Os banhos públicos
na Coreia do Sul, assim como em muitos países, nasceram da necessidade de
higiene pública. A Coreia do Sul dos anos 50 era muito pobre e traumatizada com
a guerra que separou as Coreias. A falta de condições das casas e os Invernos gélidos
que traziam temperaturas máximas de -10°C, levou à
criação dos banhos públicos para que as pessoas se podesse lavar
convenientemente, pelo menos 1 a 2 vezes por semana.
Com o passar dos
anos, com o exponencial crescimento da Coreia do Sul e melhoria das condições
das casas, os banhos públicos entraram num contexto de SPA: ajuda a desligar do
ritmo frenético em que o país mergulhou.
Os banhos públicos
são compostos por piscinas, saunas, jactos, jacuzzis e esfoliação. Não há uma
sequência a seguir. É ao sabor de cada um...
Piscinas de várias
temperaturas. Desde os 15⁰C aos 45⁰C. Pode-se jogar com choques térmicos (adoro!) ou simplesmente ir
derretendo o corpo nas temperaturas mais elevadas.
As saunas são
variadas, em humidade, temperatura e odores. A mais surpreendente para mim foi
uma sauna à temperatura de -10⁰C (não é gralha
de escrita. São 10 graus negativos!). Havia inclusive avisos para não nos
sentarmos sem uma toalha, correndo o risco de colar as nádegas ao banco.
Os jactos, que
devem ter como objectivo massajar e relaxar o corpo, muitas vezes obrigam-me a
fugir, tal é a força e a dor que provocam, parecendo ser uma projecção de
agulhas!
Os jacuzzis sim,
borbulham o nosso corpo com água morna, da cabeça aos pés. É de ficar ali horas
seguidas.
Por fim, mas de
modo nenhum menos importante, existe dentro do banho público um esfoleador
profissional. O nosso único trabalho é deitarmo-nos numa marquesa. Depois, o
esfoleador dedica atenção a cada centímetro do nosso corpo. Parecemos um réptil
a deixar a velha pele cair no chão. Sai-se de lá com a pele limpa e brilhante.
No primeiro dia que
cheguei à Coreia, para conhecer a família da Yumi (e ser devidamente analisado)
fui levado a um banho público pelo irmão e pai da Yumi. Que maneira melhor
haverá para nos conhecermos do que estar, com potencial futuro sogro e cunhado,
em pelota, enfiados numa mesma piscina ou sauna? Assumi que as experiências
culturais têm destas coisas e tentei agir com naturalidade. Todos estão nus nos
banhos públicos, por isso “se em roma sê romano, na Coreia sê Coreano”. O
inglês do irmão da Yumi dá para fazer algumas perguntas, de maneira que tive o
interrogatório da praxe, sem direito a advogado nem uma toalhita para me tapar.
Na zona dos duches,
quando eu achava que tinha atingido a quota diária de interculturalidade, vejo
o irmão da Yumi aproximar-se de mim com uma luva áspera de esfoliação.
Percebendo o que ele ia fazer eu disse “no, no...no need, thank you”. Ele
segurou-me no braço e, com um sorriso que rejeitava qualquer rejeição, disse
“Korean tradition”. No segundo seguinte o irmão da Yumi estava a esfoliar-me as
costas no duche com a luva amarela, e eu a elevar os meus níveis da quota de
interculturalidade. Olhei em meu redor e reconheci um padrão: os mais velhos
esfoliavam os mais novos, fossem estes crianças, ou adultos. Esfoliou-me ainda
os braços com tal vigorosidade que pensei que ia deixar os sinais da pele todos
no duche. Depois deu-me a luva amarela e disse “you do the rest”. Ufa...
Hoje em dia já vamos
aos banhos públicos com a naturalidade de duas pessoas que vão tomar café ou ver
a bola.
Muitas vezes vou
sozinho, sob o olhar espantado dos coreanos. Mas fazer o quê? Adoro o ritual...
5 comentários:
We are family!:)
ahahahaha, Grande. és um valente, André, prova superada :D
Muito bom! :D
Que coragem. Adoro. Bjs
Hahahaha só para quem merece ��������
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