11 de janeiro de 2022

Magia de África

Talvez o título tenha uma dimensão a que o texto não faça justiça, mas é um assunto que devo falar aqui. A magia de África está presente todos os dias, mas nem sempre é fácil verbalizar. São coincidências felizes que trazem uma solução inesperada. Um balanço positivo naqueles cenários mais hostis, onde o final menos feliz é quase certo.

Esta história passa-se numa estrada, para lá do muito longe, a caminho duma terra distante. Uma daquelas estradas onde se pode conduzir durante várias horas sem ver qualquer outro carro. Como essas estradas normalmente não são de alcatrão, habituei-me a conduzir com a tração do carro ligada às 4 rodas, para melhorar a aderência à areia, lama ou gravilha, conforme o caso.

Como o fabricante garantia que podia usar o 4x4 até aos 100Km/h, a condição era mais do que suficiente porque os 70Km/h já eram uma miragem. Nunca me dei mal…até um certo dia.

Já ia com 2 horas de viagem, sem ver qualquer carro, e começou-me a cheirar a queimado…intenso, mas sem fumo. Os meus conhecimentos de mecânica não vão muito além da óptica do condutor, por isso, naquele cenário, comecei a ficar preocupado. Uma avaria séria ali significaria dormir no mato e caminhar durante horas para ter rede de telemóvel e pedir ajuda. Ajuda que chegaria, na melhor das hipóteses em 24 horas.

No painel do carro tudo normal. Comportamento do carro normal. Cheiro não desarmava.

Quando pensei em parar, para fazer não sei muito bem o quê, vejo uma mini bus parada na berma da estrada, a pedir ajuda. Nem pensei em esquema. Aquele lugar era demasiado remoto para alguém estacionar e esperar um golpe a um carro que podia demorar vários dias a passar.

Naquele lugar remoto o instinto é ajudar. E assim fiz. Nem pensei na remota probabilidade de estar perante outro carro. Senti que estava a ser assistido pela Magia de África, não havia dúvida!

O senhor veio à minha janela a pedir boleia para ir buscar combustível e enquanto falávamos ele detectou o cheiro. Disse-me “o teu carro cheira muito mal”. Sem tempo para eu responder, ele desapareceu num ápice para debaixo do carro para inspecionar o motor.

Voltou à minha janela e perguntou se tinha a tração ligada às 4 rodas. Quando lhe disse que sim, avisou-me que o carro estava a perder muito óleo e arriscava gripar o motor nos próximos quilómetros. “Gripar o motor aqui é uma avaria para lá de séria!!”, pensei…

- O que posso fazer? – perguntei em pânico, sem querer mostrar

- Desliga a tração e podemos ir – disse o meu anjo mecânico

- Ai é? OK. Entra no carro, vou-te levar à bomba mais próxima.

Os restantes 700km foram feito em paz, com o carro em condições, são e salvo.

O que correu mal nunca percebi. O que correu bem, ainda hoje me lembro! Esta bela demonstração da Magia de África fez a diferença, numa estrada deserta, entre ficar com o motor gripado ou chegar a casa tranquilo…

2 comentários:

Sara disse...

Faz-me muito bem ler os teus trechos….volto a África 😘

Isa disse...

Há esperança na humanidade <3 Bjs, bom ano :D