17 de maio de 2018

Banhos públicos



Os banhos públicos na Coreia do Sul, assim como em muitos países, nasceram da necessidade de higiene pública. A Coreia do Sul dos anos 50 era muito pobre e traumatizada com a guerra que separou as Coreias. A falta de condições das casas e os Invernos gélidos que traziam temperaturas máximas de -10°C, levou à criação dos banhos públicos para que as pessoas se podesse lavar convenientemente, pelo menos 1 a 2 vezes por semana.

Com o passar dos anos, com o exponencial crescimento da Coreia do Sul e melhoria das condições das casas, os banhos públicos entraram num contexto de SPA: ajuda a desligar do ritmo frenético em que o país mergulhou.

Os banhos públicos são compostos por piscinas, saunas, jactos, jacuzzis e esfoliação. Não há uma sequência a seguir. É ao sabor de cada um...

Piscinas de várias temperaturas. Desde os 15C aos 45C. Pode-se jogar com choques térmicos (adoro!) ou simplesmente ir derretendo o corpo nas temperaturas mais elevadas.

As saunas são variadas, em humidade, temperatura e odores. A mais surpreendente para mim foi uma sauna à temperatura de -10C (não é gralha de escrita. São 10 graus negativos!). Havia inclusive avisos para não nos sentarmos sem uma toalha, correndo o risco de colar as nádegas ao banco.

Os jactos, que devem ter como objectivo massajar e relaxar o corpo, muitas vezes obrigam-me a fugir, tal é a força e a dor que provocam, parecendo ser uma projecção de agulhas!

Os jacuzzis sim, borbulham o nosso corpo com água morna, da cabeça aos pés. É de ficar ali horas seguidas.

Por fim, mas de modo nenhum menos importante, existe dentro do banho público um esfoleador profissional. O nosso único trabalho é deitarmo-nos numa marquesa. Depois, o esfoleador dedica atenção a cada centímetro do nosso corpo. Parecemos um réptil a deixar a velha pele cair no chão. Sai-se de lá com a pele limpa e brilhante.



No primeiro dia que cheguei à Coreia, para conhecer a família da Yumi (e ser devidamente analisado) fui levado a um banho público pelo irmão e pai da Yumi. Que maneira melhor haverá para nos conhecermos do que estar, com potencial futuro sogro e cunhado, em pelota, enfiados numa mesma piscina ou sauna? Assumi que as experiências culturais têm destas coisas e tentei agir com naturalidade. Todos estão nus nos banhos públicos, por isso “se em roma sê romano, na Coreia sê Coreano”. O inglês do irmão da Yumi dá para fazer algumas perguntas, de maneira que tive o interrogatório da praxe, sem direito a advogado nem uma toalhita para me tapar.


Na zona dos duches, quando eu achava que tinha atingido a quota diária de interculturalidade, vejo o irmão da Yumi aproximar-se de mim com uma luva áspera de esfoliação. Percebendo o que ele ia fazer eu disse “no, no...no need, thank you”. Ele segurou-me no braço e, com um sorriso que rejeitava qualquer rejeição, disse “Korean tradition”. No segundo seguinte o irmão da Yumi estava a esfoliar-me as costas no duche com a luva amarela, e eu a elevar os meus níveis da quota de interculturalidade. Olhei em meu redor e reconheci um padrão: os mais velhos esfoliavam os mais novos, fossem estes crianças, ou adultos. Esfoliou-me ainda os braços com tal vigorosidade que pensei que ia deixar os sinais da pele todos no duche. Depois deu-me a luva amarela e disse “you do the rest”. Ufa...

Hoje em dia já vamos aos banhos públicos com a naturalidade de duas pessoas que vão tomar café ou ver a bola.

Muitas vezes vou sozinho, sob o olhar espantado dos coreanos. Mas fazer o quê? Adoro o ritual...

5 comentários:

Kkul disse...

We are family!:)

Isa disse...

ahahahaha, Grande. és um valente, André, prova superada :D

Inês VL disse...

Muito bom! :D

Ana Carvalho disse...

Que coragem. Adoro. Bjs

Sara disse...

Hahahaha só para quem merece ��������