O
problema inicial é simples: a distribuição de água em Maputo não tem pressão
para chegar ao 1º andar dum prédio. Acrescido a isto, o abastecimento não se
faz durante 24 horas do dia, mas apenas nalgumas horas, que variam consoante as
zonas da cidade.
Como
se supera o desafio de tomar banho no 3º andar? Graças a este objecto: a bomba
de água.
Uma
maquineta cujo nível de prioridade é elevadíssimo, podendo facilmente disputar
lugares do pódio com o fogão ou máquina de lavar roupa. Não chega a desenvolver
emoções amor/ódio, por se tratar duma relação Homem/máquina, mas é certamente um
mal necessário.
As
bombas, conjugadas com depósitos de água e respectivas boias, formam um
engenhoso circuito que garante o abastecimento de água às casas durante 24
horas. Depósitos em baixo e em cima do prédio, bombas que empurram, bombas que
puxam, bombas que dão pressão e a água não para de aparecer nas torneiras da
casa. Isto é em si um luxo magnifico de saborear.
As
bombas são barulhentas e vibram, se forem instaladas junto à estrutura do
prédio. O seu funcionamento por vezes faz lembrar um suave berbequim de barulho
metálico, outras vezes faz lembrar uma picareta prestes a entrar-nos em casa.
Tudo depende da sua instalação…
Até
aqui, tudo mais ou menos bem: a rede abastece água umas horas durante a noite,
os tanques acumulam água até ao próximo abastecimento e as bombas colocam o
precioso líquido nas nossas torneiras.
Mas
como a criatividade humana não tem limites, muitos são os esquemas de desviar
água depois dos contadores (dos outros, naturalmente). Vi a aplicação da famosa
“puxada” no circuito de água, que normalmente se associa aos fios eléctricos.
Numa
das casas em que vivemos aqui em Maputo, o inquilino que lá vivia antes alertou-nos
para o custo excessivo de água daquela casa. Estranhando a situação, fiz uma
vistoria completa ao circuito da água. Não demorou até descobrir a engenharia
do desvio de água, sorrateiramente instalada nos depósitos do telhado do
prédio. Havia duas puxadas furadas nos tanques que desviavam a água de forma
descarada. Assim, uma bomba de água (e o respectivo contador) alimentavam 3
tanques (3 casas) em vez de 1.
Naturalmente a bomba queimou por excesso de
esforço!
No
que diz respeito às avarias, entra-se numa série com um número ilimitado de
temporadas. Seja a boia que não dá sinal à bomba, seja a bomba de baixo que não
puxa, seja a bomba de cima que não empurra, seja a água da rede que naquela
noite não veio, seja a bomba que ganha ar e encrava, seja a electricidade que
falta e a bomba pára…muitos são os motivos para que esta engenhoca possa
falhar.
Não
sei se já experienciei todo o tipo de avarias, mas já fiquei várias vezes sem
água.
No
fim das contas há uma relação de dependência com estas infernais e barulhentas
bombas, uma relação de aceitação com os enormes tanques e uma relação de
ralação com possíveis esquemas de roubo de água.
Mesmo
agora que vos escrevo, ouço a bomba a trabalhar e sinto o vibrar dela nas
paredes. Gostaria de a ter mais silenciosa ou, idealmente, não a ter. Mas se as
bombas não fizessem barulho, e os tanques não dessem trabalho, estaríamos a
carregar baldes à hora de abastecimento da rede e isso seria definitivamente
mais aborrecido.
Vive-se
com mais um electrodoméstico bastante útil, é o que é…
1 comentário:
Imgino que vocês às tantas se habituem mas eu fiquei sem palavras! A gente nem se lemvra aqui em Portugal dos constrangimentos que vocês devem passsar!...
Sara Palhinha
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