13 de junho de 2007

Passeio de Domingo

No passado Domingo fui dar um passeio a um mercado de artesanato perto de Luanda! Tinha carro, coisa rara, então toca de aproveitar!
Solinho, cabeça por arejar, esperava-se pouco trânsito...oh que maravilha! Aí vou eu feito domingueiro!
Primeira paragem a 300 metros de casa para abastecer. Ao mesmo tempo que encomendo um depósito cheio, aproxima-se de mim um agente de autoridade:
- Boa tarde, a sua carta e o seu passaporte, faz favor - diz ele com ar confiante
- Aqui tem senhor agente - naturalmente prestável
- O senhor sabe que não pode virar ali onde virou?
- Não sabia senhor agente, não tem lá sinal nenhum...
- Pois, não tem sinal, mas não pode virar.
- Tás a embirrar comigo, já percebi - pensei, olhando-o fixamente
- Ora chegue aqui - disse-me ele, tentando justificar aquela ideia idiota
Aproximamo-nos do passeio junto ao qual eu virei e ele aponta:
- Está a ver? Isto forma um bico...não pode virar!
Eu olho para o passeio e vejo, algo destruído, um bico no passeio, de facto! Mas em nenhum país do mundo, julgo, os passeios substituem os sinais de trânsito, certo? E continuei na minha...perguntando-lhe com base em quê é que me iria passar a multa, já que não havia sinal! Ele engatou naquela, eu tentava, inglório, expor os meus argumentos e ele de repente diz baixinho:
- Vamos então falar bem pra ver se a gente se entende!
Eu traduzo-vos: "passa mas é uma notinha para o meu bolso, deixas de me chatear e eu vou chular outro branquelas que passar po aí!"
E assim foi...fiz escorregar uma notita de 500 KZ (~5 euros) e segui o meu caminho, sem multa, sem problema nenhum!
A caminho do tal mercado, apreciando o sol e a viagem, eis que me aparece outro polícia a mandar parar... Ainda a remoer a paragem anterior, fiz-me de parvo e segui em frente! Olhei depois pelo retrovisor e o coitado estava no meio da estrada a olhar para mim! "Temos pena" - pensei - "vai chular outro". Epa, é que duas paragens STOP no mesmo dia é azar!
Ao regressar a Luanda tive a necessidade de fazer uma inversão de marcha LEGAL! Azar dos azares porque fi-la em frente à autoridade...e ao mudar de direccção fui parar mesmo junto a eles!
- Boa tarde! - novamente um agente
- PORRA - pensei eu, mas cumprimentei-o respeitosamente
- Então o senhor faz uma manobra destas em frente à autoridade!?
- Qual é o problema Sr. Agente? Sendo uma manobra legal, posso sempre fazê-la, certo?
Ficou a olhar para mim e pediu-me todos os documentos, meus e do carro!
- O que o senhor fez é muito perigoso! - diz ele, desiludido por eu ter a documentação em ordem
- Perigoso, senhor agente? Acha que não fiz a manobra em segurança? Com calma?
- Sim, fez, mas esta rua é bastante movimentada e os carros costumam passar muito rápido...
Aí pensei: "porra, mas então isso é que não está na legalidade! Os carros passam muito rápido e eu é que sou mandado parar?"....."ah esqueci, a minha cor de pele, não dá para disfarçar mesmo...BOLAS!!"
Sendo novato, o Sr. agente deixou-me proseguir, sem antes me dar uma pequena lição de moral...que eu fiz por nem ouvir!
BOLAS...que passeio de domingo...

12 comentários:

Fada da felicidade disse...

Podes conduzir aí? Pensava que a nossa carta não dava...

André disse...

Tá tudo autorizado a conduzir com carta portuguesa! A novela "mantorras" acabou!!

Anónimo disse...

Eu acho que não devias parar nunca mais quando visses um polícia.

Ou então compra um autobronzeador e deixa crescer esses caracolinhos. Se quiseres depois explico-te como fazer um afro caseiro.

Beijinhos!!

macaca disse...

Pois, confesso que também foi a primeira coisa em que pensei, Fada da Felicidade!Já estava a ver-te a seres deportado!!:D

Joana disse...

Ou seja sempre que andares de carro convém ter várias notas de 500 Kz para evitar uma multazita...que custa quanto?

macaca bzana disse...

Andrezito, tens que evitar as operações stop senao ficas pobre! :))
Beijosss

macaca grava-por-cima disse...

O Gonçalo Cadilhe, no livro África Acima, consegue livrar-se desse flagelo que são as operações stop em Angola. Mas ele mostrou a carteira de jornalista, agora tu andrézito não sei como te podes escapar...

André disse...

As multas não têm preço...porque nunca chegam a ser passadas! A conversa fica sempre arrumada com uma notita!

sandra disse...

Afinal não é só por cá que existem policias corruptos!

Joana disse...

Ou seja oficialmente é o país onde os condutores são dos mais cumpridores!!!!

André disse...

Exactamente...por isso as estatisticas dos registos de multas e contra-ordenações são muito baixas!!

Pudera...com este método de triagem...o trabalho da policia fica mais facilitado!!

Raquel disse...

Descobri hoje o seu blogue por acaso e fiquei vidrada! :-) apesar deste seu episódio já ter acontecido há muuuuuito tempo, não resisti a comentar com algo que escrevi quando estive a morar em Angola, por coincidência também em 2007! Apresento desde já as minhas desculpas pela enormidade do comentário! :-s

O dia 5 de Abril e foi um dia muito preenchido. Para começar, estava eu em casa muito bem quando recebi um telefonema a dizer… «preciso de ir à cidade. Sabes ir até ao trópico?» Eu, como já estava uma candongueira de primeira, disse que sim e ai fomos nós à aventura procurar uma clínica pediátrica. Maravilha! Saímos de casa lá pelas 9h30 e não havia trânsito… quer dizer, se fossem do Bom dia Portugal diziam que o dito estava congestionado com abrandamentos não sei onde… ah pois! Bem, às 10h já tínhamos chegado à cidade! Nem dava para acreditar! Agora só faltava seguir as instruções que tínhamos e puuuuuum, ia ser fácil encontrar a clínica, certo? Erraaaaaaado! Oh vida! O curioso e desconcertante ao mesmo tempo, é que o pessoal em Luanda não faz a mínima de como se chamam as ruas. Sorte marreca! Demorámos duas horas a encontrar a clínica!!! Isto porque andámos a perguntar a toda a gente e mais alguma «bom dia, sabe onde fica a rua bla bla bla? (…) ah, ok, viro à direita, a esquerda, bla bla bla, obrigada» Uau, pensámos nós, afinal é fácil. E lá seguimos as indicações do senhor polícia. Afinal de contas é uma referência de confiança, ‘né? Nãããããããão!!! O pessoal não sabe os nomes das ruas. Fogo! Isto acontece porque alguns dos nomes são do tempo colonial e eles não querem saber de nada desse tempo, claro! Enfim, continuando… acabámos por ir dar não à rua que queríamos mas ao hospital com o nome da rua que queríamos. Que, por sinal, viemos a perceber era longe como tudo da clínica… uma comédia! Para piorar ou melhorar, depende sempre do ponto de vista (para quem venha aler isto deve ser giro, digo eu), fiz uma manobra, permitida em Portugal note-se, e fui mandada parar por outro polícia. ‘Tou tramada, filho da mãe. «À sua carta di condução pôr favor? Os documento da viatura?» bahhhhhhh! Lá dei eu os ditos e fiquei à espera da sentença… ahhhhhhhhhhh! Entretanto, comecei a ligar para os grandes do clube, para tentar que eles me safassem da situação. Mas não atendiam ou estavam ocupados… que porcaria! Acabei por ligar ao N. para tentar que ele resolvesse a situação. Entretanto, já o polícia tinha entrado para o jipe e dito «podi siguir com o carro, vamos, pôr favor! A sinhora vai ser apreendida!» E eu nada de andar com o bólide… «primeiro tenho que fazer uns telefonemas!», disse eu! Não brincas! Já me queria levar para a esquadra… ‘tá parvo ou quê? E ele a insistir… «vamos, siga com a viatura…vamos lhe apreender. A sinhora não sabi que não podi conduzir com a carta portuguesa em Angola?» O senhor não sabia, ou melhor, sabia mas queria era «gasosa» (ou suborno, como nós dizemos) que os tugas já podem conduzir por estas bandas? Arre! Mas eu fiz questão de lhe dizer! Como eu não arrancava pé de onde estava com o carro ele começou a perguntar para quem é que eu estava a ligar, quem era o meu marido, onde é que ele trabalhava. Para mal dos meus pecados, tive mesmo que começar a andar em direcção à esquadra… mas fui-lhe dizendo que estava a ligar para as pessoas dirigentes do MI, que o meu marido trabalhava para eles… bla bla bla… e a P. (mulher do M.) ia fazendo o papel de mãe vítima que queria levar o bebé super doentinho à clínica, com urgência… será que nos íamos safar? Hummmm… às tantas, com tanta informação, o senhor polícia começou a dizer «beim, como estão com a criança, vou deixar vocêis ir embora. Dá só pelo menos uma «gasosa» de 1000 kwanzas para eu beber uma bibida (bebida)» Claro que foi esperto em pedir a gasosa e deixar-nos ir, porque ele não tinha por onde pegar comigo.

Eu disse que era enooooorme não disse? :-)

Agora vou continuar a ler o resto do blogue! :-)

Raquel Teixeira