Talvez o título tenha uma dimensão a que o texto não faça justiça, mas é um assunto que devo falar aqui. A magia de África está presente todos os dias, mas nem sempre é fácil verbalizar. São coincidências felizes que trazem uma solução inesperada. Um balanço positivo naqueles cenários mais hostis, onde o final menos feliz é quase certo.
Esta
história passa-se numa estrada, para lá do muito longe, a caminho duma terra
distante. Uma daquelas estradas onde se pode conduzir durante várias horas sem
ver qualquer outro carro. Como essas estradas normalmente não são de alcatrão,
habituei-me a conduzir com a tração do carro ligada às 4 rodas, para melhorar a
aderência à areia, lama ou gravilha, conforme o caso.
Como
o fabricante garantia que podia usar o 4x4 até aos 100Km/h, a condição era mais
do que suficiente porque os 70Km/h já eram uma miragem. Nunca me dei mal…até um
certo dia.
Já
ia com 2 horas de viagem, sem ver qualquer carro, e começou-me a cheirar a
queimado…intenso, mas sem fumo. Os meus conhecimentos de mecânica não vão muito
além da óptica do condutor, por isso, naquele cenário, comecei a ficar
preocupado. Uma avaria séria ali significaria dormir no mato e caminhar durante
horas para ter rede de telemóvel e pedir ajuda. Ajuda que chegaria, na melhor
das hipóteses em 24 horas.
No
painel do carro tudo normal. Comportamento do carro normal. Cheiro não
desarmava.
Quando
pensei em parar, para fazer não sei muito bem o quê, vejo uma mini bus parada
na berma da estrada, a pedir ajuda. Nem pensei em esquema. Aquele lugar era
demasiado remoto para alguém estacionar e esperar um golpe a um carro que podia
demorar vários dias a passar.
Naquele lugar remoto o instinto é ajudar. E assim fiz. Nem pensei na remota probabilidade de estar perante outro carro. Senti que estava a ser assistido pela Magia de África, não havia dúvida!
O senhor veio à minha janela a
pedir boleia para ir buscar combustível e enquanto falávamos ele detectou o
cheiro. Disse-me “o teu carro cheira muito mal”. Sem tempo para eu responder,
ele desapareceu num ápice para debaixo do carro para inspecionar o motor.
Voltou
à minha janela e perguntou se tinha a tração ligada às 4 rodas. Quando lhe
disse que sim, avisou-me que o carro estava a perder muito óleo e arriscava
gripar o motor nos próximos quilómetros. “Gripar
o motor aqui é uma avaria para lá de séria!!”, pensei…
- O
que posso fazer? – perguntei em pânico, sem querer mostrar
-
Desliga a tração e podemos ir – disse o meu anjo mecânico
- Ai
é? OK. Entra no carro, vou-te levar à bomba mais próxima.
Os
restantes 700km foram feito em paz, com o carro em condições, são e salvo.
O que correu mal nunca percebi. O que correu bem, ainda hoje me lembro! Esta
bela demonstração da Magia de África fez a diferença, numa estrada deserta,
entre ficar com o motor gripado ou chegar a casa tranquilo…
2 comentários:
Faz-me muito bem ler os teus trechos….volto a África 😘
Há esperança na humanidade <3 Bjs, bom ano :D
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