30 de outubro de 2018

Expressões expressivamente expressivas II


A pedido de várias famílias, as expressões expressivamente expressivas expressam-se numa expressão expressa de 2º volume.
No 1º volume referi que “Se não te conhecesse, constituirias parto”, mas com leitores tão entusiastas “onde há manobra, sempre há espaço”. E porque “O que abunda não prejudica”, esta lista de expressões arrisca-se a ser aberta, ilimitada. Sinto-me “Mais ou menos normal“ e “Já bebi água de pé” com a primeira trovoada tropical, de que tinha tanta saudade.  Quanto à inspiração para escrever há dias em que “vou na tua casa e te encontro enquanto não estavas” e tristemente “desconsigo”.
Há outros dias em que muito depois do lá,  Láaaaaaa” nos confins do labirinto cerebral, surgem ideias e, com os contributos que foram feitos, justifica-se mais um leque de expressões de ADN Moçambicano. E depois deste post digo tão simplesmente…“Hei-de vir”.


1.    “Não sei do seu lado”. Numa Era em que muitas vezes o cumprimento matinal sai de forma arrastada “hhmmdia”, em Moçambique costuma haver tempo para um cumprimento prolongado , dedicado. Na verdade são apenas 10 segundos do dia que, condimentados com um sorriso, só trarão boas energias à jornada:

- Bom dia, como está?
- Estou bem, “não sei do seu lado” – querendo retribuir a simpatia e saber igualmente como está o primeiro interlocutor
- Vai-se andando, obrigado – e termina o diálogo

            Tão simples e tão mais agradável…


2.    “Ainda”. “Ainda” sem não à frente, para simplificar. Se “ainda” e “não” andam sempre juntas, porque não omitir o “não”? O “ainda” reflecte um processo em curso, ainda não acabado:

Pergunta 1: Já parou de chover?
Resposta 1: Ainda...

P2: Comida já está pronta?
R2: Ainda…

P3: Podemos ir agora?
R3: Ainda…
           
            Simplifica, certo?
Só custa receber o “ainda” quando abordamos alguma instituição em busca da emissão do nosso documento e recebemos um preguiçoso e indisposto “aaaaiiinda”, sem mais nenhuma esperança…


3.    “Txonado” – é estar sem dinheiro. Naquela fase do mês em que o cinto está apertado, com dinâmica financeira muito reduzida, a aguardar pelo dia de pagamento. 

4.    “Txunado” – curiosamente, e com a mudança de apenas uma letra, o “txunado” é aquele ou aquilo que está aprumado, com requinte, bem apresentado.

Será coincidência a mudança de espectro com a alteração duma letra apenas, ou dará jeito confundir o ouvinte na expressão oral?

5.    “Fala mais que a boca” usa-se basicamente quando uma pessoa fala muito, mas não diz nada. Não deixo de achar especial graça a esta expressão, comparando o volume excessivo de palavras com a secção labial que forma a boca. Imagino que alguém que fala mais que a boca vomita sem se poder distinguir nem aproveitar nada que foi deitado fora.

6.    “Incomodado”. Uma das mais discretas formas de dizer que se esteve doente. Às vezes é difícil dizer como se esteve doente e quando descrevemos os sintomas ao chefe, ele não acha nada que isso seja doença e classifica-a como ronha. Outras vezes são os amigos a descrever que estiveram muito mal, detalhando em demasia as dores ou sintomas que dispensávamos muito bem. “Estive incomodado”, quando não há condições de sairmos de casa, descreve tudo, sem detalhes desnecessários, sem invasão de nenhuma das suscetibilidades. Curto, explicativo e inócuo.

7.    “Sentar”. Não, não é o verbo transitivo de “colocar em assento” ou o verbo pronominalde “tomar lugar” ou “colocar-se”,  que a Tertúlia não é um dicionário convencional. Sentar é um acto social, profissional ou de lazer.

Quando se diz entre colegas que temos que “sentar” é porque o assunto requer reflexão e não se pode decidir num corredor, de ânimo leve.
Entre amigos o “sentar” já significa conviver, de preferência bebendo ou comendo algo. O seu expoente máximo é quando se faz uma “sentada” ao Domingo, num daqueles almoços sem hora nem gargalhada para acabar.

“Sentar” significa ter tempo para…
  
8.    “Até ontem”. Ouvi tantas vezes: “até ontem não vi”, “até ontem não soube de nada”, “até ontem não foi feito”, “até ontem não aconteceu”, que comecei a questionar-me: porquê até ontem, se estamos a falar hoje? Resolvi perguntar o porquê do “ontem”. Obtive como resposta: “porque hoje ainda não acabou, e ainda pode acontecer”. Sentido de presença muito apurado! Entendido…
  
9.    “Dar voltas”. Dar voltas tanto pode ser fisicamente, como dentro da própria cabeça. Significa andar em rodeios e não alinhar com a direcção certa. Dar voltas é perder tempo, o que nem sempre é óbvio, pois com algumas voltas pode-se aprender algumas coisas…

1 comentário:

Sara disse...

�������������� adoro