Hyenpung
é a zona da Coreia onde morámos durante quase 6 meses.
Zona
nova, a 20 minutos da cidade de Daegu, urbanizada e pensada a régua e esquadro.
Por vezes pensava que a zona tinha sido desenhada por um especialista no famoso
jogo SIMCITY. Nem a floresta de edifícios de 20 andares me chocavam. A Coreia
tem um pouco mais de área que Portugal, mas quase 51 milhões de habitantes. Ou
seja, uma densidade populacional bastante maior que em Portugal. Assim, se
alojarmos as pessoas na vertical, há mais espaço na horizontal para a
circulação, espaços de lazer, zonas comerciais, passeios nas montanhas, etc…
O
estranho fui eu, que em quase 6 meses, os estrangeiros que vi não me encheram
os dedos duma mão. Ser estrangeiro em Hyeonpung é quase como ser uma
celebridade. A grande diferença é que nunca ninguém me pediu um autógrafo ou
quis tirar uma selfie comigo.
Ao
apanhar o autocarro em Daegu para Hyenpung o motorista bloqueia a minha
entrada. Com um ar muito admirado e tenso diz-me para não entrar, pois o
autocarro vai para Hyenpung. Dá ideia que irei passar uma barreira proibida aos
estrangeiros, ou talvez ele tenha medo que me tenha metido num autocarro por
engano. Digo-lhe que sim, o meu destino é Hyenpung. Ele cede e deixa-me entrar,
mas abana a cabeça, como se eu estivesse prestes a fazer um erro grave.
As
crianças perdem a postura que as levava pacatamente para casa. Fazem sinais
nervosos, chamando a atenção aos amigos para o “fenómeno”. Os sinais são universais,
de maneira que quando dão as primeiras pancadas nas costas dos amigos, já eu me
rio por dentro. Olham esbugalhados, incrédulos, pois as personagens dos livros
da escola, que dão conta de outros países e culturas são uma realidade. Parece
que saí das páginas dos estudos e deambulo como exemplar vivo do Ocidente.
Algumas
crianças mais velhas tentam o diálogo em Inglês, tímidos. Ouve-se o clássico
“Hello” ao que eu costumava responder “ Hello, how are you?”. Frase que os
deixava logo sem fala. Não porque não saibam mais, mas parecia-me que não
esperavam resposta e, surpreendidos, fugiam.
Os adultos não costumavam ligar muito. Um sorriso, algumas
palavras de Inglês, às quais eu tentava responder no meu mau Coreano, eram
suficientes para partilhar cordialidade.
Os mais idosos é que reparavam e muito. As avós não se
continham quando me viam com a família. Ao olharem para a Bia exclamavam “mas
que menina tão linda, muito parecida com o pai”. Uma observação deveras apropriada
para se dizer…em frente à mãe!
Os avôs olhavam fixamente com um espanto congelado no rosto.
Os que conseguiam arriscar algum inglês, com um sotaque nem sempre perceptível,
diziam: “where?”, “country?”, “from?”, uma palavra que procurava satisfazer a
enorme curiosidade de saber de onde vinha este Ocidental. “Portugal”, dizia eu.
“Aahh”, obtinha quase sempre como resposta. Um “aahh” que podia significar
muita coisa, como “longe”, ou “não faço a mínima ideia onde fica”, ou “isso é
um país?”. Mas um “aahh” que encerrava a conversa, pois nem o inglês deles, nem
o meu coreano dava para maiores desenvolvimentos. Acabava o curto diálogo com o
meu melhor sorriso.
2 comentários:
mas a bia é de facto parecida contigo... :)
Clau
My famous lovinho in Hyunpoong!:)
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