".....OK, justifica-se a apreensão!

Lá fiz o meu trabalhinho, ponto aqui, ponto ali, ponto acolá com 300 crianças a olhar para mim...e estou pronto! Oh maravilha...acabei o trabalho e o heli está a chegar, mas que pontaria!! Enquanto o meu amigo Kalu falava nostálgicamente da minha partida, eu tentava imprimir alguma pressa no regresso ao local combinado porque sabia que não havia muito tempo!

...e não houve mesmo! A disciplina russa obrigou o "comander" a arrancar sem mim, para que podessem aterrar na cidade destino ainda de dia. De outra maneira não poderiam eles aterrar!

Bonito!! Fiquei sózinho numa vila minúscula do interior de Angola, com a roupa que tinha no corpo...a minha mochila também levantou voo com o heli!! Como devem calcular, passaram-me mil pensamento na cabeça, mas não...."calma...estás com a autoridade André"! Fui logo acompanhado pela policia até casa do administrador (ah pois...leram bem, a-d-m-i-n-i-s-t-r-a-d-o-r!) para reportar tão insólito acontecimento! Tranquilo e contente por ter um hóspede naquela terra, encaminhou-me para a hospedaria "Tchihumbué", da qual ainda hoje guardo um carinho especial, como devem calcular!

E a história em Dala fica por aqui, porque se me estender já justificaria outro post, garanto-vos!

A questão que se colocava no dia seguinte de manhã era voltar, ou seja, ir atrás do heli, porque não havia certeza de ele poder vir buscar-me em tempo útil para eu continuar com o meu trabalho! Diziam-me os locais que havia montes de carros e um autocarro que me poderia levar...descansei! Estive hora e meia à espera de uma daquelas coisas que tinham falado e NADA passou naquela estrada...preocupei! Enfiei-me no primeiro candongueiro que passou...ora aí está, uma experiência de candongueiro! Mas não era um candongueiro normal, estava "doente", como eles dizem aqui para o facto de estar avariado! E usando o mesmo léxico, posso dizer-vos que veio também a adoecer pelo caminho!! Fui-me apercebendo que viajávamos sem bateria e com o radiador a perder água!

Nada que 3 ou 4 paragem técnicas não resolvessem...águinha no radiador e siga! Mas em cada paragem técnica havia a necessidade de pegar de novo o motor...empurra e siga!


Posso dizer que passei em locais...um pouco remotos! Estas crianças, estranhando a minha cor de pele, observavam-me como se eu fosse um marciano acabdo de entrar na atmosfera terrestre! Ainda deram o palpite de que eu era chinês, porque naquela longínqua terra só há pretos e chineses a trabalhar na recuperação das estradas!

Passámos numa das mais terríveis estradas no tempo da guerra nesta região. Em cada carcaça havia uma história, tanques de guerra, camiões virados, depósitos de gasolina...enfim, um campo de ruínas de batalha!

Mais tarde, nesta missão de trabalho, numa cidade mais a norte, conheci um coronel que percorreu esta zona, a pé, duas vezes!! Neste local qualquer homem arriscava a vida a cada metro! Mas este coronel não era um qualquer homem. De porte robusto, tinha um olhar tão forte que, não metendo medo, nem sendo autoritário, colocava-nos quase em sentido! Muito simpático e prestável no meu trabalho, mas acredito que um berro deste homem faça estremecer qualquer esqueleto!! Por isso fez esta caminhada que correu bem...podia não ter corrido, mas correu!

Água no radiador

Embatemos num tronco por baixo do carro, descaíu a panela e ficámos encalhados na picada. Há um dos gajos que diz: "porra, agora é que dormimos no mato!!"

"Bolas, dormir aqui??" - as pernas começaram a não me responder - "mas calma....eu empurro, eu escavo, eu arranco a árvore e as suas raízes...dormir aqui é que não PORRA!!"

Cinco homens, muita força, muita estratégia e....carro solto!! Maravilha...mas agora teríamos que ligar o motor...empurrando, lembrem-se!! Empurrando na picada lá pegou o carro....siga!!

Uns quilómetros mais à frente, um cheiro terrível a queimado! Será o motor que está a dar as últimas? Aí pensei: "bom, se calhar não será assim tão mau dormir no mato...estrelas e tal", já me estava a mentalizar, claro...para o pior! Parámos, água no motor e....siiiggggaaa!!! Mas o cheiro continuava e um deles, ao sair do carro diz: "Epa, o pneu tá a queimar!!!". Com a deslocação da panela, o escape colou ao pneu e estava a queimá-lo...e mais uns quilómetros e PUM!!....e lá viria outra vez a ideia de dormir no mato!

Pontapé, cabo, aperta....tá bom e....ssiiigggaaa.....6 horas depois cheguei ao destino! Tão bom...heli à vista!

Para terminar este post, que já vai longo, acabo a explicar o porquê da necessidade de haver dois mecânicos na tripulação: o heli, num dos aeroportos, não pegava!! Era das velas...era mesmo...abre o "capô", desaperta, limpa, encaixa e....ssiiiigggaaaa!!!

Calma, nada de pânicos...estas coisas acontecem...quem nunca chegou atrasado porque o carro não pegava!?

6 comentários:

macaca bzana disse...

Cada vez tenho mais orgulho em ti! Admiro-te pelo que és e pelo que fazes...
O teu controlo, o teu espirito de aventura é fantástico.
Palavras para quê?!
Beijos!

macaca grava-por-cima disse...

Bem, valeu a pena esperar pelo post! Já tínhamos saudades das tuas aventuras e desta vez foi uma aventura mesmo a sério! Belas fotos! O que mais me impressiona é a quantidade de crianças e pessoas que se juntam à tua volta, deve ser engraçado estar a trabalhar com uma data de pares de olhinhos cravados em ti... LOL...

Joana disse...

Concordo com a macaca-grava-por-cima, valeu mesmo a pena esperar por este post, que calculo que tenha continuação.

Grande aventura pelo interior. E o heli é o máximo.

Os putos fizeram-me lembrar a viagem à vila do David em Moçambique.

Aguardo ansiosamente próximos capítulos.

beijinhos
joana

Luis Cirne disse...

È preciso ter tomates bem GRANDES!!!

Anónimo disse...

Gostei muito!
Sim senhor! Belo moço!!
Adorei as fotografias!!!

Beijinhos!!

superedu disse...

Está explicado porque é que em Beja andava a pé, ficou traumatizado com a aventura aahahha

Siigaaaa

Abraço