6 de maio de 2010

Praia armadilhada

Fiz a primeira incursão à “minha praia”, aquela que fica a menos de 100 metros da minha porta. Entusiasmado a andar pelo matagal, perguntei a um guarda o caminho, pois não estava muito definido. Não estava à espera duma passadeira de madeira, com bancos de jardim em redor, crianças a brincar e bancas a vender jornais e gelados, mas achei estranho o caminho estar tão camuflado pelo desleixado crescimento do mato.

O guarda ainda teve tempo de me dizer: “eu gosto muito dos portugueses, ensinaram-me muita coisa!”. Sem entrar em saudosismos da história, não deixa de ser uma observação que me deixa contente. “Eu também gosto de Moçambique, por isso é que vivo cá”, retribui eu sinceramente. A caminho da praia prometida, nas escadas, vejo muita mosca e sou recebido pelas primeiras baforadas de mau cheiro.” Mas…que porra é esta?” – imaginei-me a pensar, mas apenas pensei “oh não…será que…?”. Entrando pela praia adentro a suspeita ganhou corpo e cheiro.

A praia serve de casa de banho. A maré vazia não ajudou e a visita fez-se sempre com uma expressão facial de quem tenta não respirar, mas é obrigado pelas evidências biológicas.

De regresso comentei com o mesmo guarda: “a praia cheira um pouco mal…”, tentando ser diplomaticamente correcto e, deixando a batata quente do lado dele, sacar alguma informação. E obtive-a, clara e prontamente: “Pois, sabe, é que a praia serve para atender as necessidades das pessoas do bairro que não têm latrinas”. No escalão de escoamento de necessidades há esgotos, há fossas, há latrinas e há a praia!

Dum lado a praia parecia bonita, com pequenas falésias verdejantes e rochas que polvilham a praia, dando-lhe um toque selvagem. Do outro lado um registo geológico assaz invulgar. Cristalizações de plástico e “fragmentites” de papel formam uma escarpa do período jurássico do comportamento humano.
Não tenho a mania da perseguição, mas agora desconfio dos leitores da Tertúlia! Vocês agoiraram por inveja?

8 comentários:

Joana disse...

Epá, desconfiar dos leitores, isso não. Nós até temos inveja mas gostamos mais quando te vemos em fotografias na água límpida a banhares-te ou a beber um Laurentina enquanto douras ao sol na areia limpa e branca.

;-)

Pascoal disse...

Mas a água não está assim pois não????

Se não estiver é simples.... Arranjas um passadiço para a areia, não vá pisares algum submarino fecal, depois arranjas uma mascara daquelas que os policias utilizam nas manifs por causa dos gases lacrimogeneo, em seguida trazes uma arca com buja e não sais de dentro de agua, tendo sempre a vista na linha do horizonte! Vais ver que rapidamente te esqueces que a praia tá cheia de merda!!! :-)))

Anónimo disse...

Agoirar agoiramos! :p

Mas esperavamos apenas uma chuva tropical ou assim, nada que influenciasse directamente o teu bem-estar.

Mais um desafio, e que tal mobilizar uma "limpeza" de parte da praia, que desse só para passar até à agua! Já era qq coisa..

E sim, o ideia é olhar apenas para o horizontes azul e passar calçado a areia!

Abraço Tertuliante

Isa disse...

Nãaaao! E temos a certeza que em breve descobrirás a tua praia :)

Matias Fernandez disse...

podes sempre arriscar nadar nessa agua! tens é que o fazer de boca fechada não vá engolires algum pirolito! :-)))

Sara disse...

ahahahahaha...nos agoirar??? que feio....
ja agora concordo com o acacio...mas poe as barbatanas nao va escorregar na passadeira.....e o fato!!!!! ahahahahah...cada um tem o que merece!!!
<3<3<3

grila disse...

nunca escrevi nenhum comentário mas leio sempre as tuas crónicas... é como ver o Travel Channel:-), por isso nada de agoirar... pois assim aproveitas e praticas um cadito de pólo!!!!bjs

"Ninguém" ou "metade de dois ninguéns" disse...

Palavras que começam a fazer emergir algumas realidades que parecia não existirem por aí, parecia tudo tão bom, tão perfeito, tão paradisíaco, um deslumbramento, em perfeito contraste com este imperfeito rectângulo que deixaste, à beira-mar definhando, onde confundiste aquele ouro com pechisbeque; várias teias de aranha devem ter ofuscado o seu esplendor e te impediram de ver como era intenso e diferente o brilho daquele metal nobre!
O sol de Moçambique também é intenso, será dádiva divina? Todos estes textos fazem pensar que sim. Ainda bem!
Bj
A.M.