O
alojamento onde vou pernoitar está no limite do conforto. A casa de banho tem
um buraco enorme na parede, com destino desconhecido. Não há porta de divisão
entre o quarto e a casa de banho, onde a água me foi fornecida em baldes de
recurso, pois as torneiras estão secas. No entanto as duas lâmpadas que há
acendem, tem uma cama com lençóis (onde não quero examinar a limpeza) e a porta
do quarto fecha. Estão reunidas as condições para dormir.
As
alternativas a este alojamento não são boas: quartos de ocupação à hora, ou
recepções escuras e de intenções dúbias. De maneira, que fico muito satisfeito
com a opção de ter uma cama e um tecto até à manhã seguinte.
Quando
me preparo para dormir sou despertado por um barulho vindo da casa de banho.
Não foi preciso levantar-me, pois apareceu ao alcance da minha vista uma barata
enorme na casa de banho. Quando digo enorme não estou a descrever embalado pela
aversão que este animal geralmente me provoca. Estou a falar dum espécime que
provavelmente transporta genes de dinossauro. Não sei se será o macho alfa, ou
a matriarca ou o rei do trono, mas é colossal.
Sem
exageros o comprimento daquela barata aproxima-se a uma caneta Bic. Pela forma
não há dúvida do que é, mas pelo tamanho poderia fazer-me suspeitar de um
pequeno rato. Assim não consigo dormir. Já há uns anos que vou lidando com esta
bicharada urbana, mas nunca tinha visto uma barata tão impressionante. Infelizmente
já tive que dividir a minha casa com várias pragas de barata, mas, repito,
nunca tinha visto nada assim. Podia ser um animal de estimação a deambular pela
pensão.
Sem
recurso a armas químicas, tenho que resolver aquela coabitação indesejada. Não posso
dizer que se trata dum intruso, porque se calhar o quarto é daquela barata e
eu, nesta noite, é que sou o intruso. De pijama, saio da cama, calço o sapato
do pé direito e dirijo-me devagar ao meu alvo, que parece não se importar com a
minha aproximação. Aproveito e lanço-me a ela, pisando-a. Piso com a sola do
sapato, transporto o meu peso para a perna atacante e dou uns solavancos.
“Afinal foi fácil”, pensei, antes de levantar o pé.
Quando
levanto o pé, a barata sacode-se e…levanta voo! Aparentemente pouco afectada,
abre as asas e vai para um sítio onde a deixem em paz, declinando a vingança.
Arrepio-me e tento manter a calma para perceber o que aconteceu ali. Temo que
ela se vire e me mostre os dentes cerrados e olhos ensanguentados de ódio. Mas
nada disto acontece, ela parece ter perdoado o facto de eu lhe ter posto em
cima dezenas de quilos…e nem foge amedrontada!
Não vou
tentar mais nenhuma investida. Não por temer o adversário, que afinal se
mostrou pacífico, mas porque sobrevivendo àquela investida, merece seguir em
paz. Como se eu tivesse apenas uma hipótese de ganhar o duelo e, perdendo-o,
tenho que conviver com o adversário.
Dormi
um sono completo.
No
dia seguinte, senti necessidade de comentar com alguém da zona, pois receava ter
tido alucinações, uma espécie de pesadelo “Metamorfose” (Farnz Kafka). “Ah sim,
aqui chamamos de baratas com esqueleto”, obtive como resposta.
Faz sentido…
3 comentários:
Um verdadeiro pesadelo!!!! É talvez o único bicho que me apavora. E com essa envergadura .... fugiria do quarto sem olhar para trás ��
que horror... eu tive uma história parecida, mas ela nao tinha esse tamanho todo, apesar de grande, e eu venci-a:
http://www.isabelduartesoares.com/psycho/
Tenho verdadeiro nojo e pavor às baratas, opto por produtos químicos. Mesmo assim elas com as patas para o ar ainda continuam a correr. Felizmente não voam. Já vou atrasada, mas não queria deixar de enviar muitos beijinhos de parabéns à minha querida neta Bia e nunca me esquecerei da sua frase :"É di mim".
Beijinhos a toda a família e sou eu a mãe cota?
Mizé
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