Acampar não era uma novidade, mas acampar directamente na
praia em modo selvagem era uma nova aventura para os meus filhos.
Para introduzir esta aventura à Bia e ao Leo decidi que
montaríamos a tenda na praia ao final do dia, perto de casa, a poucos metros da
água, de maneira a termos um harmonioso som de fundo durante a noite.
A montagem da tenda decorreu com envolvente entusiasmo,
analisando em conjunto o melhor local, avaliando vista, segurança, protecção do
vento, entre outras variáveis. Sim,
costumo ser meticuloso na escolha do local de montagem da tenda e quero ver se
ele absorvem algumas das técnicas. A Bia enchia o colchão, o Leo garantia a
solidez da estrutura.
O local da tenda dificilmente seria melhor.
Como se tratava de um exercício introdutório ao acampamento
selvagem, recolhemos a casa para jantar e lavar os dentes.
À noite reunimos a logística necessária: cobertores,
lanternas, livros e fato de banho para o mergulho matinal do dia seguinte. O
entusiasmo continuava, até ao momento de sair de casa, deixando a iluminação e
o conforto.
Quando abrimos a porta a Bia apercebeu-se que as escadas
que, de dia, nos levam à praia, agora pareciam um caminho demasiado abrupto
para o abismo. Assustou-se com o pequeno raio de iluminação da sua lanterna, deixando
enorme margem ao desconhecido. Lançou um alerta de pânico e regressamos todos a
casa agarrados à nossa logística.
Em casa, durante a negociação que tivemos, quis entender o
receio dela, mas não a deixando desistir da aventura. Ela dizia que a tenda
estava muito longe, mergulhada num escuro assustador. Eu respondi que sim,
tirando o “assustador”. Ela nomeou uma lista (impressionante para a idade) de
potenciais perigos. Relaxei-a em relação a isso, pois conheço o local, consultei
ventos e marés e o cenário previa-se tranquilo. O Leo aguardava apenas o
veredicto, ainda agarrado à logística, querendo perceber onde poderia explorar
os livros com a sua lanterna.
Como último argumento disse-lhe, numa espécie de psicologia
inversa: “Se tens medo, não vale a pena insistir. Podemos ficar em casa e
amanhã desmontamos a tenda”. Ela respondeu: “papá, eu tenho medo, mas vou!”
Dentro de mim explodiram fogos-de-artifício de flores
coloridas. Percebi que naquele momento a Bia tinha crescido um pouco mais,
entendendo o seu medo e mesmo assim mostrando-se disposta ao desafio. Por fora
coloquei o ar mais neutro que consegui e reforcei:
- Tens a certeza Bia?
- Sim papá, vou com medo mas vou…
Aí fomos nós, eu a vibrar com a experiência que estava a dar
aos meus filhos, a Bia a enfrentar os muitos medos do escuro e o Leo a
descobrir o que se via durante a noite com a lanterna.
Já na tenda, numa noite particularmente escura, encontraram
a segurança no raio de luz das lanternas, habituando-se ao facto que o que não
se vê não é relevante. Mergulharam no desconhecido com a sua zona de conforto
iluminada.
Na tenda lemos livros e rimo-nos de nós próprios com a
logística que tínhamos levado. Querendo jogar pelo seguro, tínhamos levado
cobertores, meias e pijamas que começámos rapidamente a descartar. Bia e Leo
dormiram profundamente. Aqui que ninguém me ouve, confesso que demorei mais
tempo a adormecer, descartando internamente todos os potenciais perigos de
maneira a adormecer tranquilo e garantir segurança à expedição.
No dia seguinte, acordados pelo sol que já nasce quente no
horizonte, quis mostrar-lhes a vista maravilhosa da nossa janela à beira mar.
Os sorrisos deles valem todas as palavras que poderia
escrever…
8 comentários:
Vou e foi muito fixe!!
Eles estao lindos e o papá segue sendo herói. adorei, André. Bjo gd
Adoramos André e a Jute compreendeu muito bem o receio da Bia pois ainda hoje ela não gosta da escuridão… mas vai… beijos e abraços
Adorei ver o desenrolar desta aventura. Que valentes a Bia e o Leo. Beijinhos
Depois da poesia deste relato ate eu queria ter dormido na tenda......e ser a primeira a abrir a janela para o azul do mar.
Beijinhos grandes
AP
UAU! Que maravilha de FAMILIA,e de LIDER....BEIJOS GRANDES ZÈ E ZCARLOS
Ah sim, entendo muito bem a Bia! Só de pensar em baratas…,e escuro!
O que estas duas crianças têm conseguido desfrutar, é um privilégio sem dimensão!
As suas vidas tem sido tão diferentes, tão enriquecedoras, tão divertidas e, por vezes “um pouco assustadoras” 😛, coisas que as crianças citadinas nem podem imaginar!
São seguramente felizes, assim como os pais!
Quando o meu neto fôr um pouco mais velho, vou-lhe ler estes contos tão divertidos, educativos e que retratam a realidade, muito diferentes dos livrinhos para crianças de que dispomos que são apenas historiazinhas estereotipadas …
Beijinhos família linda 😘 😍
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