Não nos sentimos bem por qualquer
motivo e vamos ao médico, mas a medicina convencional dá imenso trabalho.
Qualquer sintoma tem que ser devidamente diagnosticado, fazer análises, esperar
a vez, estar em jejum, entrar em máquinas assustadoras, certificar que o seguro
cobre o que precisamos, consultar um especialista e outro médico para ter 2ª
opinião, recear o tratamento, pedir conselhos, duvidar e aceitar…para no fim, levar
para casa um saquinho cheio de medicamentos.
Veja as maravilhas duma ciência
com ambições de exacta. A solução imediata, sussurrada ao ouvido do ego, para
problemas do dia a dia, que tocam a todos os seres humanos.
A promessa é de resolver rapidamente
dificuldades palpáveis que levarão ao caminho da satisfação. Repare que nenhum curandeiro
nos promete a felicidade, a generosidade ou a paz interior. Isso são
abstracções cujos alicerces pertencem à dimensão do obscuro. Não valerá a pena
pagar por isso, pensam alguns.
Haverá melhor que isto? Por uma
retribuição mais ou menos volumosa (dependendo dos objectivos), que pode
incluir dinheiro, cabritos ou roupa, o curandeiro faz magia a quem precisa de a
receber. Há mestria nestas ciências com ambições de exacta, não pense que são
um bando de charlatões. Se ninguém cortar as ervas daninhas elas irão proliferar…
Veja a enorme vantagem de ter
todos os médicos num único individuo, que atende com marcação prévia,
resolvendo qualquer e vários problemas duma assentada. Por um cabrito ou um
casaco digno somos atendidos com um punhado de sementes, penas de galinhas,
velas e discurso assertivo. E aqui é que me pergunto sempre: “onde está de
facto a cura? No curandeiro, ou na força de acreditar?”
Repare na ambiguidade de algumas promessas: i) “Controlar as traições do seu
parceiro”: significa o quê mesmo? Seleccionar a qualidade das amantes? ; ii) “Carteira mágica”: na magia já se
sabe, aparecem e desaparecem coisas ; iii)
E num comentário geral, o homem, parece que os problemas estão centrados no
homem e quase todas as curas são-lhe direccionadas.
Se não tivesse vivido de perto
com um caso dum curandeiro, diria que tudo é mentira. Hoje em dia digo, para
alguns casos, “respeito”, pois há tratamentos tradicionais relativamente
pacíficos, mesmo que não os entenda muito nem recorra a eles.
Noutro dia dizia-me um senhor,
por quem tenho muita estima e em quem confio, que já não conseguia arranjar
mulher. Depois dos primeiros encontros elas fugiam. Explicou-me que a ex-mulher
lhe tinha deixado um feitiço e que o corpo rejeitava novas conquistas. Céptico,
respeitando quem mo disse, tentava focar-me nos factos. Fiz algumas perguntas
mais técnicas sobre o assunto e nada, o efeito parecia estar dentro dele. Sem
explicação. Pediu-me ajuda para ir ao curandeiro e ajudei-o, sempre duvidando
sobre a escolha. Não entendia o sintoma, fazia-me confusão a consulta dum curandeiro,
mas queria ajudar aquela pessoa, muito querida para mim.
Metemo-nos no carro e depois de
mais de 200km percorridos, entrados num mato denso, todo igual até depois do
horizonte, pediu-me para ficar “naquela árvore ali”. Pediu-me que o viesse
buscar daí a 3 dias. Deixei-o, sem nenhuma pergunta, mas como havia milhares de
árvores iguais, pelo sim, pelo não, medi um ponto GPS, para me orientar no
regresso. Três dias depois lá estava ele, “naquela árvore ali”, com um sorriso
nos lábios e um cabrito pela trela, para me oferecer pelo apoio. Apenas
perguntei se tinha corrido bem. Ele disse que sim, sorrindo e pousando um olhar
esperançoso no horizonte. Eu nunca soube qual era o verdadeiro problema nem
qual foi a assertiva cura.
Uns tempos depois disse-me que estava tudo
resolvido. Que podia finalmente escolher uma companheira (escolher, veja o
luxo!). Mantive o silêncio de qualquer curiosidade. Estava feliz pela sua
felicidade. Ali à minha frente estava um problema resolvido, um homem feliz,
uma força de acreditar…
Há outros “tratamentos tradicionais” que ultrapassam a
irracionalidade, afectando a mente e todos os direitos possíveis, como as aberrações de colectar órgãos de
pessoas albinas, “pacientes” que morrem porque tinham o diabo no seu interior,
ou ter relações sexuais com virgens sob a promessa de limpar o VIH. Qual será a
força de acreditar nisto?
Pessoalmente, quando tenho alguma
maleita, continuo a preferir a medicina convencional, onde qualquer sintoma tem
que ser devidamente diagnosticado, fazer análises, esperar a vez, estar em
jejum, entrar em máquinas assustadoras, certificar que o seguro cobre o que
precisamos, consultar um especialista e outro médico para ter 2ª opinião, recear
o tratamento, pedir conselhos, duvidar e aceitar…para no fim, levar para casa
um saquinho cheio de medicamentos.
1 comentário:
Mais um exemplo da importância do sistema de posicionamento por satélite ...de nada servia o final feliz da historia se árvore não fosse "aquela ali" :D
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