4 de abril de 2012

O grande Niassa


Imaginem que Portugal incluía a Galiza. Isto sem nenhum objetivo de reescrever a história do condado Portucalense ou gerar um alerta diplomático. É apenas um exercício geográfico. Se Portugal inclui-se a Galiza daria aproximadamente a mesma área que Niassa, uma das 10 províncias de Moçambique. Continuando o exercício, retirem 9 em cada 10 pessoas de Portugal (sugiro que comecem pelos políticos) e assim teríamos o cenário de Niassa: um vasto e selvagem deserto.

Mapa retirado daqui 

Abrange o Lago Niassa, a reserva nacional e uma paisagem que, na época das chuvas nos faz lembrar a Suiça. Tudo é verde. Nesta época até o musgo cobre o cinzento sem graça das rochas. Os rios abundam de água alimentando as pequenas machambas nas margens.





E porque não há agricultura massiva no Niassa? Eu não estudei o assunto, falo de cor, mas vejo dois motivos:

1) No Niassa, repito, uma área igual às áreas de Portugal e da Galiza, existem sensivelmente 400Km de estrada alcatroada;
2) Com uma densidade populacional de 9 pessoas por Km2 (Portugal tem 114 pessoas na mesma área) há muito espaço para animais selvagens, daqueles pouco amigáveis e com muita fome.



Percorri uma estrada de 300 Km num alcatrão impecável, imaculado desde o tempo colonial, ligando as cidades de Lichinga e Marrupa. Conduz-se numa solidão que não é normal em Moçambique. No resto do país há sempre pessoas que caminham nas bermas e as aldeias vão-se seguindo umas às outras com regularidade. Nesta estrada? Percorremos 300Km e cruzámo-nos com 5 carros. O mesmo que ir de Lisboa ao Porto. Imaginam o que seria? Na minha opinião um luxo. Um luxo já só alcançável em alguns locais da Terra. O Niassa, por enquanto, é um deles... 



Depois estava reservada uma estrada de 240 Km de terra batida, no tempo seco. Na época das chuvas é o mesmo que andar com o carro em cima de barro por moldar. A uma média de 50 Km/h dá para tudo, sentir a paisagem, sentir os buracos, sentir que estamos num local remoto, sentir cansados, sentir...



Qualquer uma das estradas, uma em condições, outra aos trambolhões, atravessam o corredor da Reserva Nacional do Niassa que, já que estamos em comparações geográficas, é maior que a Suiça! Em termos de bicharada não tive muita sorte, mas acreditei sempre, acreditei até ao fim, até me aperceber que tinha chegado à cidade e que estava no cenário errado para acreditar! Mas não tenho a culpa. Principalmente ao atravessar o corredor fui agitado pela ânsia ao ver placas de animais ou fezes em plena estrada. O cenário alimenta a expectativa de poder cruzar com um animal, de se cruzar à nossa frente e talvez, na minha mais descontrolada loucura, pousar para uma fotografia. Mas sou parvo, eu sei. Numa imensidão destas qual é a probabilidade de me cruzar com um elefante? A mesma que ganhar o totoloto?




Vi e fotografei um grupo de macacos em plena estrada.
Vi fezes relativamente frescas de elefante na estrada. Mas essas, perdoem-me, por motivos de orgulho, não fotografei... 




5 comentários:

rodrigo disse...

levas uma vida de verdadeiro geógrafo!o que mais gostei foi da descrição da viagem na terra batida. Algo que já não acontece aqui. As pessoas não querem viajar. Hoje toda a gente quer chegar mas viajar é uma chatice!

Miguta Água Silva disse...

O André andou 300 km e cruzou-se com 5 carros - porque apanhou a hora de ponta num dia particularmente movimentado. Eu estive 27 horas à beira da estrada e cruzei-me com... zero! E estava a tentar apanhar uma boleia... Deixo este esclarecimento, não vá alguém estar com ideias de ir atravessar o Niassa à boleia. Sim, porque há gente com cada ideia!...

KKul disse...

Eu tambem quero ir para ali!!!

Bichocao disse...

Nao fotografaste cócó de elefante porquê? Snobeira? :)

Joana disse...

Afinal ainda existem lugares paradisíacos!!