Chego a casa embrulhado em mim próprio, contraído com o frio e coberto por várias camadas de roupa. É noite e ainda não parou de chuviscar, desde o inicio do dia. A condensação sai da boca, presa num riso congelado pela secura da pele. As mãos rijas magoam-se ao pegar no metal das chaves e a locomoção faz-se com dificuldade. Todo eu pareço de vidro e vou esfregando as mãos durante as tarefas domésticas. O chá arrefece num instante e não consigo estar no sofá sem um cobertor a ver as notícias de recordes de temperatura, de vias bloqueadas, de recolha de sem abrigos, de cortinas do árctico, etc...
Entro na cama, arrependido de levantar tão repentinamente o edredon, pois sou recebido com uma brisa gelada que consegue entrar nas brechas da roupa folgada. Os lençóis parecem molhados e deito-me com sacrifício, friccionando as pernas, as mãos, os braços e encolhendo-me em posição fetal para rentabilizar energia. À medida que "descongelo" apercebo-me que estive com os músculos contraídos por demasiado tempo e que só então me é devolvido o bem estar.
Acordo a meio da noite esmagado pelo calor. Respiro devagar para não me cansar e não aquecer o corpo. Estou em cima dos lençóis, pernas e braços abertos, a tentar aumentar a superfície de arrefecimento, mas não corre uma brisa. Estou nu, mas apetece-me despir a pele. A atmosfera do quarto adensou-se e estou colado à cama, numa mancha de suor. Levanto-me, descolando-me dos lençóis, ponho os pés no chão quente e escorre-me suor pelas costas, pela testa... Abro duas janelas para provocar corrente de ar, mas o vento não consegue atravessar a massa de ar quente. Bebo água, polvilho-me com água e volto a deitar-me com movimentos lentos. Adormeço...
De manhã arrasto-me para debaixo do chuveiro, ansioso por uma cascata de água fria, que me remova a camada de gordura que tenho na cara. Regulo o chuveiro para o frio/morno à medida que recupero a respiração. Embrulho-me para me enxugar, mas tenho calor. Vou-me secando aos poucos com o posicionamento estratégico da toalha. Chego ao quarto, toalha perdida pelo caminho, já seco. Visto-me devagar, escolhendo roupas leves e frescas e penso que as meias e os sapatos são tão dispensáveis! É como vestir um gorro e ir para dentro duma sauna. Mas não me sinto bem em ir trabalhar de chinelos. Bolas!
Saio à rua já a transpirar e só a roupa larga não faz notar as costas que escorrem. A agitação de trânsito e pessoas fazem-me mais calor psicológico. As sombras estão todas ocupadas por pessoas de olhos semi cerrados e o sol fulmina, abrasivo na cara. Caminho devagar, com um sorriso preso à cara, mas não da secura da pele. Do prazer de estar numa atmosfera com a mesma temperatura que o meu corpo. De ser movido a energia solar...
17 comentários:
Mais uma vez um texto soberbo!!! Para provar que não és maluco em teres ido para Moçambique, informo-te que estou desempregada ( mas tenho esperança que não seja por muito tempo ;) ). Vou contar com a tua boa disposição para ir entretendo os meus dias ;)
Beijinhos e boa sorte
Cláudia (colega de curso)
Mas será que um bocado desse maravilhoso calor não poderá ser enviado num tele-transporte aqui para Beja?
Precisas que eu exporte protector solar? :) Aqui não vai ser preciso tão cedo :(
Bjs
Sofia
Gordo, que tal se está por aí? Quente e frio?
odeio chuva e frio! Volta rápido, Prima Vera! :-)
Sr Engº... grande viagem! Muito bom o texto. Fica bem! Bom trabalho aí por terras mais a sul!
Jinhos
Luísa (de Beja Sr Engº...) ;)
Lindo o texto, André... Ao ler, é como se tivessemos passado pelo que passaste. Sentimos tudo, impressionante :) Descrição perfeita.
Ficamos à espera de mais :D
Beijinhos
xuxu...um poeta...podes continuar a descricao e nao esquecas de ir ao pormenor quando descreveres uma goiaba...please!!
nao e anonimo...fui eu por engano carreguei na p...do anonimo!!!
Realmente gostei muito da tua história!!! Fico à espera de novas aventuras.
"que te vaya genial"
Beijinhos
Tanit
Excelente regresso André! Já sentia saudades destes textos. Ainda um dia vou estar, de livro na mão, na fila dos autógrafos ...
Continue.
Beijinhos duma "velha" colega do IGP.
MTeresa
E um bocadinho de sol para a malta em Portugal?
Não consegues arranjar nada por aí?
Estamos fartos de chuva e um pouco de calor e sol seriam sempre bem vindos!!
Bom trabalho e continua com textos deste calibre, a culpa é tua, depois desta 1ª amostra não nos contentamos com coisa pouca!!!
Abraço
Ao ler o teu escrito, quase que transpirei tb......muito bom :)
Tudo isso MANO, é Africa!!!!
AP
Entre o frio húmido e frio e esse calor abrasador há-de ser o paraíso.
beijinhos
Diz aí ao sol para emigrar durante uns dias para aqui... estamos a precisar! :)
Belo texto... já tínhamos saudades da Tertúlia!
Nota-se que estás feliz e isso é o mais importante!
Beijinhos!
Quando ha mais, Andrezito?
Que regresso em grande! Paradoxalmente, fico contente com o teu regresso a Africa. Vale sempre mais um reencontro que uma despedida e este reencontro com a Tertúlia é deveras saboroso!
Alguem aqui comentou que transpirou ao ler o post, pois eu senti exactamente o mesmo.
Cá vai um abraço de Lisboa e até breve companheiro!
Acho que só falta a banda sonora...
sugestão: http://www.youtube.com/watch?v=SdPsJw5DVJA
Boa sorte e curte aí
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