21 de setembro de 2009

Postais da Gorongosa

O Parque Nacional da Gorongosa, situado no centro de Moçambique, começou por ser uma reserva de caça. Privilegiado na paisagem, na abundante irrigação natural e variada flora, o parque da Gorongosa sempre teve um papel importante no território Moçambicano. Na época colonial, até meados de 1940, era palco privilegiado para ir buscar umas cabeças de troféus...

A partir de meados de 1940 o espaço foi reconhecido com grande valor turístico, baixaram-se as armas e deu-se lugar a uma pura reserva de vida selvagem. Um local a visitar, observar e aprender. Desta data até meados de 1960, o Parque da Gorongosa, a “Jóia da Coroa de Moçambique”, como era referido, era visitado por milhares de pessoas. Contam as memórias desses tempos que eram avistados animais até ao horizonte. Na contagem de animais referem-se milhares para os mais comuns antílopes e centenas para os felinos leões. Toda esta "primavera" da história do parque da Gorongosa culminou em 1960, com o estatuto de parque nacional.

Infelizmente a partir de 1981, 6 anos após a independência, a história do parque começou a ficar manchada. Muito por culpa do animal Homem (uma aberração neste ambiente natural) e as suas guerras (mais sangrentas e devastadoras que as disputas selvagens) o parque entrou em declínio. Rebentou a guerra colonial e o parque foi campo de batalha, foi sede militar da Renamo e foi fonte de alimento. Os animais deixaram de ser vistos como algo a presevrar, para começarem a ser vistos como algo a comer e fazer dinheiro. A caça furtiva enraizou-se de forma descontrolada! Flagelo que perdurou até meados de 1992.

Nos primeiros passos de reabertura do parque, cerca de 1996, o balanço de animais registava algumas extinções e um deserto geral da fauna que fazia desanimar os mais optimistas! Hoje, o parque está em franca ascensão, recebendo turistas de todo o mundo. A paisagem, ainda bela, esconde silenciosamente horrores de guerra, oferece-nos novamente um palco privilegiado para a vida selvagem...já se visita...e já se vêem bastantes animais.

A visita ao parque é conduzida por uma rede de picadas, incluídas num mapa que, a bem de todos, deve ser sempre respeitada. Para quem entra em qualquer parque deste género com a obsessão de ver os maiores, os mais raros...perde metade do "espectáculo".
Na minha opinião o visitante deve vir sem ideias fixas, pronto para ser surpreendido! Porquê? Porque é difícil ver felinos ou alguma cena "National Geographic" como vemos confortavelmente sentados no sofá! Será também interessante ver um safari de pássaros, ver um gigante crocodilo imóvel, ver elefantes a fugirem...enfim...ver, ao vivo, um ecrã onde o homem deve tocar o menos possível.

Assim sendo, deixo-vos alguns postais da Gorongosa:













Ficam assim algumas imagens deste parque, com 3770 Km quadrados de área e uma grande margem de evolução. Na ordem do dia estão os números e distribuição de animais. A comum repovoação de animais é um assunto algo polémico, muitas vezes disputado entre quem quer turismo e amantes da natureza. Fugindo estrategicamente desta discussão (sobre a qual tenho opinião, mas faço uso do silêncio) deixo-vos duas janelas de esperança:

1) A contagem de animais no parque em três datas distintas. A coluna de 1994, com uma assustadora frequência de ZEROS, deixa antever que, para o futuro, só podem vir melhores noticias!
2) A distribuição, mensal, de cada local onde são avistados alguns animais.

7 comentários:

Anónimo disse...

adorei andré.....valeu!

Anónimo disse...

o anonimo fui eu...a sacha...não sei porque raio saiu anonimo!

Unknown disse...

Parabéns! Boa síntese! É louvável que se diga e se repita que as ideias feitas "devem ficar em casa"!...
O único local onde os animais estão vedados no PNG é no Santuário e mesmo assim, esses animais não estão disponíveis para mostra. Os técnicos que trabalham nessa área (vedada) nem todos os dias os conseguem ver, ou tão pouco, "saber" em qual mata estão esconddos ou abrigados do calor.
Julgo até, se calhar, não é demasiado DIZER que o continente africano em geral - deve ser local para "mentes arejadas"...
Quem viaja e leva para ali muito preconceito não voltará bem disposto.
É local para se ir com tempo e falar com as pessoas que vivem ou trabalham nos locais - ouvir e perguntar - usando formas de aprender e saber mais naturais.
Claro a leitura dos programas ajuda... mas nunca é demais recordar aquilo que Heminguay dizia... "em África, aquilo que é verdade ao nascer do sol já não é verdade ao pôr do sol".
Quer se goste do autor ou não, este comentário continuará seguramente a ser verdadeiro e traduz uma experiência.
Parabéns!

Celestino Gonçalves disse...

Também gostei desta síntese, embora tenha uma citação histórica imprecisa que me parece útil corrigir. O autor não foi bem informado quanto ao início do declínio do Parque. Com efeito, a desgraça deflagrou em fins de 1981 (6 anos depois do país se ter tornado independente, com a invasão e destruição do Chitengo e demais infraestruturas do Parque por parte da Renamo. Só em 1994, dois anos após o acordo de paz entre a Frelimo e a Renamo, o Parque voltou a ser ocupado e defendido por parte dos agentes dos serviços de conservação da fauna bravia que o encontraram praticamente vazio de animais.
O trabalho que ali tem sido desenvolvido nos últimos anos para a sua recuperação é extraordinário e não temos dúvidas que, a médio prazo, os resultados em termos de aumento dos efectivos de animais (já muito satisfatórios agora) e de condições para receber grande número de turístas, será uma realidade que muito honrará Moçambique!
Saudações amigas!

Unknown disse...

Pois, Celestino Gonçalves faz um comentário especializado da realidade que conheceu em detalhe- que não é o meu caso. Até 1974´o meu único conhecimento do PNG vinha dos manuais escolares, como terá acontecido às outras pessoas que não viveram em Moçambique e que hoje estão na casa dos 50 anos. Lembr só que, na década de 70 havia outros parques e reservas abertos ao público visitante, tanto em Angola como em Moçambique - e que não mereciam a honra de serem citados nos manuais escolares exibindo o leão (gordito) e a sua imponente juba! Meio mundo lusófono com a minha idade, terá essa imagem no arquivo de memórias da vida escolar.
O Celestino faz bem estar atento e fazer as correcções para que não se deturpem nem factos, nem dados. Essa é a função e estatuto dos velhos - a reposição dos factos!

André disse...

Obrigado pelos comentários! Sou o autor e, confesso, nem era nascido no 25 de Abril. Adoro África, com todo o seu turbilhão de emoções e inspira-me escrever sobre ela...quase sempre aspectos positivos, tão necessários para uma evolução sorridente! Agradeço o reparo, pois pensei que com o inicio da guerra colonial, tinha também iniciado a degradação do parque!

Ellen disse...

André, ótimo texto, adoramos !!
Abraços