No final de Maio, na zona sudeste de África, aguarda-se com
saudável ansiedade pelo festival BushFire, na
Eswatini (novo nome dum país anteriormente chamado Swazilândia). Poupem-se ao labirinto
mental de pensar na logística de mudar o nome a um país! Concentremo-nos no
festival…
Cerca de 20 mil pessoas de várias origens rumam à arena do
festival. Os bilhetes esgotam um mês antes e quem fica a pensar até à última
hora, perde o lugar.
O alojamento em redor rebenta pelas costuras, havendo
marcações com um ano de antecedência, ou seja, reserva feita no momento em que
acaba a edição anterior do festival!
Uma opção muito viável é o acampamento, numa das várias
áreas em redor do festival. Distam de alguns minutos a pé da festa e são,
durante quase todo o tempo, uma extensão da folia. No entanto, quando chegamos
e somos encaminhados para os nossos aposentos, tenho a sensação de estar num
campo de refugiados.
Ideia que se esvanece assim que levantamos o fecho éclair da
forte lona do abrigo. Os pormenores existentes traduzem-se num conforto total:
cama, mesa-de-cabeceira e pequeno candeeiro. Não precisamos de mais. Esqueço a
ideia inicial…estou em casa. O som de fundo é festa, com concertos ao longe e
mais tarde com os últimos bêbados a chegar à tenda, momentos antes do nascer do
sol. Ao amanhecer é a vez da sinfonia dos bebés arrancarem da cama os pais
sonolentos pela festa. Na prática, o acampamento quase não dorme.
O pequeno-almoço é uma agradável surpresa, com uma panóplia
de oferta gastronómica, fica bem acima de muitos hotéis onde fiquei. É também
no pequeno-almoço que nos podemos deliciar com o desfile de pijamas, cabelos e
pantufas farfalhudas. Hábitos culturais ou febre do festival, o certo é que
estive boquiaberto a admirar, antes de meter o café da manhã à boca. Os pijamas
são de polar, pois à noite a temperatura chega aos 8 graus. Mas não são simples
pijamas…são fatos macaco a imitar animais, com pompons no rabo e orelhas
compridas. Os cabelos, sejam naturais, sejam falsos, representam uma montra
digna de concurso. As pantufas são surreais. Com motivos como leões ou pandas,
cheias de pelo, passeiam indiferentes à poeira do chão. E a cereja no topo do
bolo: roupão! Nunca me lembrei de levar um roupão para acampar, de facto…que
falha!
Depois de divina refeição, as tendas ganham outra cor.
Eis algo que nunca me ocorreu na mente em toda a minha vida: fazer fila matinal à porta do festival e ser um dos primeiros vinte a entrar. Mas o cartaz é intenso, as crianças acordaram há 4 horas e às 10h da manhã aguardamos que abram os cadeados.
Tudo a postos, com carrinho de bebé incluído..."Fire is my favourite colour"!
Sem pijama, mas vestida de princesa, a Bia entrega-se à atmosfera
do festival…
Aqui há gente de todos os tipos. Desde o pé descalço à super
produção, desde aquele que estudou minuciosamente o alinhamento e tem uma
agenda dos palcos àquele que ainda nem viu o cartaz. Há quem tome o
pequeno-almoço acompanhado duma garrafa de vinho, e há quem prefira o chá
matinal acompanhado de poesia. Mas somos todos normais. Há uma sensação
familiar neste festival que nunca senti antes.
Há vários palcos em acção, cada um com um ambiente
especifico, a acontecer ao mesmo tempo. Dificil é escolher.
O espaço das crianças, onde se pinta, pula, dança, brinca e se comem guloseimas é, a dada altura do dia, o local mais activo do festival, com os pais a quererem aproveitar tudo enquanto os seus petizes se divertem.
De dia estamos de manga curta, à noite a temperatura vai
abaixo dos 10 graus. Mas ninguém verga. Entre casacos, gorros e fogueiras
espalhadas pelo recinto, o foco é em curtir o ambiente e a música.
Dos concertos que vi, a minha retina ficou dividida com duas
actuações, que partilho:
Blackmotion: Dois malucos em palco que fazem a festa toda. Fazem os foguetes, lançam
os foguetes, mas as canas ficam a dançar nas estrelas. Nada nem ninguém fica
indiferente. É impossível ficar parado com este som, mesmo para os pés de
chumbo.
Meute: Vários homens, formalmente vestidos, com instrumentos portáteis, pois ninguém
fica no mesmo sítio, parecendo terem bicho-carpinteiro na palma dos pés.
Produzem música electrónica com instrumentos da família dos clássicos.
Surpreendente e contagioso…
Ao sol há aulas de tambor para todas as idades.
Na arena é uma festa, enquanto a música rola. Dança-se no
intervalo das actuações. Não há tempo a perder.
Obrigado Bushfire e até para o ano…
1 comentário:
Andre, que maravilha!!!!! Qual sudoeste.nao percebi o novo nome do país....beijinhos a todos AP
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