Este será dos poucos post’s que não tem a ver directamente com a minha Tertúlia aventureira Africana. Mas por achar o tema tão interessante, partilho convosco. O artigo saiu na edição de verão de 2010 da revista
ArcUSER. Publicação que tem como especialidade a área dos mapas; digamos assim, para todos nos entendermos. É da autoria de Witold Fraczek e tem como nome sugestivo:
“Se a Terra parasse?”. É um exercício de modelação espacial que não me compete avaliar, mas que me maravilhou pela ideia e me surpreendeu, em parte, pelo resultado.

Em primeiro lugar quero esclarecer aos leigos que a Terra não é uma esfera perfeita, azul e sorridente no meio deste Universo desconhecido. Longe disso. Esqueçam a lenga-lenga que nos ensinavam na escola primária de que a Terra é uma esfera ligeiramente achatada nos pólos. A Terra é um calhau disforme e de consistência algo viscosa, ou seja, muda de forma com o passar do tempo. Pronto, já disse…e desculpem se destrui algum do vosso imaginário!

A Terra pode-se aproximar à forma de um elipsóide e, sim, é ligeiramente achatada nos pólos, ou seja, a distância do centro de massa ao equador é maior do que a distância do centro de massa a cada um dos pólos. Mais precisamente, a diferença é de cerca de 21,4 Km. A Terra está sujeita a duas principais forças:
- Força gravitacional que nos atrai para o centro de massa;
- Força centrifuga que, devido ao movimento de rotação da Terra, nos empurra para o exterior.

O resultado é a tal força da gravidade que nos mantêm, literalmente, com os pés assentes na Terra. Ainda temos outras forças, como por exemplo a atracção da Lua (fora de divagações românticas) que nos molda de forma tão visível as marés. E para terminar, apenas a nota de que são os oceanos que nos dão um importante referencial para medir as altitudes dos lugares: o famoso nível médio das águas do mar, aproximado ao geóide.

Não me vou estender mais e desculpem se me demorei nesta explicação, mas acho importante contextualizar-vos para o que vem a seguir. Voltando ao artigo e à questão “Se a Terra parasse?”. Faria assim tanta diferença? Consideremos, convenientemente, que a Terra abrandava e parava ao fim de algum tempo. Porque se a Terra estancasse de repente seríamos projectados que nem pedras atiradas da concha duma fisga…e acabava-se a História toda!
- Se a Terra parasse de rodar em torno do seu eixo, mas continuasse o seu percurso em volta do Sol, os dias teriam a duração de um ano!;
- Se a Terra parasse, deixaria de existir a força centrífuga e assistiríamos a uma secessão de desastre naturais, nomeadamente terramotos, de forma à Terra se reajustar, dado o aumento da força da gravidade;
- Com a ausência de força centrífuga, seríamos atraídos para o centro da Terra com mais intensidade, pesaríamos mais e os oceanos ficariam sujeitos a mudanças;
- Os oceanos migrariam para onde a força gravitacional seria maior. Onde?...relembrem a contextualização anterior: para os pólos! Na zona do equador começaria a aparecer terra.

As maiores e mais imediatas diferenças sentir-se-iam nas latitudes altas (próximas do pólo) com a invasão da água, escoada do equador. Na presente geometria, temos um contacto físico entre todos os oceanos, facto que permitiu a Fernão de Magalhães fazer a circum-navegação. Com a paragem da Terra e a fuga dos oceanos, ficaríamos com uma geometria terrestre oposta à actual: dois grandes oceanos independentes, sem contacto e uma massa continental contínua.

Dar-se-ia inicio a um novo período de audácias e far-se-ia a cicum-deslocação terrestre. Devido à forma da Terra, a diferença altimétrica entre os dois oceanos seria de cerca de 1400 metros. Teríamos que estudar novamente as altitudes dos lugares que hoje damos por conhecidas, pois com o movimento dos oceanos, a nossa referência iria sofrer alterações. Na imagem seguinte, um pormenor do que aconteceria na América do norte: um Canadá submerso, novas praias em Nova Iorque e os carros antigos de Havana poderiam ir a rolar até desfilarem em Miami, uma cidade do interior!

A simulação feita pelo autor negligenciou alguns factores, que poderiam ser relevantes. A modelação é puramente matemática e só considera a ausência de força centrífuga, em consequência do abrandamento da Terra.
O mais assustador é que, segundo o autor, há cientistas que estão a fazer estudos sobre a velocidade da Terra. São alterações infinitesimais, mas parece que existem: a Terra está a abrandar! Há 400 milhões de anos parece que a Terra girava 40 vezes mais em torno do seu eixo durante o seu passeio em volta do Sol. Fazendo as contas, vai continuar a abrandar, até parar, daqui a 4 biliões de anos. E nessa altura, meus amigos…é que vamos ver como se vai passar da teoria à prática…