Imaginem
que Portugal incluía a Galiza. Isto sem nenhum objetivo de reescrever a
história do condado Portucalense ou gerar um alerta diplomático. É apenas um
exercício geográfico. Se Portugal inclui-se a Galiza daria aproximadamente a
mesma área que Niassa, uma das 10 províncias de Moçambique. Continuando o
exercício, retirem 9 em cada 10 pessoas de Portugal (sugiro que comecem pelos
políticos) e assim teríamos o cenário de Niassa: um vasto e selvagem deserto.
Mapa retirado daqui
Abrange o Lago
Niassa, a reserva nacional e uma paisagem que, na época das chuvas nos faz
lembrar a Suiça. Tudo é verde. Nesta época até o musgo cobre o cinzento sem
graça das rochas. Os rios abundam de água alimentando as pequenas machambas nas
margens.
E porque não há
agricultura massiva no Niassa? Eu não estudei o assunto, falo de cor, mas vejo
dois motivos:
1) No Niassa,
repito, uma área igual às áreas de Portugal e da Galiza, existem sensivelmente
400Km de estrada alcatroada;
2) Com uma
densidade populacional de 9 pessoas por Km2 (Portugal tem 114 pessoas na mesma
área) há muito espaço para animais selvagens, daqueles pouco amigáveis e com
muita fome.
Percorri
uma estrada de 300 Km num alcatrão impecável, imaculado desde o tempo colonial,
ligando as cidades de Lichinga e Marrupa. Conduz-se numa solidão que não é
normal em Moçambique. No resto do país há sempre pessoas que caminham nas
bermas e as aldeias vão-se seguindo umas às outras com regularidade. Nesta
estrada? Percorremos 300Km e cruzámo-nos com 5 carros. O mesmo que ir de Lisboa
ao Porto. Imaginam o que seria? Na minha opinião um luxo. Um luxo já só
alcançável em alguns locais da Terra. O Niassa, por enquanto, é um deles...
Depois estava
reservada uma estrada de 240 Km de terra batida, no tempo seco. Na época das
chuvas é o mesmo que andar com o carro em cima de barro por moldar. A uma média
de 50 Km/h dá para tudo, sentir a paisagem, sentir os buracos, sentir que
estamos num local remoto, sentir cansados, sentir...
Qualquer
uma das estradas, uma em condições, outra aos trambolhões, atravessam o
corredor da Reserva Nacional do Niassa
que, já que estamos em comparações geográficas, é
maior que a Suiça! Em termos de bicharada não tive muita sorte, mas acreditei
sempre, acreditei até ao fim, até me aperceber que tinha chegado à cidade e que
estava no cenário errado para acreditar! Mas não tenho a culpa. Principalmente
ao atravessar o corredor fui agitado pela ânsia ao ver placas de animais ou
fezes em plena estrada. O cenário alimenta a expectativa de poder cruzar com um
animal, de se cruzar à nossa frente e talvez, na minha mais descontrolada
loucura, pousar para uma fotografia. Mas sou parvo, eu sei. Numa imensidão
destas qual é a probabilidade de me cruzar com um elefante? A mesma que ganhar
o totoloto?
Vi e fotografei
um grupo de macacos em plena estrada.
Vi fezes
relativamente frescas de elefante na estrada. Mas essas, perdoem-me, por
motivos de orgulho, não fotografei...
5 comentários:
levas uma vida de verdadeiro geógrafo!o que mais gostei foi da descrição da viagem na terra batida. Algo que já não acontece aqui. As pessoas não querem viajar. Hoje toda a gente quer chegar mas viajar é uma chatice!
O André andou 300 km e cruzou-se com 5 carros - porque apanhou a hora de ponta num dia particularmente movimentado. Eu estive 27 horas à beira da estrada e cruzei-me com... zero! E estava a tentar apanhar uma boleia... Deixo este esclarecimento, não vá alguém estar com ideias de ir atravessar o Niassa à boleia. Sim, porque há gente com cada ideia!...
Eu tambem quero ir para ali!!!
Nao fotografaste cócó de elefante porquê? Snobeira? :)
Afinal ainda existem lugares paradisíacos!!
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