29 de dezembro de 2019

Bomba de água

O problema inicial é simples: a distribuição de água em Maputo não tem pressão para chegar ao 1º andar dum prédio. Acrescido a isto, o abastecimento não se faz durante 24 horas do dia, mas apenas nalgumas horas, que variam consoante as zonas da cidade.

Como se supera o desafio de tomar banho no 3º andar? Graças a este objecto: a bomba de água.


Uma maquineta cujo nível de prioridade é elevadíssimo, podendo facilmente disputar lugares do pódio com o fogão ou máquina de lavar roupa. Não chega a desenvolver emoções amor/ódio, por se tratar duma relação Homem/máquina, mas é certamente um mal necessário.

As bombas, conjugadas com depósitos de água e respectivas boias, formam um engenhoso circuito que garante o abastecimento de água às casas durante 24 horas. Depósitos em baixo e em cima do prédio, bombas que empurram, bombas que puxam, bombas que dão pressão e a água não para de aparecer nas torneiras da casa. Isto é em si um luxo magnifico de saborear.


As bombas são barulhentas e vibram, se forem instaladas junto à estrutura do prédio. O seu funcionamento por vezes faz lembrar um suave berbequim de barulho metálico, outras vezes faz lembrar uma picareta prestes a entrar-nos em casa. Tudo depende da sua instalação…



Até aqui, tudo mais ou menos bem: a rede abastece água umas horas durante a noite, os tanques acumulam água até ao próximo abastecimento e as bombas colocam o precioso líquido nas nossas torneiras.

Mas como a criatividade humana não tem limites, muitos são os esquemas de desviar água depois dos contadores (dos outros, naturalmente). Vi a aplicação da famosa “puxada” no circuito de água, que normalmente se associa aos fios eléctricos.


Numa das casas em que vivemos aqui em Maputo, o inquilino que lá vivia antes alertou-nos para o custo excessivo de água daquela casa. Estranhando a situação, fiz uma vistoria completa ao circuito da água. Não demorou até descobrir a engenharia do desvio de água, sorrateiramente instalada nos depósitos do telhado do prédio. Havia duas puxadas furadas nos tanques que desviavam a água de forma descarada. Assim, uma bomba de água (e o respectivo contador) alimentavam 3 tanques (3 casas) em vez de 1.

Naturalmente a bomba queimou por excesso de esforço!


No que diz respeito às avarias, entra-se numa série com um número ilimitado de temporadas. Seja a boia que não dá sinal à bomba, seja a bomba de baixo que não puxa, seja a bomba de cima que não empurra, seja a água da rede que naquela noite não veio, seja a bomba que ganha ar e encrava, seja a electricidade que falta e a bomba pára…muitos são os motivos para que esta engenhoca possa falhar.

Não sei se já experienciei todo o tipo de avarias, mas já fiquei várias vezes sem água.

No fim das contas há uma relação de dependência com estas infernais e barulhentas bombas, uma relação de aceitação com os enormes tanques e uma relação de ralação com possíveis esquemas de roubo de água. 


Mesmo agora que vos escrevo, ouço a bomba a trabalhar e sinto o vibrar dela nas paredes. Gostaria de a ter mais silenciosa ou, idealmente, não a ter. Mas se as bombas não fizessem barulho, e os tanques não dessem trabalho, estaríamos a carregar baldes à hora de abastecimento da rede e isso seria definitivamente mais aborrecido.

Vive-se com mais um electrodoméstico bastante útil, é o que é…

1 comentário:

Sara Palhinha disse...

Imgino que vocês às tantas se habituem mas eu fiquei sem palavras! A gente nem se lemvra aqui em Portugal dos constrangimentos que vocês devem passsar!...

Sara Palhinha