9 de junho de 2018

Homenagear os antepassados

Hoje trago-vos uma experiência da Coreia do Sul que me comoveu bastante. Nós em Portugal temos por hábito celebrar o 1º de Novembro homenageando entes queridos falecidos. É uma forma de valorizar os antepassados ou alguém que partiu prematuramente.

Na Coreia do Sul, o que me comoveu foi a organização e disciplina de tal evento.

A cerimónia, no passado, era feita em cada dia em que um ente querido (até à 3ª geração) tinha falecido. Além disso eram feitas cerimónias maiores, homenageando todos esses antepassados em conjunto, duas vezes por ano: na passagem do ano lunar e no dia de acção de graças. Com isto chegava-se a ter dezenas de cerimónias por ano! Como na Coreia o tempo é um bem cada vez mais escasso, e as pessoas gostam de ter vida, em muitas famílias faz-se apenas uma cerimónia, no dia de acção de graças.

Só é possível fazer esta cerimónia com uma descendência de homens, ou seja, se um casal só tiver filhas, acaba-se a cerimónia na família (sim, a sociedade Coreana é bastante machista).

As mulheres preparam a comida (hoje em dia os homens já dão uma ajudinha) durante horas a fio.

As quantidades são muitas vezes superiores às barrigas na sala, e até aos olhos todos somados! Inexplicável. Dá a sensação que a qualquer momento entrará pela porta uma equipa de futebol esfomeada para ser alimentada, mas isso nunca acontece.


No altar, estão escritos os nomes dos familiares falecidos, com caracteres chineses (país de onde vem esta cerimónia). Contam-se 3 gerações para trás e lá estão todos lembrados. Não deixa de ser emocionante que, nem que seja por um dia, por umas horas, haja a humildade de homenagear quem nos pôs no mundo e quem fez o que pôde para ir prolongando a história da família.




Os antepassados são servidos com toda a comida preparada e há um brinde para celebrar tal momento. A vénia não pode ser esquecida, nunca o é. Desde os primeiros passos na educação duma criança têm que prestar cordialidade aos mais velhos, seja na linguagem, nos modos ou na vénia.





Depois de saciados e homenageados os falecidos, é tempo de os presentes na sala comerem. A comida, como em qualquer casa coreana, abunda. É indelicado que alguma travessa termine, quando algum dos presentes ainda tiver vontade de comer. Acho que nunca me vou habituar à ideia.

Durante a refeição, não pude evitar o desviar frequente do meu olhar para o altar, sentindo que os antepassados observavam em paz a nossa refeição. Agradecia, sem os ter conhecido, de terem prolongado a família coreana onde entrei, e onde conheci a minha companheira…

1 comentário:

Isa disse...

Dia de finados é dia 2 de novembro, dia 1 é de todos os santos. Vamos ao cemitério nesse dia por ser feriado e facilitar, já que dia dois é dia de trabalho. Daí a confusão. O teu relato foi vívido, quase me vi nessa sala. Beijinhos